Um estudo conjunto da NASA e do Departamento de Defesa dos EUA (DOD) prevê que a intrusão de água salgada em aquíferos costeiros afetará grande parte do mundo até 2100. A pesquisa, publicada na revista *Geophysical Research Letters*, analisou mais de 60.000 bacias hidrográficas costeiras globalmente, projetando os impactos combinados da elevação do nível do mar e da diminuição da recarga de água doce.
A intrusão de água salgada ocorre naturalmente na zona de transição entre a água doce e a água salgada abaixo das linhas costeiras. A água doce, reabastecida pela chuva, geralmente flui para o oceano, enquanto a água salgada é empurrada para dentro do continente pela pressão do mar. O equilíbrio entre essas forças mantém a água doce em um lado e a água salgada no outro. No entanto, as mudanças climáticas estão alterando esse equilíbrio.
O estudo aponta que a elevação do nível do mar, impulsionada pelo aquecimento global, aumenta a força que empurra a água salgada para o interior. Simultaneamente, a diminuição das chuvas e padrões climáticos mais quentes resultam em uma recarga mais lenta dos aquíferos, enfraquecendo a força que move a água doce. Essas duas forças combinadas resultarão em intrusão salina.
Considerando apenas a elevação do nível do mar, o estudo estima que 82% das bacias hidrográficas costeiras analisadas sofrerão intrusão de água salgada. A zona de transição se moveria até 200 metros em direção ao interior. Áreas vulneráveis incluem regiões baixas no Sudeste Asiático, a costa do Golfo do México e grande parte da costa leste dos EUA.
A diminuição da recarga, isoladamente, afetaria 45% das bacias, com a zona de transição avançando até 1.200 metros para o interior em algumas regiões. Áreas particularmente afetadas seriam a Península Arábica, a Austrália Ocidental e a península de Baja California, no México. Porém, em cerca de 42% das bacias hidrográficas costeiras, a recarga de água subterrânea aumentará, tendendo a empurrar a zona de transição em direção ao oceano, em alguns casos superando o efeito da intrusão de água salgada causada pela elevação do nível do mar.
Combinando os efeitos da elevação do nível do mar e da alteração da recarga de água subterrânea, a pesquisa prevê que 77% das bacias hidrográficas costeiras terão intrusão salina até o final do século. A taxa de recarga de água subterrânea afetará a distância da intrusão, enquanto a elevação do nível do mar determinará sua abrangência. Kyra Adams, principal autora do estudo e cientista de águas subterrâneas no JPL, destaca que as implicações para o gerenciamento variam conforme o fator dominante: em áreas com baixa recarga, o foco deve ser na proteção dos recursos hídricos; em áreas com risco de saturação de aquíferos devido à elevação do nível do mar, a diversificação de fontes de água pode ser a solução.
O estudo, cofinanciado pela NASA e pelo DOD, utilizou dados do banco de dados HydroSHEDS, administrado pelo World Wildlife Fund, que usa observações de elevação da missão SRTM (Shuttle Radar Topography Mission) da NASA. Um modelo que leva em conta a recarga de água subterrânea, a elevação do nível freático, as densidades de água doce e salgada e a migração costeira devido à elevação do nível do mar foi utilizado para estimar as distâncias de intrusão de água salgada até 2100.
Ben Hamlington, coautor do estudo e climatologista do JPL, comparou a situação com as inundações costeiras: "À medida que o nível do mar sobe, aumenta o risco de inundações em todos os lugares. Com a intrusão de água salgada, vemos que a elevação do nível do mar aumenta o risco básico de as mudanças na recarga de água subterrânea se tornarem um fator sério." Ele enfatiza a importância de uma estrutura global consistente para auxiliar países que não possuem expertise para realizar estudos locais.
https://agupubs.onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1029/2024GL110359
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