Enquanto a Terra se prepara para o inverno, o hemisfério norte de Marte dá as boas-vindas à primavera, um período de intensas transformações. A mudança de estação no planeta vermelho não traz a calmaria do degelo terrestre, mas sim fenômenos impressionantes como avalanches de gelo, explosões de gás e a migração de dunas.
De acordo com Serina Diniega, pesquisadora do Jet Propulsion Laboratory da NASA, a atmosfera rarefeita de Marte impede que a água se acumule na superfície. Assim, o gelo não derrete, mas sublima, passando diretamente para o estado gasoso. Essa transição abrupta no início da primavera causa mudanças drásticas, com o gelo de água e o de dióxido de carbono, conhecido como gelo seco, enfraquecendo e se fragmentando.
“Em vez de um suave degelo como na Terra, tudo acontece com um estrondo em Marte”, afirma Diniega. “É possível imaginar o quão barulhento se torna.”
As câmeras e sensores da sonda Mars Reconnaissance Orbiter (MRO), em órbita desde 2005, têm capturado essas atividades, permitindo aos cientistas aprofundar a compreensão das forças que moldam a dinâmica superfície marciana. Alguns dos fenômenos mais marcantes incluem:
Avalanches de Gelo
Em 2015, a câmera High-Resolution Imaging Science Experiment (HiRISE) da MRO flagrou um bloco de 20 metros de largura de gelo seco em queda livre. Essas ocorrências, observadas esporadicamente, demonstram o quão diferente Marte é da Terra, especialmente na primavera, quando as mudanças na superfície são mais pronunciadas. Diniega enfatiza a importância da MRO para registrar eventos dramáticos como essas avalanches, observadas ao longo de quase duas décadas.
Gêiseres de Gás
Outro fenômeno peculiar da primavera marciana são os gêiseres de gás, que lançam jatos explosivos de areia e poeira. A sublimação do gelo de dióxido de carbono, impulsionada pela luz solar que penetra nas camadas inferiores do gelo, resulta na formação de gás. A pressão acumulada culmina em erupções que espalham leques escuros de material pela superfície.
Para observar os melhores exemplos de leques de detritos, será preciso aguardar a chegada da primavera no hemisfério sul marciano, prevista para dezembro de 2025. Lá, os leques são maiores e mais nítidos.
As “Aranhas” de Marte
Após a sublimação do gelo em torno dos gêiseres do hemisfério norte, o que resta na superfície são marcas que lembram pernas de aranhas gigantes. Cientistas do JPL conseguiram recriar esse processo em laboratório. O estudo detalha o processo de formação desses padrões.
Ventos Poderosos
Isaac Smith, da Universidade de York, em Toronto, destaca os sulcos no topo da calota polar norte de Marte, do tamanho do Texas, que revelam a superfície avermelhada do planeta. Esses sulcos, formados por ventos rápidos e quentes, são semelhantes aos que se vê na Antártida, mas em escala muito maior. Alguns sulcos chegam a ter a extensão da Califórnia.
Os sulcos atuam como canais para os ventos da primavera, que se intensificam com o degelo da calota polar. Esses ventos ganham velocidade e temperatura ao descer pelos sulcos, um fenômeno conhecido como processo adiabático, análogo aos ventos de Santa Ana no sul da Califórnia ou aos ventos Chinook nas Montanhas Rochosas.
Dunas Migratórias
Os mesmos ventos que esculpem os sulcos na calota polar também movem as dunas de areia de Marte. Ao depositarem areia em um lado e retirarem do outro, esses ventos fazem as dunas se deslocarem, assim como acontece na Terra. Em setembro, um artigo científico coescrito por Smith revelou que a camada de gelo seco que se forma no topo das dunas durante o inverno as mantém fixas. Com o fim do gelo na primavera, as dunas voltam a se mover.
Cada primavera no hemisfério norte marciano apresenta variações, com o gelo sublimando de forma mais rápida ou lenta, o que influencia o ritmo de todos esses fenômenos. E esses eventos são apenas uma parte das mudanças sazonais de Marte. O hemisfério sul também possui atividades únicas e igualmente fascinantes.
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