A desaceleração da economia acabou com a bonança do mercado de trabalho brasileiro – mas o que isso quer dizer, na prática, para quem está desempregado ou quer mudar de emprego? Onde procurar e o que esperar do mercado em um cenário de crise?
Nos últimos anos, se tornaram relativamente comuns nos grandes centros urbanos brasileiros casos de profissionais que pulavam de um emprego a outro, atraídos por salários mais altos e melhores condições de trabalho. Do outro lado do balcão, os empresários reclamavam da alta “rotatividade” dos trabalhadores e ofereciam benefícios para reter funcionários.
Agora que a crise chegou ao mercado de trabalho, mais brasileiros estão perdendo seus empregos, e a competição pelos postos disponíveis está cada vez mais acirrada. A rápida desaceleração do mercado, porém, não quer dizer que as boas oportunidades desapareceram por completo. “Alguns setores estão mais resilientes, gerando emprego, ainda que em ritmo mais lento”, diz Raone Costa, economista da Catho-Fipe que está desenvolvendo um estudo para mapear a abertura de vagas na economia.
Abaixo, confira uma lista de alguns setores e áreas de atuação que, apesar de não estarem imunes à crise econômica, segundo os consultores, ainda têm mostrado alguma resiliência na geração de empregos e oferecem oportunidades para bons profissionais.
1. TECNOLOGIA
Segundo a Catho, site de empregos líder no Brasil, entre os cargos com mais vagas abertas estão analista/técnico de suporte, desenvolvedor e programador.
Para o cargo de diretor de TI, o salário médio seria superior a R$ 17 mil, e para o de gerente de TI, superior a R$ 7 mil, diz a Catho.
“Os sites de internet, empresas de tecnologia e start-ups têm conseguido seguir na contramão (do aumento do desemprego) e se manter em crescimento. E o que é melhor: com salários atraentes”, diz nota da empresa.
Patel, da Hays, confirma que a área ainda está mostrando algum dinamismo no que diz respeito a contratações. “Empresas de todos os setores estão tendo de investir nessa área. E, em especial, vemos uma grande demanda por desenvolvedores”, diz ela.
2. SAÚDE
Henrique Bessa, da Michael Page, diz que as boas perspectivas de longo prazo fazem com que os serviços da área de saúde mantenham as contratações mesmo em meio à crise.
Essa é uma das áreas em que muitas famílias resistem em fazer cortes quando são obrigadas a enxugar o orçamento. E fenômenos como o envelhecimento da população e maior acesso a planos de saúde privados contribuem para criar boas perspectivas para o setor.
Hoje, o segmento já representa 10% do PIB e deve continuar a atrair muitos investimentos – inclusive de fora do Brasil, uma vez que desde o início do ano está permitida a entrada de estrangeiros nessa área.
“Independentemente dos ciclos econômicos, esse é um setor que deve continuar crescendo e atraindo investidores que ‘pensam o Brasil’ no médio e longo prazo”, diz Bessa.
3. EDUCAÇÃO
Os cortes e incertezas ligados a programas governamentais da área de Educação, como o Pronatec (Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego) e o Fies (Fundo de Financiamento Estudantil), tiveram impacto negativo sobre a rede privada de ensino superior.
Mas o mercado de trabalho do setor de Educação como um todo tem mostrado grande resistência em meio à desaceleração, segundo Bessa e Natasha Patel, diretora da consultoria Hays.
“Trata-se de um segmento que atrai muitos investimentos porque exige um aporte inicial relativamente baixo se comparado, por exemplo, à exploração de petróleo ou à construção civil e, no longo prazo as perspectivas são de crescimento”, diz Bessa.
“Por isso, não me surpreende que haja uma resiliência na geração de vagas tanto nas funções acadêmicas quanto nas administrativas.”
4. SEGUROS E SETOR FINANCEIRO
“Os profissionais da área financeira ainda são relativamente demandados, mas os que podem se mover com mais facilidade são aqueles que têm um entendimento mais amplo dos negócios – ou seja, que sabem não só o que é preciso para enxugar os custos, mas também como ampliar as vendas”, opina Almstrom.
Os setores de seguros e os bancos, em particular, estão resistindo bem à desaceleração da economia, apesar de analistas manifestarem alguma preocupação com um aumento dos índices de inadimplência e com a exposição de alguns grupos a empresas que podem passar por dificuldades em função das repercussões da operação Lava Jato.
“Dentro desse setor, há uma demanda crescente por alguns profissionais específicos, como os da área de compliance (que cuida dos controles e regras de transparência), em função dos escândalos internacionais recentes”, diz Bessa.
“Para quem busca uma oportunidade em banco, porém, também é preciso ter em conta que a saída do HSBC do Brasil deve ter um efeito no aumento dos candidatos no mercado. De fato, já estamos recebendo um número maior de currículos de profissionais desse banco.”
5. VENDAS
“O profissional de vendas é quem pode virar o jogo no momento de escassez. Por isso, há uma grande procura por aqueles que de fato conseguem trazer resultado nessa área em empresas de todos os segmentos”, diz Almstrom.
“É claro que muitas redes estão enxugando seu quadro de pessoal. Mas, no geral, as empresas têm um limite para cortar pessoal de vendas ou reduzir contratações, já que isso pode afetar muito seus resultados.”
Natasha Patel, da Hays, diz que no varejo, em particular, um dos efeitos da desaceleração parece ter sido tornar o consumidor mais sensível a preço. “Mas isso também representa uma oportunidade para alguns segmentos específicos”, diz.
“Na área de supermercados, por exemplo, um destaque são os estabelecimentos que fazem vendas no atacado. E se a construção civil está desacelerando as contratações, vemos uma maior resiliência das redes que vendem produtos para a casa. Ou seja, as pessoas podem estar desistindo de comprar um novo imóvel, mas em vez disso, muitas estão reformando o antigo.”
6. AGRONEGÓCIOS
A Confederação Nacional da Agricultura reclama que a inflação elevada, a retração no PIB e as taxas de juros crescentes estariam inibindo as atividades da agropecuária brasileira. Mas o agronegócio ainda deve ter um desempenho melhor que o resto da economia. Entre os setores que estão crescendo se encontram a produção de carnes e os produtos florestais.
“Eles estão se beneficiando bastante do aumento das exportações, agora que o real está mais desvalorizado”, diz Bessa. “Por isso, também vale a pena olhar para esses setores.”
Com informações da BBC Brasil
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