Pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) estão desenvolvendo um medicamento inovador para tratar a onicomicose, uma infecção fúngica que afeta as unhas e é caracterizada, entre outros sintomas, pelo descolamento da unha da pele.
O produto, apresentado como um esmalte com formulação nanotecnológica, promete maior eficácia e menos efeitos adversos em comparação aos tratamentos tradicionais. A inovação é fruto da pesquisa de Aleph Matthews da Silva Souza, conduzida durante seu mestrado no Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas (PPgCF-UFRN).
Segundo Aleph, o tratamento da onicomicose apresenta desafios pela complexidade em identificar e atingir as causas da doença. “Essa nossa invenção contém um antifúngico de amplo espectro para combater diferentes fungos causadores da doença. Além disso, como é uma formulação nanotecnológica, é capaz de ampliar o potencial de ação do antifúngico e diminuir efeitos adversos do ativo”, explica o pesquisador.
O desafio do tratamento tópico
O tratamento convencional para a onicomicose geralmente é realizado por via oral e apresenta baixa eficácia, além de ser longo e gerar potenciais efeitos colaterais. O orientador do estudo, professor Eryvaldo Sócrates Tabosa do Egito, enfatiza que as limitações das terapias tópicas atuais são causadas pela dificuldade em penetrar a matriz da unha e atingir os fungos no leito ungueal.
“Este dispositivo, devido à nanotecnologia empregada, proporciona que o ativo esteja encapsulado em nanogotículas que conseguem permear a matriz da unha e atingir os fungos no leito, proporcionando ação antifúngica eficiente”, detalha o docente do Departamento de Farmácia da UFRN.
Além de tratar a onicomicose, o esmalte farmacêutico pode ser aplicado no tratamento de outras condições relacionadas às unhas. O leito ungueal, onde os fungos costumam se alojar, é uma estrutura localizada abaixo da placa ungueal, enquanto a matriz ungueal, na base da unha, é responsável pelo crescimento.
Estudos e protótipo
Outro pesquisador envolvido no projeto, Wógenes Nunes de Oliveira, vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde (PPGCSA) e ao Laboratório de Sistemas Dispersos (LaSid) da UFRN, afirma que o protótipo já foi desenvolvido e testado. “O produto passou por estudos preliminares de estabilidade, avaliação de atividade in vitro contra cepas de fungos causadores de onicomicose e testes de permeabilidade em modelo ex vivo”, relata Wógenes.
O desenvolvimento do medicamento também contou com a colaboração de Matheus Cardoso de Oliveira, Lucas Amaral Machado e Éverton do Nascimento Alencar. A equipe busca proporcionar aos pacientes uma alternativa acessível e eficiente, permitindo o uso domiciliar para aplicar diretamente nas unhas afetadas.
Patenteamento e inovação na UFRN
O pedido de patente foi depositado em novembro, com o suporte da Agência de Inovação (Agir) da UFRN. Essa agência auxilia os cientistas no processo burocrático de proteção intelectual, desde a notificação da invenção no sistema SIG até questões como pagamento de taxas e acompanhamento do pedido no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI).
O processo de concessão de patentes no Brasil segue critérios rigorosos, como novidade, atividade inventiva e aplicação industrial. Após o depósito, o INPI mantém o pedido em sigilo por 18 meses antes de publicá-lo e permitir contestações. A análise final pode levar até quatro anos.
Aleph destaca a importância do patenteamento para o avanço da ciência. “A área científica muitas vezes é bastante acadêmica, e muitas das pesquisas que lemos não se traduzem em algo concreto. Quando somos colocados para buscar outras invenções e estudá-las, fortalecemos nossas reivindicações e criamos produtos que realmente impactam a sociedade”, afirma o pesquisador.
Com potencial para revolucionar o tratamento de doenças nas unhas, o esmalte farmacêutico desenvolvido na UFRN alia inovação tecnológica e aplicação prática. A expectativa dos inventores é que a tecnologia, após a aprovação, possa beneficiar milhares de pessoas que enfrentam a onicomicose, permitindo um tratamento mais confortável e eficaz.
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