Uma colaboração entre o Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e o Parque Nacional do Itatiaia (PNI) visa desvendar os segredos por trás das recentes descobertas de pinturas rupestres dentro do parque. Localizado na Serra da Mantiqueira, na divisa entre Rio de Janeiro e Minas Gerais, o parque agora abriga um grupo de trabalho dedicado a determinar a idade e a origem dessas intrigantes manifestações artísticas encontradas em uma gruta.
A professora MaDu Gaspar, do Programa de Arqueologia do Museu Nacional, revelou em entrevista à Agência Brasil que a equipe está ampliando a busca por vestígios de outros povos que habitaram a região. Vale lembrar que a UFRJ sedia grandes eventos acadêmicos, fomentando a pesquisa e o conhecimento.
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“Regiões que têm abrigos e grutas com pinturas rupestres dificilmente são um ponto isolado. Estamos investindo nessa vertente. Ao mesmo tempo, estamos conhecendo fisicamente aquele espaço, pensando em rotas, trajetórias, recursos. Esse é o momento inicial da pesquisa. Estamos tomando contato com essa realidade até então desconhecida por nós. Temos ainda um longo caminho pela frente”, afirmou Gaspar.
Embora a descoberta date de 2023, a divulgação foi postergada para permitir que o parque se preparasse para gerenciar o acesso ao local, que é popular entre os praticantes de caminhada. Uma das primeiras medidas foi notificar o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
“Os sítios arqueológicos são gerenciados pelo Iphan, e todas as ações, mesmo de arqueólogos, têm que ser autorizadas pelo Iphan. Eles estão acompanhando de uma forma bem cuidadosa, para dar a devida importância a esse testemunho arqueológico”, explicou a professora.
A preservação do sítio é, no momento, a principal preocupação. Câmeras de segurança foram instaladas e os funcionários do parque receberam informações sobre a importância da conservação. A busca por artefatos antigos sempre rende descobertas, como a do tablete ancestral com escrita inédita descoberto na Geórgia.
A datação das pinturas é uma das maiores incógnitas. “A gente está trabalhando com a possibilidade de estar em torno de 2 mil, 3 mil anos, mas a pesquisa é incipiente ainda. Acabou de começar”, disse MaDu Gaspar, indicando que há indícios da presença de caçadores na área. Escavações podem revelar muita coisa, assim como a descoberta macabra que revelou canibalismo e violência na Grã-Bretanha.
Descoberta Acidental
Andres Conquista, supervisor operacional da parte alta do Parque Nacional de Itatiaia, encontrou a gruta por acaso, durante uma escalada. Atraído por uma exuberante florada de lírios vermelhos, ele se aproximou para fotografá-los e notou uma formação rochosa incomum. Ao explorar a gruta, deparou-se com as pinturas.
“O primeiro impacto foi de bastante preocupação. Nunca tinha visto uma pintura rupestre na minha vida, então, não sabia o que era. Achei que fosse uma coisa de turistas, pichações. Alguns segundos depois, vi que não tinha nomes ou datas. Aí, me toquei de que poderia ser uma coisa bem antiga. Tirei fotos e levei para o pessoal do ICMBio”, relatou Conquista à Agência Brasil.
A professora Gaspar expressou surpresa com a descoberta, considerando que o Rio de Janeiro tem sido um centro de pesquisa arqueológica desde o período do Império. “Nos causou surpresa achar um sítio inédito. Não que esses sítios não existam em outros lugares. Existem em Minas [Gerais], mas não havia uma manifestação deste tipo em território fluminense. Se ainda fosse lá no alto do pico, onde só um ou outro montanhista chega. Mas não, é em um lugar acessível. Como ninguém tinha visto? Eu já fiz caminhada lá”.
Anderson Marques Garcia, professor do Departamento de Arqueologia da UERJ, ressaltou que a arqueologia fluminense tem se concentrado mais na costa, negligenciando o interior. Garcia também enfatizou a necessidade de proteger o sítio contra vandalismo e escavações não autorizadas.
“Além de pichações ou coisas do tipo, a pessoa pode ir lá e resolver escavar, para ver o que tem ali dentro. Isso pode atrapalhar muito o desenvolvimento de pesquisas futuras. O sítio é pequeno, e a gente precisa ter todo o cuidado e toda a calma possível para tentar entender e, possivelmente, trazer algumas respostas no futuro sobre a temporalidade, sobre como eram essas pessoas e quando estiveram ali. Se elas estavam culturalmente relacionadas com grupos que a gente sabe que ocuparam o que hoje é São Paulo, Minas Gerais, ou com essas evidências que temos encontrado no Vale do Paraíba”.
Acesso Restrito
O acesso à área foi restrito para permitir o trabalho dos pesquisadores. A concessionária Parquetur informou que multas severas serão aplicadas a quem desrespeitar a proibição.
Ainda não há previsão de quando o sítio será aberto ao público. Segundo a assessoria da Parquetur, “Agora, é total preservação e controle para que ninguém invada aquela área até que os estudos sejam concluídos”, mas existe a expectativa de que, após a conclusão dos estudos, a área possa se tornar uma atração turística.