Um estudo de longa duração realizado na Dinamarca revelou dados surpreendentes sobre a relação entre o uso de cannabis e o declínio cognitivo relacionado à idade. A pesquisa, que acompanhou mais de 5.000 homens por décadas, indicou que o consumo de cannabis não apresentou efeitos prejudiciais significativos nesse processo. A constatação é surpreendente, considerando que estudos anteriores apontaram uma associação entre o uso de cannabis e alterações epigenéticas. Leia mais sobre a associação entre uso de cannabis e alterações epigenéticas neste outro estudo.
Metodologia da Pesquisa: Os pesquisadores da Universidade de Copenhague utilizaram dados do teste de inteligência obrigatório para homens dinamarqueses entre 18 e 26 anos. Um total de 5.162 participantes repetiram o teste por volta dos 64 anos, entre 35 e 53 anos após a primeira avaliação. Na segunda aplicação do teste, os participantes foram questionados sobre seu histórico de uso de cannabis. Aproximadamente 40% relataram ter experimentado a substância pelo menos uma vez; cerca de 10% se declararam usuários frequentes (pelo menos duas vezes por semana) por menos de uma década; e quase 12% foram usuários frequentes por uma década ou mais.
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Resultados Inesperados: Apesar de se saber que o uso de cannabis afeta temporariamente a memória, causando dificuldades de retenção e evocação de novas informações, os resultados mostraram que, mesmo considerando fatores como nível de escolaridade, tabagismo e consumo excessivo de álcool, os usuários de cannabis apresentaram um declínio cognitivo significativamente menor em comparação com os não usuários. A diferença observada foi de 1,3 pontos de QI a menos nos usuários de cannabis. É importante lembrar que outros estudos apontam para o impacto do declínio cognitivo em doenças como o Parkinson, veja aqui mais detalhes sobre uma nova droga que pode prevenir o declínio cognitivo na doença de Parkinson.
Cautela e Estudos Adicionais: Os autores do estudo, liderados pela cientista de saúde pública Kirstine Maarup Høeg, ressaltam a necessidade de cautela na interpretação dos dados. Embora a diferença seja modesta e possa não ter significância clínica, os resultados contrastam com os achados em relação ao tabagismo e ao consumo excessivo de álcool, fatores associados a um declínio cognitivo mais acelerado. A equipe explica que: "Among cannabis users, no significant association was found with cognitive decline for either age of initiation of cannabis use or frequent cannabis use."
Eles também reconhecem a necessidade de pesquisas adicionais para determinar se essa ausência de associação entre o uso de cannabis e o declínio cognitivo se deve à ausência de efeitos adversos ou se os efeitos são temporários e desaparecem após um período prolongado de abstinência. "Further studies are needed to investigate whether these findings reflect that there are no adverse effects on cognitive decline or that the effects of cannabis are temporary and disappear after a prolonged period of time," afirmam os autores em seu estudo publicado na revista Brain and Behavior.
Contexto Internacional e Limitações: Embora os resultados do estudo dinamarquês sejam consistentes com alguns estudos realizados em outras partes do mundo, como um estudo australiano de 2016 que não encontrou ligação entre declínio cognitivo e uso de cannabis em homens e mulheres de meia-idade, outras análises mostraram uma associação entre uso de cannabis e declínio cognitivo. É importante notar que o estudo dinamarquês considerou apenas homens e a maioria dos usuários de cannabis (cerca de 92%) não havia usado a droga no ano anterior ao teste de QI, limitando a generalização dos resultados para usuários frequentes em idades mais avançadas. Os pesquisadores enfatizam que: "Several studies suggest that the negative effects of cannabis on cognitive functions can be reversed with prolonged abstinence. Adverse effects were not apparent after three months of sustained abstinence, even in former heavy users, indicating that frequent cannabis use may not cause irreversible damage."
Considerações Finais: A popularidade da cannabis como droga recreativa contrasta com a escassez de conhecimento científico sobre seus efeitos a longo prazo na saúde, devido à sua situação legal em muitos países. Estudos como este são cruciais para fornecer informações mais completas sobre os potenciais impactos do consumo de cannabis na saúde cognitiva a longo prazo. A discussão sobre saúde mental, especialmente em relação a grupos vulneráveis, é fundamental. Saiba mais sobre a discussão sobre políticas públicas para a saúde mental de meninas e mulheres.