Durante o seminário 'Desafios e Experiências da Educação no Nordeste', realizado em Natal, a representante do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), Erondina Silva, apresentou uma proposta inovadora: um modelo educacional que não reprove os estudantes. O evento, promovido pela Secretaria de Educação, do Esporte e do Lazer do Rio Grande do Norte, com o apoio do Instituto Cultiva e do Consórcio Nordeste, reuniu autoridades do governo federal e dos nove estados da região para debater melhorias no setor.
O principal foco da discussão foi a distorção idade-série, considerada por Erondina Silva como a mais grave questão educacional. Segundo a representante do Unicef, essa problemática está diretamente ligada ao chamado fracasso escolar, gerando um ciclo de desmotivação que afasta os estudantes das escolas. Ela destacou que a reprovação, especialmente entre jovens do Norte, Nordeste, periferias, comunidades indígenas e de baixa renda, é naturalizada, inclusive pelas famílias. “Isso é uma cultura, está no nosso imaginário, inclusive das famílias. O pai, às vezes, fala: Vai ser melhor para ele”, alertou, mencionando que há mais de 4,3 milhões de estudantes nessa situação.
O programa 'Avexadas para Aprender', implementado pelo governo do Rio Grande do Norte, em parceria com a União dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) e o Itaú Social, surgiu como uma resposta a esse desafio. Integrado à estratégia 'Trajetórias de Sucesso Escolar' do Unicef, o programa busca oferecer aos estudantes uma maneira de 'contrariar destinos', combatendo o desânimo e prevenindo a evasão escolar. Os principais objetivos do projeto incluem reduzir a sensação de desmotivação causada pelo baixo desempenho e pela reprovação, evitar o abandono dos estudos e enfrentar a distorção idade-série (atraso escolar de dois anos ou mais).
Desde seu início, em janeiro, o programa 'Avexadas para Aprender' tem evoluído, abordando temas como língua portuguesa, alfabetização e multiletramento. Este último conceito inclui a diversidade e a inclusão do mundo digital no currículo escolar, reconhecendo a importância da tecnologia na vida dos estudantes.
Inovação e Criatividade na Bahia
Em outro destaque do seminário, foi apresentado o projeto 'Agência de Notícias na Escola', desenvolvido na Bahia pela Secretaria de Educação do estado e o Instituto Anísio Teixeira (IAT). Lançado em 2023, o projeto busca aplicar os princípios da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) de maneira inovadora. Através da produção de notícias, os estudantes desenvolvem o pensamento crítico, a cidadania e o trabalho colaborativo.
Cada escola participante recebe cerca de R$ 20 mil para a compra de equipamentos, como notebooks, câmeras e microfones, com o IAT fornecendo formação e assessoria técnica e pedagógica. A metodologia utilizada é baseada no conceito de "aprender fazendo" (learning by doing), de Anísio Teixeira. Em um ano, o projeto expandiu sua atuação, passando de 50 para 81 escolas em 74 municípios, envolvendo atualmente 162 professores e 855 alunos. Essa iniciativa tem proporcionado relações mais horizontais, reconhecido o trabalho dos estudantes, aprimorado habilidades de leitura, escrita, pesquisa e argumentação, além de aumentar o contato dos alunos com seus territórios, o desenvolvimento da autonomia e responsabilidade, e a expressão de suas ideias.
A educadora Charlene de Jesus, mestre em Linguagens, compartilhou sua experiência com o projeto e a importância do letramento racial em suas aulas. Ela mencionou que seus alunos estão organizando a cobertura de um evento em Salvador, demonstrando o engajamento e a identificação com a área do jornalismo. "É importante mostrar a eles que é necessário fazer um trabalho de qualidade, entregar a essa comunidade, a esses jovens. São jovens falando com jovens. Eles têm uma linguagem própria. Se eu falasse, talvez não tivesse o alcance que eles têm", disse Charlene.
O projeto também aborda temas como educação midiática, a importância de discutir *fake news* na escola, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e o mercado de trabalho, valorizando os cursos técnicos oferecidos nas escolas. Os alunos já tiveram a oportunidade de cobrir eventos importantes, como a agenda da ministra da Cultura, Margareth Menezes, durante os encontros do G20. Além disso, outros veículos, como o Suplemento Literário Escolar e o Sertãocast, também estão em funcionamento.
Charlene concluiu: “A gente tem que parar de diminuir o aluno. Essa educação que não permite mais eu me colocar em patamar acima do aluno. Eu sou mediadora daquele conhecimento, porque tenho mais experiência, mas ele fazem uma troca que é imensa”.
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