Um estudo recente conduzido por pesquisadores da Universidade Swinburne, na Austrália, indica que baixas doses de metilfenidato, um medicamento comumente usado no tratamento do Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), podem melhorar o desempenho de direção em pessoas sem o transtorno. A pesquisa, publicada no Journal of Psychopharmacology, sugere que o medicamento pode ajudar a manter o foco em viagens longas e monótonas, reduzindo desvios na faixa e variações de velocidade.
O metilfenidato, amplamente conhecido pelo nome comercial Ritalina, é prescrito para até 90% das pessoas com TDAH. Para indivíduos com o transtorno, dirigir sem a medicação pode ser comparado a dirigir sem óculos, aumentando o risco de acidentes de trânsito, multas e frenagens bruscas. Estudos anteriores já haviam demonstrado que o uso do metilfenidato melhora a performance de direção em pessoas com TDAH, e pode até mesmo prolongar suas vidas.
No entanto, o uso não prescrito de estimulantes como o metilfenidato é um problema crescente, com cerca de 5 milhões de adultos nos EUA utilizando esses medicamentos sem receita, muitas vezes em doses mais altas ou por períodos mais longos. É crucial entender os efeitos dessa prática, especialmente em situações de direção, quando se enfrenta viagens extensas e repetitivas.
O estudo da Universidade Swinburne envolveu 25 motoristas saudáveis, sem diagnóstico de TDAH. Os participantes receberam 10 mg de metilfenidato ou um placebo, 85 minutos antes de entrar em um simulador de direção que recriava uma rodovia australiana de 105 km. Cada participante fez o teste duas vezes, alternando entre o medicamento e o placebo. Durante 40 minutos, eles deveriam manter uma velocidade de 100 km/h na faixa da esquerda, realizando ultrapassagens quando necessário.
O estudo monitorou os movimentos oculares dos motoristas, utilizando uma câmera no painel para registrar a duração e taxa de fixação do olhar, além de analisar os desvios da trajetória na faixa. Um algoritmo matemático avaliou a dispersão e a estrutura do comportamento visual dos participantes.
Os resultados mostraram que o metilfenidato melhorou significativamente a direção, reduzindo desvios na faixa e variações de velocidade, principalmente na segunda metade do teste. Embora tenha havido uma redução na duração da fixação do olhar, outras métricas oculares não foram afetadas. Os participantes que tomaram o medicamento tiveram um controle veicular superior e mantiveram uma velocidade mais constante, comparados aos que receberam placebo. O estudo não identificou problemas no escaneamento visual dos participantes.
Estudos anteriores levantaram preocupações sobre um possível efeito de “visão de túnel” causado por psicoestimulantes, que poderia limitar a capacidade de resposta a obstáculos inesperados na periferia do campo de visão. No entanto, esse efeito não foi observado no estudo atual, possivelmente devido à baixa dose e ao curto período de uso do medicamento.
Os autores enfatizam que o estudo não avaliou os efeitos de doses mais altas ou uso prolongado do metilfenidato, situações mais comuns em casos de uso não autorizado, que podem levar a acidentes de trânsito. Portanto, é crucial realizar mais pesquisas para entender melhor as alterações no comportamento ocular causadas pelo metilfenidato e outros psicoestimulantes.
Para mais informações, o estudo completo está disponível no Journal of Psychopharmacology.
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