O Governo do Rio Grande do Norte, por meio da Secretaria de Estado da Cultura (Secult) e da Fundação José Augusto (FJA), anunciou um projeto que promete revitalizar o Cine Panorama e transformá-lo em uma sala de cinema pública.
A iniciativa atende a uma antiga reivindicação do setor cultural potiguar e visa ampliar o acesso da população a produções audiovisuais locais e nacionais que, frequentemente, ficam de fora do circuito comercial. Atualmente, segundo a ANCINE (2020), Natal é uma das únicas capitais brasileiras, ao lado de Campo Grande (MS), sem um cinema de rua ativo.
O Cine Panorama, localizado no bairro das Rocas, mantém sua estrutura principal preservada, o que facilita a restauração. O espaço, que já funcionou como cinema adulto e igreja evangélica, está fechado há anos. Para sua recuperação, o prédio foi desapropriado pelo Governo do RN e tombado pela Secretaria de Cultura do Estado.
O processo de tombamento passou por avaliações técnicas de arquitetura realizadas pela Fundação José Augusto e pela Secretaria de Infraestrutura. Após a aprovação no Conselho Estadual de Cultura e no Conselho de Gerenciamento do Patrimônio do Governo do RN, foi liberado o uso de recursos da Política Nacional Aldir Blanc (PNAB) 2023 para financiar a restauração, modernização e aquisição de equipamentos culturais.
A Secretária da Cultura, Mary Land Brito, explicou que o projeto também incluirá um edital futuro para a gestão do espaço. “O estado atua para deixar a sala pronta e, com um chamamento público da PNAB, pretendemos promover atividades de exibição, formação de público e envolvimento da comunidade”, afirmou.
Apoio técnico e cultural
Em dezembro, o Conselho de Arquitetura e Urbanismo do RN (CAU/RN) manifestou apoio irrestrito ao tombamento do Cine Panorama. Em nota, o conselho destacou o valor histórico e cultural do espaço: “O Cinema Panorama é símbolo de histórias e afetos, remetendo a uma época em que as salas de cinema integravam diretamente a vida urbana.”
O projeto também contou com mobilizações da sociedade civil. Um grupo de professores, técnicos e estudantes lançou, em novembro, uma campanha para a criação de uma sala de cinema pública em Natal. Eles reivindicam um espaço que exiba, a preços populares, produções fora do circuito comercial.
Além disso, o projeto “Aqui Já Existiu Cinema”, idealizado por estudantes da UFRN, vem resgatando a memória de cinemas de rua em Natal. A pesquisa destacou a viabilidade do Cine Panorama em comparação a outros espaços desativados, como o antigo Cine Nordeste e o Cine Rio Grande, cujas estruturas foram modificadas e descaracterizadas.
Investimentos e impacto cultural
A restauração do Cine Panorama contará com um investimento de R$ 2,5 milhões, com equipamentos de exibição adquiridos por meio de emenda parlamentar da deputada federal Natália Bonavides. Paralelamente, o Teatro de Cultura Popular (TCP) também será reformado, com recursos previstos na PNAB 2024.
De acordo com Mary Land Brito, a reativação do cinema é essencial para ampliar a oferta cultural e atender a demandas reprimidas. “Mais do que recuperar uma sala de cinema, estamos atendendo a uma necessidade atual. Pela primeira vez na história do RN, teremos nove longa-metragens locais, além de curtas e videoclipes, exibidos em um espaço adequado. Queremos também que filmes de mostras e festivais de cinema, que raramente chegam a Natal, tenham seu lugar”, destacou.
História do Cine Panorama
Inaugurado em 29 de janeiro de 1967, o Cine Panorama foi construído no bairro das Rocas para atender à comunidade local, que antes precisava se deslocar para bairros como Ribeira e Alecrim para acessar cinemas. Seu primeiro filme exibido foi “007 Contra o Satânico Dr. No”. Com capacidade para mais de 500 espectadores, o prédio original conta com cadeiras de madeira, mezanino e salas administrativas.
A restauração incluirá melhorias na infraestrutura hidráulica e elétrica, além de adequações de acessibilidade, garantindo um espaço confortável e moderno para a exibição de filmes.
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