A Netflix lança Caos: Os Crimes de Manson, um novo documentário dirigido por Errol Morris que mergulha nas complexidades dos assassinatos de Charles Manson, convidando os espectadores a explorar uma teia de teorias sobre controle mental, experimentos da Cia e assassinatos.
O filme, baseado no livro de 2019 de Tom O’Neill e Dan Piepenbring, Caos: Os Crimes de Manson, a Cia e a História Secreta dos Anos Sessenta, promete uma abordagem multifacetada dos eventos que chocaram o mundo. No entanto, ao invés de oferecer respostas fáceis ou defender uma única teoria da conspiração, Morris examina a própria natureza da narrativa e como construímos histórias em torno do inexplicável.
Caos não se propõe a provar ou refutar qualquer conspiração de controle mental ou envolvimento da Cia. Em vez disso, o documentário questiona como essas narrativas ganham força e se tornam aceitas como verdade, e os desafios de revisá-las uma vez estabelecidas.
Uma abordagem cética
As conversas com O’Neill formam a espinha dorsal do documentário. O autor estabelece ligações entre Charles Manson, um ex-presidiário que construía um culto em São Francisco no final dos anos 1960, e Louis “Jolly” West, um psiquiatra ligado ao projeto MKUltra da Cia através da Haight-Ashbury Free Clinic. O’Neill conecta Manson à clínica e West à clínica, e relaciona a missão do MKUltra ao controle mental exercido por Manson sobre seus seguidores.
O que O’Neill não consegue fazer, e admite, é ligar Manson diretamente a West ou ao MKUltra, ou à Operação Chaos da Cia ou ao Cointelpro do FBI, programas de inteligência americana que investigavam e, muitas vezes, minavam organizações domésticas.
Morris, conhecido por seu estilo de documentário investigativo, não busca validar ou desmistificar as teorias de O’Neill. Ele se mantém curioso e ouve atentamente, permitindo que O’Neill apresente sua versão dos eventos. Ao invés de usar o Interrotron, dispositivo criado por Morris que permite que seus entrevistados falem diretamente com ele e com o público simultaneamente, o diretor opta por filmar longas conversas com ambos na tela, com o foco no rosto de Morris, transmitindo a ideia de que O’Neill está, acima de tudo, apresentando uma performance para um ouvinte interessado.
Morris questiona a narrativa dominante dos assassinatos de Manson, popularizada pelo livro Helter Skelter, do promotor Vincent Bugliosi. O diretor explora como essa narrativa se tornou conveniente e auto-serviente para Bugliosi, e como ela foi utilizada para promover agendas específicas.
Múltiplas perspectivas
O documentário apresenta pelo menos quatro interpretações diferentes dos eventos. Além da teoria da conspiração de O’Neill e da versão de Bugliosi, reforçada pelo promotor Stephen Kay, o filme inclui novas entrevistas em áudio com Bobby Beausoleil, que foi preso por outro assassinato ligado a Manson. Beausoleil oferece uma explicação “mundana” para os eventos, contrastando com a abordagem radical de O’Neill.
Em um ponto intermediário, Morris apresenta os fatos básicos do caso, utilizando transcrições judiciais e entrevistas posteriores com Manson e seus seguidores. No entanto, essa abordagem direta pode parecer um pouco insossa, especialmente para aqueles familiarizados com a história.
Ao evitar o sensacionalismo e a exploração da violência, Morris busca despir os assassinatos de Manson de seu fascínio macabro. O diretor se torna um avatar do interesse do público, fazendo perguntas incisivas e revelando as contradições nas diferentes narrativas.
Caos não oferece respostas fáceis ou soluções definitivas. O documentário é uma exploração da necessidade humana de criar histórias para explicar o inexplicável, e como essas histórias podem moldar nossa compreensão do mundo. Se você gosta de séries que expõem a realidade do sistema prisional, não deixe de conferir que a ‘Cela 211’: Série da Netflix expõe a brutal realidade do sistema prisional mexicano.
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