Uma nova pesquisa científica lança luz sobre a história da sífilis, indicando que a bactéria responsável pela doença já circulava nas Américas muito antes da chegada de Cristóvão Colombo. O estudo, que analisou amostras ósseas antigas, sugere que a enfermidade, e suas variações, não foram introduzidas no continente americano por europeus.
Por décadas, o debate sobre a origem da sífilis foi polarizado entre duas hipóteses: a colombiana, que defendia que a doença foi levada da América para a Europa após as viagens de Colombo, e a pré-colombiana, que postulava a existência da doença na Europa antes da chegada ao continente americano. A nova pesquisa fortalece a primeira hipótese, através de análise genética detalhada.
Uma equipe internacional de pesquisadores analisou amostras ósseas de diferentes locais das Américas, incluindo México, Chile, Peru e Argentina, algumas datando do século XIII. O objetivo era encontrar vestígios genéticos da bactéria Treponema pallidum, causadora da sífilis e de outras doenças relacionadas. Utilizando técnicas avançadas de extração de DNA e sequenciamento genômico, os cientistas descobriram uma variedade e antiguidade surpreendente da bactéria no continente.
Kirsten Bos, paleopatologista do Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva na Alemanha, afirmou que reconstruções genômicas de amostras ósseas têm sido usadas em estudos anteriores, mas que eles não conseguiram responder questões centrais sobre as teorias pré e pós-colombianas da sífilis. Segundo Bos, a nova análise demonstra de forma clara que a origem da sífilis e de suas variantes está nas Américas, e sua introdução na Europa no final do século XV está alinhada com os dados obtidos.
A comparação com cepas modernas da bactéria indicou que ela se originou nessas regiões ao longo de milhares de anos, dando origem à sífilis e outras doenças similares. De acordo com os pesquisadores, a sífilis se tornou mais virulenta antes da chegada de Colombo. No final do século XV, com o retorno dos colonos à Europa, ocorreu uma explosão da doença conhecida como a “Grande Varíola”, que causou mortes e deformidades em todo o continente.
As doenças treponêmicas, como a sífilis, bouba, pinta e bejel, formam um pequeno grupo de condições causadas por patógenos antigos que, segundo a pesquisa, circularam nas Américas. Lesões ósseas semelhantes às causadas pela sífilis foram encontradas em esqueletos europeus datados de antes de 1492. No entanto, a pesquisa não deixa claro se essas lesões foram causadas pela mesma bactéria ou por alguma outra condição similar. Tecnologias avançadas de análise de DNA poderão auxiliar na elucidação dessas questões no futuro.
O estudo não descarta a possibilidade de que diferentes formas de sífilis tenham circulado em diversas populações ao longo da história. Entretanto, a análise de tempo e a demonstração da doença solidificam a conexão entre a chegada dos europeus e a propagação da doença na Europa. A equipe de cientistas ressalta que a pesquisa continuará, e esperam que estudos mais abrangentes, com amostras das Américas, Europa e África, possam revelar a emergência da sífilis e suas variantes, oferecendo um novo entendimento sobre a história de uma das doenças mais marcantes da história humana.
Johannes Krause, bioquímico também do Instituto Max Planck, enfatiza que a busca por formas mais antigas da doença continuará, e que o DNA antigo será um recurso valioso. “Quem sabe que outras doenças relacionadas circularam pelo mundo em humanos e animais antes da família da sífilis aparecer?”
O estudo completo foi publicado na revista Nature.
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