Um novo estudo realizado nos Estados Unidos revela que a exposição prolongada ao calor intenso pode acelerar o processo de envelhecimento biológico em humanos. A pesquisa, publicada recentemente, demonstra que o estresse térmico cumulativo altera a epigenética, ou seja, a forma como as células ativam ou desativam genes em resposta a pressões ambientais.
Os resultados do estudo são particularmente relevantes para países como a Austrália, onde as ondas de calor estão se tornando mais frequentes e intensas devido às mudanças climáticas. A pesquisa levanta preocupações sobre os impactos a longo prazo do aumento das temperaturas na saúde humana.
Como o calor acelera o envelhecimento?
O envelhecimento é um processo natural, mas sua velocidade varia de pessoa para pessoa. Ao longo da vida, o corpo humano sofre diversos tipos de estresse e agressões. A exposição prolongada ao calor intenso sobrecarrega o organismo, tornando-o menos eficiente em suas funções essenciais. Esse processo acelera o envelhecimento biológico e pode preceder o desenvolvimento de doenças e incapacidades.
Em nível genético, o calor afeta a forma como os genes são expressos. Embora o DNA permaneça praticamente inalterado ao longo da vida, as células podem ativar ou desativar determinados genes em resposta a estímulos externos. Esse mecanismo, conhecido como epigenética, é mediado principalmente pela metilação do DNA (DNAm), um processo químico que bloqueia a ativação de sequências de DNA e a produção de proteínas.
As alterações celulares na metilação do DNA podem afetar a produção de proteínas, impactando as funções fisiológicas e o estado de saúde. O estresse térmico pode alterar o padrão de genes ativados ou desativados, influenciando a velocidade do envelhecimento.
Estudos em animais, como peixes, galinhas, porquinhos-da-índia e ratos, demonstraram que o estresse térmico severo pode ser “lembrado” pelas células, alterando seus padrões de metilação do DNA ao longo do tempo. Embora existam poucos estudos sobre os efeitos do calor na epigenética humana, a nova pesquisa busca preencher essa lacuna.
Detalhes da pesquisa
O estudo, conduzido por pesquisadores da Universidade do Sul da Califórnia, envolveu quase 3.700 participantes, com idade média de 68 anos. Os idosos são mais vulneráveis aos efeitos do calor, pois sua capacidade de regular a temperatura corporal diminui com a idade, tornando-os menos resistentes a estresses externos. Além disso, sabe-se que as ondas de calor desencadeiam um aumento de doenças e mortes, especialmente entre os idosos.
Os pesquisadores coletaram amostras de sangue dos participantes e mediram as alterações epigenéticas em milhares de locais do genoma. Essas alterações foram usadas para calcular três diferentes marcadores de idade biológica: PcPhenoAge, PCGrimAge e DunedinPACE.
Em seguida, os níveis de calor aos quais cada participante foi exposto em suas áreas geográficas durante os seis anos anteriores (2010-2016) foram avaliados usando o índice de calor dos EUA, que varia de precaução (até 32°C) a perigo (39-51°C). A modelagem de regressão foi utilizada para determinar o quanto o calor acelerou o envelhecimento em relação à taxa normal.
Os resultados mostraram que a exposição prolongada ao calor intenso aumentou a idade biológica em até 2,48 anos durante o período do estudo, de acordo com o marcador PCPhenoAge. Os marcadores PCGrimAge e DunedinPACE indicaram aumentos de 1,09 e 0,05 anos, respectivamente.
Essas diferenças entre os marcadores biológicos podem refletir diferentes aspectos do envelhecimento, com o PCPhenoAge capturando um espectro mais amplo de estresse térmico de curto e longo prazo, enquanto os outros dois podem ser mais sensíveis à exposição prolongada ao calor.
A metodologia da pesquisa, com uma amostra grande e representativa e o uso do índice de calor, fortalece a confiança nos resultados. No entanto, o estudo não considerou se os participantes tinham ar condicionado em suas casas ou passavam muito tempo ao ar livre.
Diante de um futuro com temperaturas cada vez mais elevadas, é fundamental aprofundar a pesquisa sobre os efeitos do calor na epigenética humana e buscar formas de adaptação para mitigar seus impactos na saúde.
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