Desigualdade educacional: Alunos de baixa renda apresentam menor aprendizado em leitura no Brasil

Desigualdade educacional: Alunos de baixa renda apresentam menor aprendizado em leitura no Brasil
Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Um estudo recente revelou um cenário preocupante sobre a desigualdade educacional no Brasil. Alunos de famílias com menor nível socioeconômico (NSE) apresentam um desempenho significativamente inferior em leitura, com quase metade demonstrando um aprendizado abaixo do nível básico. A análise dos microdados do Estudo Internacional de Progresso em Leitura (PIRLS), conduzida pelo Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional (Iede), expõe essa disparidade alarmante.

Enquanto 83,9% dos alunos do 4º ano do ensino fundamental, pertencentes a famílias com maior poder aquisitivo, alcançam um aprendizado adequado em leitura, apenas 26,1% dos estudantes mais pobres atingem o mesmo patamar. Essa diferença de 58 pontos percentuais é a maior entre os países participantes da avaliação que disponibilizaram esses dados.

“Não é que não exista um cenário de boa aprendizagem no Brasil, existe, só que é para poucos. Isso tem que incomodar muito a gente”, alerta Ernesto Martins Faria, diretor-fundador do Iede. Ele questiona a razão pela qual um grupo seleto de estudantes consegue alcançar um nível de aprendizado competitivo internacionalmente, enquanto a situação dos alunos de baixa renda é tão crítica, com muitos sequer atingindo o nível básico.

Contexto Socioeconômico e Desempenho

A pesquisa aponta que apenas 5% dos estudantes brasileiros pertencem a famílias com renda igual ou superior a R$ 15 mil por mês, representando o grupo com melhor desempenho em leitura. A maioria dos alunos (64%) vive em condições socioeconômicas desfavoráveis, com renda familiar abaixo de R$ 4 mil mensais, e são justamente esses estudantes que apresentam os piores resultados. É importante analisar como a desigualdade educacional se manifesta em diversas regiões, como em São Paulo, onde o Ideb está abaixo da média em 45 distritos.

Atrás do Brasil, os Emirados Árabes Unidos (52 pontos percentuais), a Hungria e a região francesa da Bélgica (ambos com 51 pontos percentuais) são os países com as maiores diferenças entre os grupos de maior e menor NSE.

A Importância da Leitura

O estudo PIRLS, aplicado a cada cinco anos pela Associação Internacional para Avaliação do Desempenho Educacional (IEA), avaliou mais de 4.900 alunos do 4º ano do ensino fundamental em 187 escolas públicas e privadas de todo o Brasil em 2021. Os resultados gerais da edição de 2023 já haviam indicado que quase 40% dos estudantes brasileiros do 4º ano não dominam habilidades básicas de leitura.

Segundo Faria, a habilidade de leitura é fundamental para o desenvolvimento da autonomia dos estudantes em diversas disciplinas. “Quando a gente está falando de leitura, a gente não tá falando de uma disciplina específica. A gente tá falando de uma competência que é basilar […] Então, a partir da leitura, você vai poder desenvolver várias competências”, explica. Programas como o Black STEM são importantes para impulsionar o acesso à educação de estudantes negros.

Outras Desigualdades Identificadas

A análise do Iede também revela disparidades de gênero no desempenho em leitura, com os meninos apresentando percentual maior de alunos abaixo do nível básico (44,1%) em comparação com as meninas (33,3%). Além disso, o bullying também é um fator que afeta o desempenho escolar, atingindo muitos estudantes.

O contato com a leitura antes do ensino fundamental também se mostrou um fator relevante. Entre os alunos que tiveram contato frequente com a leitura antes dessa etapa, 49,7% alcançaram o patamar de aprendizado adequado, enquanto entre aqueles que tiveram contato apenas “às vezes”, a porcentagem cai para 36%.

O hábito de leitura dos pais também influencia o desempenho dos filhos. Entre os filhos de pais que dizem “não gostar de ler”, o percentual de aprendizado adequado em leitura foi de 32,6%, enquanto entre os filhos de pais que dizem “gostar muito de ler”, 47,6% tiveram um aprendizado adequado.

Para Faria, os dados reforçam a urgência de políticas públicas que visem reduzir as desigualdades educacionais, direcionando mais recursos para regiões vulneráveis e incentivando a presença de bons professores nessas áreas. É importante lembrar de iniciativas como o Pé-de-Meia, que auxilia financeiramente estudantes de baixa renda. Além disso, vale mencionar que o Enem 2025 está com isenção da taxa de inscrição aberta para estudantes que se encaixam nos requisitos.

Deixe um comentário

Seu e‑mail não será publicado.

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.