Pesquisadores descobriram que a capacidade de entrar em estado de dormência, um mecanismo de sobrevivência utilizado por diversas espécies animais e vegetais, pode ter um impacto significativo na competição interespecífica e na biodiversidade.
Em situações adversas, plantas e animais geralmente adotam duas estratégias principais: migração ou adaptação. Entretanto, um terceiro método, a dormência, permite a esses organismos 'escaparem' do tempo, permanecendo inativos até que as condições ambientais se tornem favoráveis.
A dormência, como hibernação em ursos e a latência de sementes em plantas, serve como um mecanismo de sobrevivência em condições desfavoráveis. No entanto, alguns organismos permanecem inativos por períodos extremamente longos – décadas, séculos ou até milênios. Como exemplo, sementes de uma palmeira da Judéia com 2000 anos foram germinadas, e tecidos florais de uma planta da Era do Gelo, com mais de 31.000 anos, foram reanimados.
Um estudo recente se concentrou na diapausa, um tipo de dormência animal caracterizado pela redução do metabolismo e resistência a mudanças ambientais, onde os animais geralmente reduzem ou cessam a alimentação e a locomoção. Usando o Caenorhabditis elegans, um tipo de nematóide com vias genéticas de dormência bem compreendidas, os pesquisadores investigaram o papel da dormência na persistência das espécies.
Quatro grupos de vermes foram utilizados no experimento: um grupo com maior propensão à dormência, outro com menor propensão, um terceiro incapaz de entrar em dormência e um quarto grupo como controle, com propensão média à dormência. Esses grupos competiram com outra espécie de verme, o C. briggsae, por recursos em diferentes ambientes. Simulações computacionais analisaram a possibilidade de coexistência ou extinção de uma espécie em relação à outra sob diversas condições.
Os resultados indicaram que a propensão à dormência permite a coexistência de espécies competidoras em uma gama mais ampla de condições ambientais. Em condições ambientais flutuantes, simuladas no estudo, as espécies com maior investimento em dormência coexistiram com o competidor em uma faixa maior de temperaturas. Este resultado, embora previsto teoricamente, foi difícil de comprovar experimentalmente. O sistema experimental utilizado mostra potencial para aprofundar a pesquisa sobre o papel da dormência na sobrevivência das espécies.
A pesquisa levanta a questão da resiliência das espécies com formas dormentes às grandes flutuações ambientais atuais. Organismos capazes de evitar eventos extremos, como ondas de calor e secas, podem estar mais bem preparados para a era das mudanças climáticas. Os pesquisadores pretendem investigar a dinâmica observada em laboratório e sua relação com a dormência em plantas, animais e microrganismos em ambientes naturais.
https://nsojournals.onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/oik.10503?af=R
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