Uma nova pesquisa identificou uma molécula com potencial para revolucionar o tratamento de doenças intestinais e câncer. Cientistas do Instituto Karolinska, na Suécia, descobriram que a proteína conhecida como receptor X hepático (LXR) desempenha um papel duplo: auxilia na regeneração do tecido intestinal danificado e atua como um supressor de tumores cancerígenos.
O estudo, publicado na revista Nature, aponta que a LXR ativa a produção de uma molécula chamada anfirregulina, que promove o crescimento de novas células intestinais. Ao mesmo tempo, em casos de câncer, a LXR auxilia o sistema imunológico a limitar o desenvolvimento tumoral. Essa descoberta é particularmente significativa devido à complexa relação entre doenças inflamatórias intestinais (DII) e câncer colorretal.
A Complexidade da Cura e do Câncer Intestinal
As paredes intestinais sofrem desgaste constante durante a digestão, necessitando de renovação contínua. Esse processo de regeneração, embora essencial para a saúde, pode ser desviado, favorecendo o crescimento descontrolado de células cancerígenas. Tratamentos como quimioterapia e radioterapia, utilizados para combater o câncer, muitas vezes causam danos ao revestimento intestinal, o que pode gerar um ciclo vicioso de inflamação e necessidade de recuperação.
De acordo com Srustidhar Das, biólogo de células-tronco do Instituto Karolinska, citado na pesquisa, “É praticamente impossível promover a regeneração de tecidos sem o risco de induzir o crescimento tumoral, uma vez que as células cancerosas podem sequestrar os processos naturais de cura do corpo e começar a crescer descontroladamente.”
Mecanismos de Ação da LXR
A descoberta da LXR como uma “superagente” capaz de atuar tanto na regeneração quanto na supressão tumoral abre novas perspectivas para o tratamento de doenças como a doença inflamatória intestinal (DII), que inclui a doença de Crohn e a colite ulcerativa. A inflamação crônica causada pela DII pode levar ao surgimento de câncer colorretal, um dos mais incidentes no mundo. Tratamentos com imunossupressores, embora eficazes para alguns pacientes, podem apresentar efeitos colaterais indesejáveis.
A equipe de pesquisa utilizou modelos de dano intestinal em camundongos para investigar novos tratamentos para DII. Observaram que certos genes controlados pela proteína LXR eram ativados durante o reparo intestinal, promovendo a regeneração celular. Através de técnicas avançadas de análise genética, como mapeamento do transcriptoma e transcriptômica espacial, foi possível mapear a regulação da expressão gênica nas células epiteliais intestinais. Amostras de organoides 3D, réplicas de tecido humano em escala reduzida, foram usadas para estudar os efeitos da LXR em laboratório.
Segundo Eduardo J. Villablanca, imunologista do Instituto Karolinska, “A descoberta de ambas as funções foi surpreendente.” Ele acrescenta: “Precisamos agora estudar mais de perto como a LXR controla a formação de tumores”.
Implicações Futuras
Os pesquisadores acreditam que a LXR pode melhorar a forma como tratamos tanto a DII como o câncer colorretal, além de prevenir distúrbios intestinais crônicos após radioterapia ou quimioterapia. Apesar da promessa, o desenvolvimento de medicamentos baseados na LXR ainda é um processo complexo que exigirá muitas etapas de pesquisa.
O artigo científico que detalha as descobertas foi publicado na revista Nature.
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