Rio Grande do Norte
Tendência

Pobreza multidimensional atinge 59,4% das crianças e adolescentes no Rio Grande do Norte

Os dados do relatório mostram que o saneamento é o indicador mais crítico no Rio Grande do Norte, com 64,5% das crianças vivendo em lares com algum tipo de privação nesse quesito.

Um relatório do Unicef divulgado em 2023 revelou que 59,4% das crianças e adolescentes do Rio Grande do Norte, o equivalente a 497,76 mil indivíduos de 0 a 17 anos, enfrentam alguma forma de privação de direitos fundamentais. Destes, 21,7%, ou seja, 181,8 mil, sofrem privação extrema.

Esses números colocam o estado acima da média nacional, que é de 55,9%, e o destacam como um dos mais afetados pela pobreza infantil, especialmente no contexto das regiões Norte e Nordeste do Brasil.

Apesar do cenário desafiador, o Rio Grande do Norte, junto com o Ceará, foi o segundo estado nordestino que mais conseguiu reduzir esse índice. Houve um progresso notável, com a porcentagem caindo de 87,3% para 81,2% no período analisado. O Ceará também apresentou uma redução significativa, de 79,7% para 71,2%. Esse avanço, entretanto, não elimina a urgência de ações para mitigar a vulnerabilidade infantil na região.

O estudo, que utilizou dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD), analisou sete dimensões cruciais: renda, educação, acesso à informação, água, saneamento, moradia e proteção contra o trabalho infantil. Além disso, foi realizada uma análise da segurança alimentar, revelando disparidades significativas entre os estados brasileiros.

No panorama nacional, o Rio Grande do Norte segue a tendência das regiões Norte e Nordeste, que concentram os maiores índices de privação entre crianças e adolescentes. O estado ocupa a terceira posição no Nordeste em termos de privações, atrás de Maranhão (com 50,9%) e Piauí (com 62,5%), que apresentaram percentuais muito elevados de crianças privadas de direitos básicos. O Rio Grande do Norte compartilha índices semelhantes aos da Paraíba (44,1%) e Pernambuco (37,2%).

Em contraste, estados do Sudeste, como São Paulo, apresentaram percentuais significativamente menores, com apenas 20,1% das crianças enfrentando alguma privação. No Sul, o Paraná lidera com o menor índice, registrando 35,7% de crianças privadas de algum direito, evidenciando as disparidades regionais existentes no país.

Saneamento e renda: os maiores desafios no RN

Os dados do relatório mostram que o saneamento é o indicador mais crítico no Rio Grande do Norte, com 64,5% das crianças vivendo em lares com algum tipo de privação nesse quesito. A renda também é uma área de preocupação, com 16,7% das crianças enfrentando privação intermediária e 13% em situação de privação extrema.

Comparativamente, o estado apresenta números superiores à média nacional em saneamento, cuja média de privação é de 37,96%, e em renda, com média nacional de 19,14%. Além disso, 10,1% das crianças potiguares enfrentam privação intermediária na educação, enquanto 0,8% lidam com privação extrema nessa dimensão. As privações em moradia também são significativas, com 6,1% das crianças vivendo em condições inadequadas de forma intermediária e 2,3% de forma extrema. A falta de acesso à água afeta 4,1% das crianças de maneira intermediária e 3,6% de forma mais severa.

Desafios e a necessidade de Políticas Públicas

O relatório da Unicef ressalta a urgência de políticas públicas específicas para reduzir as desigualdades regionais e as condições de vulnerabilidade de crianças e adolescentes. No Rio Grande do Norte, esses desafios incluem a necessidade de investimentos em infraestrutura de saneamento básico, a expansão de programas sociais voltados para a renda familiar e o fortalecimento da educação básica. As disparidades regionais, somadas às limitações de acesso a serviços essenciais, demandam uma abordagem integrada, que considere as particularidades locais e assegure que todas as crianças tenham acesso a seus direitos fundamentais.

