Pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) alcançaram um avanço significativo na área da construção civil sustentável. Coordenado pela professora Viviane Muniz, do Departamento de Engenharia Têxtil (DET/UFRN), o projeto desenvolveu um tijolo ecológico, conhecido como Hempcrete, utilizando resíduos da planta Cannabis.
A iniciativa, que visa explorar novas aplicações industriais para a planta, recebeu apoio financeiro da Fundação de Amparo e Promoção da Ciência, Tecnologia e Inovação do RN (Fapern) através do edital Nº 16/2022, destinado a pesquisas com Cannabis para fins terapêuticos e industriais.
O projeto foi financiado com recursos que totalizam R$300 mil, sendo R$150 mil provenientes de uma emenda parlamentar da Deputada Isolda Dantas, e outros R$150 mil do Fundo de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Fundet), gerenciado pela Fapern.
Segundo a professora Viviane Muniz, a ideia surgiu da necessidade de explorar alternativas para o uso da Cannabis além do âmbito farmacológico. “Quando surgiu o edital, fiquei pensando como poderia trabalhar com Cannabis sem que trouxesse um preconceito, onde eu pudesse fazer algo diferente e como a engenharia se encaixaria nesse meio”, afirma a professora, que buscou apoio da associação Reconstruir Cannabis, onde surgiu a ideia de reaproveitar o resíduo da planta.
O Hempcrete, desenvolvido a partir de barro e uma pequena quantidade de cimento, utiliza o caule seco triturado ou resíduos do extrato do óleo de Cannabis. Essa abordagem não apenas reduz o uso de materiais nocivos ao meio ambiente, mas também valoriza um subproduto que geralmente seria descartado. “O resíduo é uma coisa interessante porque você planta, colhe, produz o óleo e a Anvisa manda queimar o resíduo, que é um desperdício, no próprio ciclo podemos aproveitar tudo”, ressalta Muniz.
O Diretor Presidente da Fapern, Gilton Sampaio, destacou a importância da parceria com a UFRN no desenvolvimento de pesquisas que impulsionam o progresso econômico e social do estado. “Neste projeto, também contamos com a parceria com o mandato da deputada Isolda Dantas, que propôs uma emenda de R$150 mil para desenvolver pesquisas nessa temática”, declara Sampaio. Ele ressaltou ainda o potencial da pesquisa para uma construção civil mais sustentável, afirmando que a fundação está comprometida em desenvolver novas parcerias com a universidade.
O processo de produção dos tijolos ecológicos inicia-se com o tratamento e moagem dos resíduos ou do caule da planta. Após essa etapa, o material é misturado aos demais componentes do tijolo, prensado e moldado no formato final, para então passar pelo processo de secagem. De acordo com a professora Viviane, “o grande sucesso que temos é utilizar todo o resíduo e nada ser jogado fora. Então temos o ciclo de carbono perfeito, desde a cultura, fotossíntese, colheita, processo de obtenção do óleo, até usar os resíduos para os tijolos”.
Atualmente, a equipe de pesquisa está focada em determinar o tamanho ideal da fibra, seu teor e granulometria para otimizar as propriedades do tijolo. Os próximos passos incluem a produção de tijolos utilizando cal virgem. “A vantagem de fazer com cal é que conseguimos colocar mais fibra e ele fica um bloco bem mais rígido, passando a ser um tijolo estrutural, utilizado em construções mais resistentes”, explica a professora.
O objetivo final da pesquisa é apresentar uma alternativa viável para o setor da construção civil. “Estamos chegando nas proporções corretas para colocar esse tijolo dentro das normas. Agora a ideia é fazer um protótipo de construção para ser monitorado ao externo e fazer a medição do conforto térmico”, completa Viviane Muniz. A iniciativa, além de contribuir para a redução dos impactos ambientais, demonstra o aproveitamento integral da planta, fortalecendo a perspectiva de um futuro onde sustentabilidade e tecnologia caminham juntas.
Quer receber as principais notícias do Portal N10 no seu WhatsApp? Clique aqui e entre no nosso canal oficial.
