Transplante de rim de porco dá nova esperança a mulher americana

Uma mulher de Alabama, nos EUA, recebeu um transplante de rim de porco geneticamente modificado, oferecendo um raio de esperança para milhares de pacientes em lista de espera por um órgão compatível. Towana Looney, de 53 anos, havia doado um rim para sua mãe em 1999. Anos depois, complicações de uma gravidez levaram à falência de seu rim restante, resultando em uma árdua jornada de oito anos com diálise, iniciada em dezembro de 2016.

A pressão alta decorrente da pré-eclâmpsia causou doença renal crônica em Looney. Apesar de ter prioridade na lista de espera de transplantes por ter sido doadora viva, a busca por um rim compatível se mostrou infrutífera. Seus altos níveis de anticorpos prejudiciais tornavam quase inevitável a rejeição de um órgão humano. Com a deterioração da saúde e a perda de vasos sanguíneos viáveis para a diálise, a situação de Looney se tornou crítica.

Sem alternativas, Looney se inscreveu em um estudo clínico para transplante de rim de porco. Em 25 de novembro, ela passou por uma cirurgia de sete horas no NYU Langone Hospital, em Nova York, tornando-se a única pessoa viva no mundo com um transplante de órgão animal, como anunciado pela instituição na terça-feira. O rim de porco utilizado passou por 10 edições genéticas para aumentar a compatibilidade com o corpo humano, uma melhoria em relação a transplantes anteriores.

Um avanço na medicina

A xenotransplantação, ou transplante de órgãos entre espécies diferentes, é um objetivo científico antigo e desafiador. Experimentos iniciais em primatas fracassaram, mas avanços recentes em edição genética e manejo do sistema imunológico aproximaram a realidade dessa possibilidade. Suínos se mostram doadores ideais por sua rápida reprodução e grande número de filhotes. A abordagem busca minimizar a grave escassez de órgãos nos Estados Unidos, onde mais de 100.000 pessoas aguardam transplantes, sendo mais de 90.000 por rins.

Após a cirurgia, Looney expressou grande alegria. “Estou cheia de energia, tenho apetite… e, claro, posso ir ao banheiro. Não conseguia há oito anos!”, disse ela, rindo, planejando uma comemoração na Disney World. A Dra. Jayme Locke, cirurgiã da equipe de transplante, descreveu os resultados com admiração: “O rim funcionou exatamente como um rim de um doador vivo”. Seu marido, segundo a médica, observou um rubor em suas bochechas pela primeira vez em anos. “Esse é o milagre do transplante”, concluiu.

Cautela e otimismo

O transplante de Looney é o terceiro caso de transplante de rim de porco geneticamente modificado em um paciente vivo. Os dois casos anteriores tiveram resultados distintos: o primeiro paciente, Rick Slayman, faleceu dois meses após o procedimento no Massachusetts General Hospital; Lisa Pisano, a segunda paciente, apresentou inicialmente sinais de recuperação no NYU Langone, mas o órgão teve de ser removido após 47 dias, e ela faleceu em julho. Robert Montgomery, que liderou a cirurgia de Looney, ressalta que cada caso oferece lições cruciais para aprimorar as técnicas. O rim utilizado foi fornecido pela empresa de biotecnologia Revivicor, que cria rebanhos geneticamente modificados na Virgínia.

Apesar do sucesso em Looney, seus altos níveis de anticorpos permanecem uma preocupação. Os médicos a monitoram de perto com tecnologia vestível e utilizam um novo regime de medicamentos para prevenir a rejeição. Embora visitas periódicas ao hospital possam ser necessárias, a equipe médica se mostra otimista sobre seu retorno para casa em três meses.

Kevin Longino, CEO da National Kidney Foundation, declarou que “este é um momento decisivo para o futuro dos transplantes”. Uma pesquisa da organização indica que pacientes e familiares apoiam o avanço mais rápido dos testes clínicos, acreditando que os riscos da inação superam as incertezas da xenotransplantação.