De acordo com a Unicef, reduzir a pobreza multidimensional infantil requer ações coordenadas, com foco especial em estados do Norte e Nordeste, onde as vulnerabilidades permanecem alarmantes. A pobreza infantil no Brasil, medida em suas múltiplas dimensões, apresentou uma queda de 62,5% em 2017 para 55,9% em 2023. Essa redução, que corresponde a aproximadamente 3,6 milhões de crianças e adolescentes saindo de condições de privação, foi impulsionada principalmente por progressos nas dimensões de informação e renda.

Apesar disso, cerca de 680 mil crianças ainda enfrentam privações em áreas como educação, saneamento e segurança alimentar. A desigualdade regional e racial persiste, com os maiores índices concentrados nas regiões Norte e Nordeste. A dimensão educacional apresentou uma piora significativa. Em 2023, 30% das crianças de 7 a 8 anos não estavam alfabetizadas, mais do que o dobro dos 14% registrados em 2019. O relatório atribui essa deterioração às interrupções educacionais causadas pela pandemia de COVID-19, que afetaram principalmente crianças negras, moradores de áreas rurais e de famílias de baixa renda.

A insegurança alimentar grave atinge 5,1% das crianças e adolescentes brasileiros, e a insegurança alimentar em qualquer nível afeta 36,9% desse grupo, com os maiores índices observados no Norte e Nordeste. Entre crianças negras, as taxas de insegurança alimentar continuam significativamente maiores do que entre crianças brancas.

O relatório também destaca o papel do Bolsa Família na redução da pobreza. Em 2023, o programa retirou 4 milhões de crianças da pobreza extrema, ampliando o impacto em regiões mais vulneráveis, como o Nordeste, onde a taxa de privação de renda caiu de 46,6% para 32,5%.

O ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Wellington Dias, enfatizou a importância de garantir o acesso a políticas de segurança alimentar, assistência social, saúde, saneamento e educação para crianças em situação de vulnerabilidade. “E isso é possível graças ao conjunto abrangente de ações e programas que estamos implementando no Governo Federal. Os resultados deste estudo mostram, mais uma vez, que estamos no caminho certo”, disse o ministro.

Percentual de crianças e adolescentes com alguma privação no RN (0 a 17 anos)

  • Educação: 10,1% (privação intermediária) e 0,8% (privação extrema)
  • Informação: 3,1% (privação intermediária) e 0,9% (privação extrema)
  • Trabalho infantil: 1,6% (privação intermediária) e 0,4% (privação extrema)
  • Moradia: 6,1% (privação intermediária) e 2,3% (privação extrema)
  • Água: 4,1% (privação intermediária) e 3,6% (privação extrema)
  • Saneamento: 64,5% (privação intermediária) e 5,2% (privação extrema)
  • Renda: 16,7% (privação intermediária) e 13,0% (privação extrema)

Quer receber as principais notícias do Portal N10 no seu WhatsApp? Clique aqui e entre no nosso canal oficial.

Rafael Nicácio

Co-fundador e redator do Portal N10, sou responsável pela administração e produção de conteúdo do site, consolidando mais de uma década de experiência em comunicação digital. Minha trajetória inclui passagens por assessorias de comunicação do Governo do Estado do Rio Grande do Norte (ASCOM) e da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), onde atuei como estagiário. Desde 2013, trabalho diretamente com gestão de sites, colaborando na construção de portais de notícias e entretenimento. Atualmente, além de minhas atividades no Portal N10, também gerencio a página Dinastia Nerd, voltada para o público geek e de cultura pop. MTB Jornalista 0002472/RN E-mail para contato: [email protected]

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Botão Voltar ao topo
Fechar

Permita anúncios para apoiar nosso site

📢 Desative o bloqueador de anúncios ou permita os anúncios em nosso site para continuar acessando nosso conteúdo gratuitamente. Os anúncios são essenciais para mantermos o jornalismo de qualidade.