Um novo estudo financiado pela NASA sugere que fluxos de água salgada podem ter desempenhado um papel crucial na formação de cânions e outros relevos no asteroide Vesta. A pesquisa, publicada no Planetary Science Journal, utilizou simulações de laboratório para investigar como líquidos poderiam persistir na superfície de corpos celestes sem atmosfera, como Vesta.
Os experimentos, realizados no Jet Propulsion Laboratory (JPL), simularam as condições que ocorreriam após um impacto de meteoroide na superfície do asteroide, que é conhecido por apresentar canais profundos, ou ravinas, cuja origem tem intrigado os cientistas.
A hipótese principal até então era que esses canais teriam sido formados por fluxos de detritos secos impulsionados por processos geofísicos. No entanto, o estudo atual aponta para a possibilidade de que impactos de meteoroides tenham desencadeado fluxos súbitos e breves de água, que esculpiram as ravinas e depositaram leques de sedimentos.
Os cientistas já haviam levantado a hipótese de que impactos poderiam expor e derreter gelo subterrâneo em corpos celestes como Vesta. Nesses casos, os fluxos resultantes poderiam ter deixado marcas semelhantes às encontradas na Terra.
Como esses corpos celestes sem atmosfera poderiam manter líquidos na superfície por tempo suficiente para que fluíssem?
Os testes realizados em uma câmara de simulação, chamada DUSTIE (Dirty Under-vacuum Simulation Testbed for Icy Environments), revelaram que a presença de cloreto de sódio (sal de cozinha) é fundamental. Enquanto a água pura congelava quase instantaneamente sob vácuo, a água salgada permaneceu líquida por pelo menos uma hora, tempo considerado suficiente para criar as estruturas geológicas identificadas em Vesta, que se estima terem levado até meia hora para se formar.
“Impactos não apenas desencadeiam um fluxo de líquido na superfície, mas os líquidos permanecem ativos por tempo suficiente para criar características específicas na superfície”, explicou Jennifer Scully, líder do projeto. “Mas por quanto tempo? A maioria dos líquidos se torna instável rapidamente nesses corpos sem ar, onde o vácuo do espaço é implacável.”
A missão Dawn, que orbitou Vesta por 14 meses e Ceres por quase quatro anos, descobriu evidências de um reservatório subterrâneo de salmoura em Ceres. A nova pesquisa oferece informações relevantes sobre processos em Ceres, mas o foco principal é Vesta, onde gelo e sais podem produzir líquidos salobros quando aquecidos por um impacto.
Os experimentos também recriaram as “tampas” de material congelado que se formam na superfície das salmouras. Essa camada superior congelada protege o líquido abaixo do vácuo, permitindo que ele flua por mais tempo antes de congelar novamente. Esse fenômeno se assemelha a como a lava flui mais longe em tubos de lava na Terra e se relaciona com modelos de vulcões de lama em Marte e vulcões de gelo em Europa, uma lua de Júpiter.
“Nossos resultados contribuem para um crescente conjunto de trabalhos que usam experimentos de laboratório para entender quanto tempo os líquidos duram em vários mundos”, disse Scully.
O estudo fornece evidências de que a água salgada, impulsionada por impactos de meteoroides, teve um papel significativo na moldagem da superfície do asteroide Vesta. Este fenômeno desafia as noções tradicionais sobre a presença de líquidos em corpos celestes sem atmosfera, ressaltando a complexidade da geologia planetária e ampliando a compreensão sobre processos que podem ocorrer em outros mundos do sistema solar.
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