O ex-prefeito de Natal, Álvaro Dias (Republicanos), voltou a defender a engorda da Praia de Ponta Negra, desta vez fazendo uma comparação direta com a intervenção realizada em Miami Beach, nos Estados Unidos. Em um vídeo publicado nesta terça-feira (1º), ele argumentou que a ampliação da faixa de areia em Natal seguiu padrões semelhantes aos aplicados em destinos turísticos internacionais.
“Estamos aqui na praia de Miami Beach, na Flórida, nos Estados Unidos, onde, recentemente, foi feita também a engorda dessa praia. E aí, nós estamos aqui no país mais rico e mais desenvolvido do mundo para mostrar aos natalenses a obra que foi feita semelhante à que fizemos na cidade de Natal“, declarou Álvaro Dias no vídeo, gravado durante visita à filha no exterior.
A obra na capital potiguar foi concluída no fim de janeiro de 2025, ampliando a faixa de areia em 4,6 km, entre a Via Costeira e o Morro do Careca, com o uso de 1,3 milhão de metros cúbicos de areia. A expectativa da prefeitura era impulsionar o turismo e garantir a proteção da infraestrutura da orla.
Alagamentos recorrentes e problemas na drenagem
Apesar das projeções otimistas, a realidade se mostrou diferente. Desde a entrega da engorda, alagamentos têm sido registrados constantemente na orla de Ponta Negra, tornando-se um problema frequente, mesmo sem chuvas intensas.
A situação ganhou destaque no dia 14 de março, quando, após uma madrugada chuvosa, a praia amanheceu tomada por poças d’água, impactando diretamente o movimento de bares, quiosques e restaurantes. Comerciantes relataram prejuízos e redução de mais de 80% no fluxo de clientes, contrariando as projeções da prefeitura, que estimava um crescimento de 20% no turismo local.
A Prefeitura de Natal anunciou a conclusão do sistema de drenagem em fevereiro, mas o problema não foi resolvido. A falta de um planejamento adequado para o escoamento da água tem sido apontada como uma das falhas estruturais do projeto.
A execução da engorda começou em setembro de 2024, após a prefeitura conseguir uma liminar que obrigou o Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do Rio Grande do Norte (Idema-RN) a liberar a licença ambiental. O documento foi concedido sem estudos detalhados sobre os impactos ambientais e sem um projeto de drenagem consolidado.
O episódio que marcou o início da obra foi a invasão ao prédio do Idema-RN. Na ocasião, secretários municipais e cargos comissionados forçaram a entrada no local para exigir a liberação da licença ambiental.
A decisão de tocar a obra sem os devidos estudos gerou questionamentos. O Ministério Público Federal (MPF-RN) entrou com um pedido na Justiça para que o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) fiscalizasse a engorda e seus impactos.
Além disso, uma vistoria realizada pela Defesa Civil Nacional, entre os dias 23 e 25 de outubro de 2024, apontou que a engorda não poderia ter sido feita antes da conclusão das obras de drenagem, exatamente como havia alertado o Idema-RN.
Banhistas evitam a praia após mudanças no mar
Outro efeito colateral da engorda foi a mudança na dinâmica do mar em Ponta Negra. Muitas famílias, principalmente com crianças pequenas, passaram a evitar a praia, alegando que o banho ficou mais perigoso.
Os surfistas também sentiram os impactos. Com a mudança no formato da costa e o acúmulo de areia, as ondas perderam força, levando praticantes do esporte a buscarem outros pontos de Natal.
Além dos alagamentos e das dificuldades para o banho, outro problema surgiu: os rodolitos. Essas pequenas formações rochosas, compostas por algas calcárias, foram parar na areia durante o processo de engorda.
A princípio, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo (Semurb) minimizou a situação, mas depois reconheceu que os rodolitos poderiam causar acidentes e cortes nos banhistas.
Para lidar com o problema, a Prefeitura de Natal contratou, sem licitação, uma empresa especializada em limpeza mecanizada da praia. O contrato emergencial, com validade até setembro de 2025, tem um custo mensal de R$ 67 mil. Segundo a Semurb, uma licitação definitiva será aberta para garantir a continuidade do serviço.
Álvaro Dias defende a engorda como solução para Natal
Mesmo diante das críticas e dos problemas enfrentados desde a conclusão da engorda, Álvaro Dias mantém sua defesa do projeto, argumentando que esse tipo de intervenção é fundamental para conter o avanço do mar e impulsionar a economia local.
“Em Miami, como em Natal, essa obra garante proteção e tranquilidade para bares, hotéis, restaurantes, quiosques e o próprio calçadão que agora está muito distante do mar“, afirmou o ex-prefeito.
A justificativa do ex-gestor é de que a engorda preserva o turismo, protege a infraestrutura da orla e mantém empregos na região. No entanto, a realidade vivida em Ponta Negra tem mostrado que a falta de planejamento e fiscalização pode comprometer os benefícios esperados da obra.
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