O recente acúmulo de água na nova faixa de areia da Praia de Ponta Negra, na zona Sul de Natal, gerou debates entre turistas e trabalhadores locais. A Prefeitura de Natal, no entanto, afirma que o fenômeno era esperado e está relacionado a uma combinação de fatores naturais, como as altas marés e as chuvas registradas no litoral potiguar.
De acordo com a administração municipal, mesmo com os projetos de drenagem e os dissipadores em operação desde o final de fevereiro, a repetição desses alagamentos é uma possibilidade real, com uma estimativa de ocorrência de até oito vezes ao longo do ano. No último final de semana, o acúmulo de água foi notório, mesmo sem grandes volumes de chuva na capital.
A cena que se repete na região entre os quiosques 8, 9 e 10 da Praia de Ponta Negra tem deixado comerciantes e turistas frustrados. O acúmulo de água esverdeada e espumosa, que mais parece lama misturada com lodo, tem afastado os poucos visitantes que frequentam a região. Além do aspecto desagradável, o cheiro forte e a aparência da água fazem com que muitos turistas pensem que se trata de esgoto.
“Perdi muito cliente por causa dessa água. O turista pensa que é esgoto, a gente explica que é água de chuva, mas ele não acredita, aí termina procurando outras praias. O turismo caiu muito aqui. Antes, uma quinzena rendia o mês inteiro, agora tenho que trabalhar o dobro, o triplo!“, relata um comerciante que depende do movimento da praia para sobreviver.
A situação se agrava com o estado dos dissipadores de drenagem, que deveriam contribuir para escoar a água, mas estão cercados por tapumes quebrados e água parada, parecendo obras inacabadas. Esse cenário dá um aspecto de abandono para um dos cartões-postais mais famosos de Natal, que já foi referência em turismo e comércio.
Tauana Carina, que veio do Rio de Janeiro conhecer Ponta Negra, não escondeu sua frustração: “Nos comerciais é um paraíso. No ao vivo, é uma decepção.”
Além da questão estética, o acúmulo de água parada pode trazer riscos sanitários. Enquanto isso, quem depende do turismo para sustentar a família se vê obrigado a buscar outras fontes de renda para sobreviver.
Marés altas e seus efeitos
A Secretaria de Meio Ambiente e Urbanismo (Semurb) e a Secretaria de Infraestrutura (Seinfra) atribuem o ocorrido às marés altas que atingiram a região. Dados da Marinha do Brasil indicaram ondas de até 2,3 metros em horários de pico, além de um coeficiente de marés de 114, considerado extremamente alto, o que intensifica a formação de ondas e correntezas.
O secretário Thiago Mesquita esclareceu que a retenção de água é um fenômeno normal e esperado, previsto desde janeiro. Ele enfatizou que a engorda da praia desempenhou um papel crucial na proteção da linha costeira, prevenindo a erosão. “Se não tivesse a Engorda, teríamos um grande desastre em Ponta Negra. A Engorda cumpriu perfeitamente o seu papel, evitando a erosão contra a linha de Costa“, afirmou Mesquita.
Mesquita também explicou que a retenção de água ocorre de forma semelhante à formação de lâminas d’água durante as chuvas. A cota mais alta do talude (crista) retém a água, que é infiltrada gradualmente. Além disso, a cota longitudinal é mais baixa no final da engorda, concentrando a água nessa área. A altura da engorda varia, sendo maior no sentido norte (Via Costeira), como no caso do resort all inclusive na Via Costeira de Natal, começando com 3,05 metros, diminuindo para 2,90 metros na parte central e terminando com 2,75 metros no Morro do Careca.
A Secretaria de Infraestrutura informou que os dissipadores entraram em funcionamento em 28 de fevereiro, mesmo não estando totalmente concluídos. Recentemente, foram finalizadas as lajes de tampa/fechamento superiores e refeitos os enrocamentos no entorno dos equipamentos.
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