Nilda e a governabilidade em xeque: quando escutar vale mais que inaugurar

Nilda e a governabilidade em xeque: quando escutar vale mais que inaugurar
Foto: Aristelson Alves

Governo se faz com escuta. E quando ela falha, o que se ouve é o barulho das rachaduras.

Desde janeiro, a prefeita Nilda Cruz (Solidariedade) tenta mostrar que é possível comandar Parnamirim com técnica, entregas visíveis e discurso de renovação. De fato, obras avançaram, agendas foram cumpridas e o simbolismo da sua eleição — primeira mulher e primeira gestora negra da cidade — parecia suficiente para manter a máquina em movimento. Mas política não se sustenta apenas com boa intenção e cronograma.

Cinco meses depois, a governabilidade de Nilda entra em sua primeira crise concreta. E não apenas por conta da greve da saúde, do silêncio em relação aos trabalhadores terceirizados da Solares ou da instabilidade nas promessas feitas em campanha. A base de apoio na Câmara Municipal encolheu. A prefeita perdeu seis vereadores que se declaravam aliados e que agora formam a Bancada Pró-Parnamirim, liderada por Michael Borges (PP). O grupo reúne Eurico da Japão (Solidariedade), Michael Diniz (PL), Léo Lima (Pode), Rarika Bastos (Republicanos) e Rodrigo Cruz (Pode), e promete “equilibrar o plenário” — ou, em outras palavras, colocar freio na votação automática de projetos da Prefeitura.

Com isso, a prefeita passa a contar com 12 votos fiéis dos 21 possíveis. A oposição formal, antes com apenas três nomes, agora soma nove parlamentares. O placar que antes era confortável, virou alerta. E o nome mais barulhento entre os opositores é Gabriel César (PL).

Gabriel vem adotando uma linha dura, mas sustentada. No fim de abril, gravou um vídeo direto do gabinete do deputado federal Sargento Gonçalves (PL), solicitando emenda parlamentar para construir uma nova UPA em Parnamirim. A ação viralizou. Ganhou apoio popular. Mas a prefeita correu atrás do prejuízo e tentou associar-se à iniciativa — já articulada por Gabriel. A resposta veio forte. “Nilda tenta fazer parecer que os recursos seriam para reformar a UPA existente, numa tentativa clara de confundir a opinião pública”, disse o vereador.

E ele não parou por aí. Em publicação recente, criticou o uso do jeton, que beneficia com remunerações extras os já bem pagos da estrutura municipal. Denunciou escolas com estrutura precária e falta de merenda, além de lembrar que até agora nenhuma UBS funciona 24 horas, como prometido em campanha.

Esse desgaste político não nasce por acaso. A crise institucional tem raízes. A greve dos servidores da saúde, deflagrada em 7 de maio, foi o primeiro abalo real. Profissionais como enfermeiros, dentistas e farmacêuticos paralisaram as atividades por 48 horas, exigindo respeito, reajuste e melhores condições. A gestão Nilda não emitiu sequer uma nota oficial. Não buscou diálogo. Não se apresentou. Um silêncio que custa caro — sobretudo para quem prometeu colocar a saúde como prioridade número um.

Outro episódio revelador foi a audiência pública do dia 6 de maio, que debateu a situação dos terceirizados da empresa Solares, responsável por serviços essenciais prestados ao município. A convocação foi feita por vereadores de oposição e independentes — entre eles, Gabriel César, Jonas Godeiro e Thiago Fernandes. O plenário ouviu relatos de salários atrasados, condições precárias e invisibilidade. O diretor da empresa, Caio Honorário, pediu respeito. A representante dos funcionários, Ana Lúcia Alves, foi enfática: “Estamos aqui para servir. E quem está por nós?

A ausência de qualquer representante do Executivo municipal na audiência foi interpretada como descaso institucional. Uma gestão que diz ouvir o povo não pode faltar justamente quando ele fala.

Nos bastidores da Câmara, a insatisfação da base era latente. Parlamentares reclamavam da centralização de decisões, da falta de escuta e da blindagem exagerada da prefeita. A líder do governo, vereadora Rhalessa de Clênio (Solidariedade), vem sendo criticada pela condução das articulações políticas. Já o presidente da Casa, César Maia (MDB), ainda fiel à prefeita, tentou evitar a debandada, mas sem sucesso. O estrago já está feito.

Em paralelo, a Prefeitura tenta vender a imagem de uma cidade em obras. A duplicação da RN-313 que teve início na gestão anterior, por exemplo, avança para sua fase final. O asfalto já cobre boa parte do trecho entre a BR-101 e a linha do VLT. Há ainda o retorno das vistorias nos imóveis afetados pelas enchentes de 2022, paralisadas há mais de um ano. Esse é um passivo herdado da gestão Taveira, mas que agora volta ao debate graças à pressão da Secretaria de Assistência Social. São famílias há anos no aluguel social esperando indenização — e ação.

Outra bomba caiu no colo da gestão Nilda neste mês de maio. A descoberta de um débito superior a R$ 20 milhões com o FGTS, referente a contratações temporárias entre 2017 e 2021, impediu a emissão da Certidão de Regularidade Fiscal do município. O governo atribui a falha à gestão passada, o que é real. Mas a população quer solução — e rápida. Sem a certidão, Parnamirim pode perder repasses e convênios federais.

A questão agora é mais ampla: Nilda governa, mas governa com quem? Os aliados se retraem, os opositores crescem, os servidores cobram e parte da população começa a desconfiar. O tempo da lua de mel institucional acabou.

A prefeita ainda tem capital político. Tem carisma, presença pública e força simbólica. Mas isso não sustenta a máquina. Quem governa precisa construir apoios, abrir diálogo, participar dos embates e, principalmente, agir com humildade para ouvir — e coragem para corrigir.

Parnamirim não precisa de uma prefeita midiática. Precisa de uma prefeita presente. Porque a governabilidade não se conquista com plano de governo pronto. Ela se constrói — e se reconstrói — no plenário, nas ruas e, sobretudo, no compromisso com quem não tem voz.

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