Ciência

Gene ligado à má-formação craniana pode ser chave para entender a esquizofrenia

Uma pesquisa recente do Hospital Infantil St. Jude descobriu uma possível ligação entre um gene causador de malformações cranianas e o desenvolvimento da esquizofrenia. O estudo, liderado pelo neurobiólogo Tae-Yeon Eom, sob supervisão de Stanislav Zakharenko, revelou que a deleção de uma cópia do gene Tbx1 em modelos de camundongos resulta em defeitos na formação óssea do crânio durante o desenvolvimento embrionário.

Essa má-formação leva a uma redução de até 70% no tamanho dos lóbulos cerebelares – o flocculus e o paraflocculus – em comparação com camundongos sem a mutação. Curiosamente, os camundongos com a mutação apresentaram dificuldades de aprendizado motor, semelhanças observadas em humanos com mutações associadas à esquizofrenia. "Isso seria extraordinário, porque tudo começou com um osso", comentou Zakharenko. A pesquisa destaca a possibilidade de distúrbios cerebrais se originarem de disfunções na comunicação entre tecidos diferentes, e não apenas dentro do próprio tecido cerebral.

A equipe utilizou ressonância magnética (MRI) para examinar o cérebro de 80 pacientes humanos com síndrome de deleção 22q, que apresenta uma seção ausente do cromossomo 22, contendo aproximadamente 25 genes, incluindo o Tbx1. Até 30% dos indivíduos com essa síndrome recebem diagnóstico de esquizofrenia, enquanto apenas 1% da população sem a deleção desenvolve a doença. Os resultados da MRI mostraram que os pacientes humanos também apresentavam lóbulos flocculus e paraflocculus menores, semelhante à observação nos camundongos.

Zakharenko explica que o gene Tbx1 não é muito expresso no cérebro, especialmente em adolescentes e adultos, mas sim em tecidos adjacentes, como ossos, cartilagens e vasos sanguíneos. Ele ressalta que a sua expressão nesses tecidos periféricos pode impactar indiretamente o desenvolvimento cerebral. A pesquisa anterior do mesmo grupo, em 2014, já havia identificado disfunções nos circuitos cerebrais que processam informações auditivas em pacientes com síndrome de deleção 22q, um fator potencialmente ligado ao aparecimento de alucinações auditivas, sintomas comuns da esquizofrenia. "Pensamos que a redução do fluxo de informações entre essas duas estruturas cerebrais, que desempenham um papel central no processamento de informações auditivas, cria as condições para que o estresse ou outros fatores desencadeiem as 'vozes', o sintoma psicótico mais comum da esquizofrenia", explicou Zakharenko em 2014. Além disso, Eom e sua equipe escreveram em seu artigo publicado em Nature Communications que variantes raras de Tbx1 em humanos sem a síndrome de 22q foram associadas ao transtorno do espectro autista e à esquizofrenia.

Apesar dos resultados promissores, Zakharenko enfatiza que pesquisas adicionais são necessárias para entender completamente a relação entre a malformação craniana, o subdesenvolvimento dos lóbulos cerebelares e a disfunção do córtex auditivo no desenvolvimento da esquizofrenia. A equipe pretende seguir este caminho na pesquisa, investigando a cadeia de eventos que conecta esses elementos. A pesquisa destaca a complexidade da esquizofrenia, sugerindo a existência de múltiplos fatores genéticos, ambientais e biológicos envolvidos no seu desenvolvimento.

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Romário Nicácio

Administrador de redes, estudante de Ciências e Tecnologia (C&T) e Jornalismo, que também atua como redator de sites desde 2009. Co-fundador do Portal N10 e do N10 Entretenimento, com um amplo conhecimento em diversas áreas. Com uma vasta experiência em redação, já contribuí para diversos sites de temas variados, incluindo o Notícias da TV Brasileira (NTB) e o Blog Psafe. Sua paixão por tecnologia, ciência e jornalismo o levou a buscar conhecimentos nas áreas, com o objetivo de se tornar um profissional cada vez mais completo. Como co-fundador do Portal N10 e do N10 Entretenimento, tenho a oportunidade de explorar ainda mais minhas habilidades e se destacar no mercado, como um profissional dedicado e comprometido com a entrega de conteúdo de qualidade aos seus leitores. Para entrar em contato comigo, envie um e-mail para [email protected].

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