Em um desfecho surpreendente para o projeto ‘O Experimento Final’, diversos defensores da teoria da Terra Plana revisaram suas crenças após uma expedição à Antártida. Jeran Campanella, um proeminente teórico da Terra Plana e criador de conteúdo no YouTube, admitiu: “Às vezes, você está errado na vida. Eu achava que não existia sol 24 horas por dia, na verdade, tinha muita certeza disso.”
A expedição foi idealizada por Will Duffy, um pastor do Colorado, que reuniu criadores de conteúdo ‘globistas’ e ‘terraplanistas’ para um experimento prático: observar o comportamento do sol na Antártida e tentar “definir o formato da Terra” através da observação direta. A equipe viajou para o acampamento Union Glacier, uma instalação privada a 1.138 km do Polo Sul, para verificar se os relatos de um sol que não se põe eram fruto de uma conspiração ou de fenômenos físicos legítimos.
Ao longo da história, diversas culturas apresentaram visões distintas sobre o horizonte e a relação entre a terra e o céu. No século XIX, as crenças na Terra Plana ressurgiram, muitas vezes motivadas por convicções religiosas ou desconfiança em relação à autoridade acadêmica. Com o advento das redes sociais, a teoria ganhou força, formando comunidades de pessoas que questionam fatos científicos amplamente aceitos.
Jennifer Beckett, especialista em comunicação da Universidade de Melbourne, explicou: “Trata-se do poder do conhecimento e da crescente desconfiança em relação aos que considerávamos guardiões do saber – como acadêmicos, agências científicas ou o governo.” Ela abordou o tema em um artigo de 2019.
A maioria das descrições da Terra Plana precisa dar sentido a fenômenos como a mudança na posição do sol e a variação na altura de objetos no horizonte. Essas explicações precisam justificar como esses fenômenos acontecem caso a Terra fosse um grande disco com uma borda de gelo na Antártida.
Cientificamente, as variações sazonais do sol são claras. Devido à inclinação do eixo da Terra, os polos experimentam períodos alternados de sol constante e escuridão, à medida que o planeta orbita o Sol. A inclinação de 23 graus é responsável pelas duas estações distintas na Antártida, de acordo com informações da NASA-JPL/Caltech.
Para alguns defensores da Terra Plana, o sol da meia-noite na Antártida é um mistério que desafia a teoria de um disco plano. Jeran Campanella, como muitos outros, acreditava que o fenômeno simplesmente não existia. O principal objetivo da expedição era esclarecer os fatos e verificar se havia alguma conspiração por trás das alegações.
Durante a viagem, o criador de conteúdo do YouTube, Austin Whitsitt, admitiu que o Sol estava “fazendo o que disseram que faria, muito claramente.” No entanto, ele se mostrou reticente em abraçar a nova visão, afirmando que “não desaprova a Terra plana, não prova que a Terra é um globo, é apenas um ponto de dados isolado”.
A formação de crenças é complexa, combinando experiências pessoais com informações de pessoas em quem confiamos, para criar narrativas que não só explicam o que vemos, mas também se alinham com nossos valores. O ‘Experimento Final’ de Duffy surge como um exercício de construção de confiança e uma demonstração da importância de testar nossas convicções mais firmes quando há oportunidade.
A expedição de Duffy, apesar de ter obtido avanços na revisão de crenças, pode não ser definitiva para todos os participantes. No entanto, ele abre as portas para que seja feita uma série de novos debates sobre o tema.
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