Uma nova análise genética de restos mortais humanos encontrados na Alemanha e na República Tcheca revelou detalhes surpreendentes sobre a interação entre humanos modernos e neandertais. Os resultados, publicados na revista Nature, sugerem que a miscigenação entre as duas espécies ocorreu entre 45.000 e 49.000 anos atrás, um período mais recente do que as estimativas anteriores.
Os pesquisadores do Instituto Max Planck analisaram genomas nucleares de seis indivíduos encontrados em Ranis, Alemanha, datados de aproximadamente 45.000 anos. Sua análise do DNA mitocondrial já os havia identificado como Homo sapiens, mas estudos adicionais eram necessários para determinar suas relações com outros humanos da região. A pesquisa também incluiu o indivíduo Zlatý kůň, encontrado na República Tcheca.
Uma descoberta notável foi a identificação de parentesco genético de quinto ou sexto grau entre Zlatý kůň e dois indivíduos de Ranis, indicando uma relação familiar próxima. Segundo o antropólogo Arev Sümer, "Isso significa que Zlatý kůň era geneticamente parte da família extensa de Ranis e provavelmente também fabricava ferramentas do tipo [Lincombian-Ranisian-Jerzmanowician]." A análise revelou que o grupo Zlatý kůň/Ranis possuía genes que indicam pele, cabelo e olhos escuros, características esperadas de migrantes africanos recentes. A estimativa populacional para esses pioneiros humanos é de algumas centenas de indivíduos.
A análise genética revelou que o DNA neandertal presente nesses indivíduos provavelmente se originou em um evento separado da interação que deu origem ao DNA neandertal encontrado em populações não-africanas atuais. "As nossas análises indicam que a população de Zlatý kůň/Ranis se separou cedo da linhagem que levou a outras populações não-africanas e que não deixaram descendentes entre as pessoas de hoje", escreveram os pesquisadores em seu artigo publicado na Nature.
Um segundo estudo, publicado na revista Science, examinou 300 genomas humanos dos últimos 50.000 anos, sugerindo que a maior parte dos nossos genes neandertais foram introduzidos em um período extenso entre 50.500 e 43.500 anos atrás. Esse período possivelmente envolveu uma onda diferente de migrantes, incluindo nossos ancestrais diretos. A seleção natural atuou rapidamente, mantendo ou eliminando genes neandertais em nossos genomas ao longo de aproximadamente 100 gerações, chegando ao nível que muitos de nós ainda compartilhamos hoje. Este estudo reforça a ideia de que encontros entre humanos modernos e neandertais ocorreram em múltiplas ocasiões.
O bioquímico Johannes Krause, do Instituto Max Planck, explica: "Esses resultados nos fornecem uma compreensão mais profunda dos primeiros pioneiros que se estabeleceram na Europa. Eles também indicam que quaisquer restos mortais humanos encontrados fora da África que sejam mais antigos que 50.000 anos não poderiam ter feito parte da população não-africana comum que cruzou com neandertais e que agora é encontrada em grande parte do mundo."
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