Neste domingo, 16 de março de 2025, o Brasil relembra os 35 anos de um dos episódios mais marcantes e traumáticos de sua história econômica recente: o Plano Collor. Implementado em 1990, o plano visava combater a hiperinflação que assolava o país, mas acabou por gerar um impacto profundo e duradouro na população.
O Plano Collor I, liderado pela então ministra da Economia Zélia Cardoso de Mello, representou uma tentativa drástica de conter a escalada inflacionária. As medidas incluíram o congelamento de contas correntes e cadernetas de poupança, a substituição do cruzado novo pelo cruzeiro, a redução de gastos governamentais, a privatização de empresas estatais, a abertura econômica e a reforma administrativa.
O confisco da Poupança: o trauma central
A medida mais controversa e impactante foi, sem dúvida, o confisco dos saldos das contas bancárias e poupanças acima de 50 mil cruzados novos. Essa ação, que visava reduzir a quantidade de moeda em circulação, gerou pânico e insegurança, marcando para sempre a memória de quem a vivenciou.
O professor Leonardo Weller, da Escola de Economia de São Paulo da FGV, explica que, na época, o Banco Central não dispunha das ferramentas de controle monetário atuais. A ideia era provocar uma recessão para diminuir a inflação e quebrar a inércia inflacionária, confiscando o dinheiro da população.
Apesar das intenções, o Plano Collor I não obteve o sucesso esperado. A inflação não foi controlada de forma efetiva, e a economia brasileira mergulhou em uma profunda recessão. A medida gerou um trauma generalizado, especialmente na classe média, que teve seus recursos confiscados.
O governo foi forçado a recuar em algumas medidas, mas o impacto psicológico do confisco permanece até hoje. O medo de novas intervenções governamentais na economia ainda assombra muitos brasileiros, e políticos frequentemente precisam reafirmar o compromisso de não repetir tais medidas.
O fracasso do Plano Collor serviu como um aprendizado para o futuro. O Plano Real, implementado em 1994, foi cuidadosamente estruturado para evitar traumas semelhantes, com uma abordagem mais transparente e gradual.
Aspectos positivos em meio ao caos
Apesar do trauma, o Plano Collor também apresentou alguns pontos positivos. O programa de ajuste fiscal e privatizações ajudou o governo a obter recursos, e a redução de tarifas de importação abriu o mercado para produtos estrangeiros, forçando a indústria nacional a aumentar sua produtividade.
Weller argumenta que a liberalização comercial contribuiu para a evolução da economia, embora tenha gerado dificuldades para algumas indústrias que não conseguiram competir. Essas medidas, de certa forma, pavimentaram o caminho para o Plano Real.
Principais medidas do Plano Collor I:
- Confisco de Ativos Financeiros: Congelamento dos saldos das contas correntes e cadernetas de poupança que excediam 50 mil cruzeiros. Aplicações financeiras como o overnight tiveram os saques limitados a 25 mil cruzeiros ou 20% do total, o que fosse maior.
- Mudança da Moeda: Substituição do cruzado novo pelo cruzeiro.
- Ajuste Fiscal e Privatizações: Redução das despesas do governo, reformas administrativas e início das privatizações.
- Abertura Comercial: Redução das tarifas de importação e abertura econômica.
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