Ciência

Descobertas e Avanços: De Exoplanetas com Atmosfera a Ferns com Evolução Reversa e a Crise da Saúde nos EUA

Em um ano de grandes avanços científicos, novas descobertas desafiam concepções estabelecidas sobre o universo e a vida na Terra. Um estudo recente com o Telescópio Espacial James Webb (JWST) sugere que TRAPPIST-1b, um exoplaneta rochoso, pode ter uma atmosfera, contradizendo pesquisas anteriores. Enquanto isso, na biologia, cientistas descobriram que algumas espécies de samambaias podem reverter seus processos evolutivos. E, em uma análise alarmante, constata-se um aumento na disparidade entre expectativa de vida e qualidade de vida nos Estados Unidos.

O Exoplaneta TRAPPIST-1b e sua Atmosfera Misteriosa

Observações recentes do exoplaneta TRAPPIST-1b, localizado a cerca de 40 anos-luz da Terra, indicam que este mundo rochoso, do tamanho da Terra, pode possuir uma atmosfera densa rica em dióxido de carbono, ou apresentar intensa atividade geológica. Esta descoberta, feita com o JWST, contrasta com um estudo anterior que sugeria que TRAPPIST-1b seria um planeta sem atmosfera, com uma superfície árida. Segundo o astrônomo Jeroen Bouwman do Instituto Max Planck de Astronomia, "a ideia de um planeta rochoso com uma superfície altamente intemperizada sem atmosfera é inconsistente com as medições atuais", o que leva a crer que a superfície de TRAPPIST-1b é muito jovem, com cerca de 1.000 anos.

A nova análise sugere que a superfície de TRAPPIST-1b, rica em minerais vulcânicos, pode indicar atividade tectônica ou vulcânica, ou até mesmo ser resultado de forças gravitacionais exercidas pela estrela e outros exoplanetas do sistema. A possibilidade de uma atmosfera rica em dióxido de carbono também se encaixa nas novas observações. De acordo com o astrônomo Michiel Min do Instituto Holandês de Pesquisa Espacial, a presença de uma névoa atmosférica pode causar uma inversão térmica, onde o dióxido de carbono emite luz em vez de absorvê-la. "As inversões térmicas são comuns, como na atmosfera de Titã, lua de Saturno", diz Min, ressaltando que a química atmosférica de TRAPPIST-1b pode ser algo nunca antes visto.

Comparativo entre os mundos do sistema TRAPPIST-1 e o nosso Sistema Solar
Comparativo entre os mundos do sistema TRAPPIST-1 e o nosso Sistema Solar, mostrando o tamanho, densidade e iluminação dos planetas. (NASA/JPL Caltech)

Evolução Reversa em Samambaias: Um Novo Olhar sobre a Biologia

Em outra área da ciência, uma pesquisa publicada na revista Evolution desafiou a ideia de que a evolução é sempre um processo linear. O estudo descobriu que algumas samambaias, um dos grupos de plantas mais antigos da Terra, podem reverter suas estratégias reprodutivas, evoluindo "para trás" para formas menos especializadas. Segundo o biólogo Jacob S. Suissa, da Universidade do Tennessee, a evolução é um processo complexo que não necessariamente segue um caminho progressivo, mas se adapta às mudanças nas pressões seletivas.

Este achado contradiz a lei de Dollo, que sugere que a evolução é uma via de mão única, na qual organismos não retornam a estados anteriores, mesmo que as condições ambientais se repitam. A equipe de Suissa e Makaleh Smith, da Universidade de Harvard, analisou diferentes espécies de samambaias e descobriu que algumas desenvolveram dimorfismo (folhas separadas para fotossíntese e reprodução) e depois reverteram para monomorfismo (uma única folha para ambas as funções). A capacidade de modificar suas estruturas reprodutivas dá às samambaias uma flexibilidade que as plantas com sementes não possuem, porque estas últimas têm estruturas muito mais especializadas, como as sementes e flores.

Samambaia enrolada
Fiddlehead da samambaia natalina (Polystichum acrostichoides). (Jacob S. Suissa/CC BY-ND)

Crise de Saúde nos EUA: Disparidade entre Expectativa e Qualidade de Vida

Uma pesquisa abrangente da Mayo Clinic, que analisou dados de 183 países membros da Organização Mundial da Saúde (OMS), revelou que a disparidade entre a expectativa de vida e a qualidade de vida está aumentando globalmente. O estudo constatou que as pessoas, em 2019, viviam cerca de 9,6 anos de suas vidas com doenças ou incapacidades, um aumento de 13% em comparação com 2000. Embora a expectativa de vida tenha aumentado 6,5 anos, a expectativa de vida ajustada pela saúde aumentou apenas 5,4 anos no mesmo período.

Nos Estados Unidos, o hiato entre expectativa de vida e expectativa de vida saudável é particularmente acentuado. Entre 2000 e 2019, a expectativa de vida das mulheres americanas aumentou de 79,2 para 80,7 anos, enquanto que a expectativa de vida saudável permaneceu praticamente inalterada. Para os homens, a expectativa de vida aumentou de 74,1 para 76,3 anos, mas a expectativa de vida saudável cresceu apenas 0,6 anos. Isso significa que, em média, uma mulher americana passaria os últimos 12,4 anos de sua vida sofrendo com doenças ou incapacidades. A disparidade entre tempo de vida e tempo de vida saudável nos EUA é 29% maior do que a média global, de acordo com os pesquisadores da Mayo Clinic.

O estudo revela que mulheres tendem a viver mais do que homens, mas também acumulam mais anos de vida com problemas de saúde, principalmente devido a condições crônicas. Os maiores hiatos entre longevidade e qualidade de vida foram observados nos EUA, Austrália, Nova Zelândia, Reino Unido e Noruega, enquanto que os menores foram encontrados em países como Lesoto, República Centro-Africana e Somália.

Taxa estimada do hiato global de saúde-vida em 2019
Taxa estimada do hiato global de saúde-vida baseada nos países membros da OMS em 2019. (Mayo Clinic)

Essas descobertas sublinham a necessidade de um olhar mais atento sobre as causas dessas disparidades e de uma mudança para sistemas de saúde mais focados na prevenção e no bem-estar. A pesquisa foi publicada na JAMA Network Open.


Hubble Revela Galáxia Espiral de Perfil com Estrutura Curva

O Telescópio Espacial Hubble, em uma nova imagem, capturou a galáxia espiral UGC 10043, que se destaca por ser vista de perfil. Essa perspectiva nos permite observar o disco da galáxia como uma linha nítida, com faixas de poeira que obscurecem o brilho, além de regiões de formação estelar que brilham por trás dessas nuvens escuras. O centro da galáxia se revela um bojo de formato oval, cuja dimensão incomum pode ser resultado da absorção de material de uma galáxia anã próxima. O disco da UGC 10043 também aparece distorcido, curvando-se para cima em uma extremidade e para baixo na outra. Uma curiosidade dessa imagem é que ela é uma composição de dados coletados em 2000 e 2023, demonstrando a longevidade e o valor do arquivo de dados do Hubble.

Galáxia espiral vista de lado
Galáxia espiral UGC 10043 vista de perfil pelo Telescópio Espacial Hubble. (ESA/Hubble & NASA, R. Windhorst, W. Keel)

Retrospectiva de 2024: Destaques da NASA no Centro Espacial Kennedy

O ano de 2024 foi um período de intensa atividade para a NASA e seus parceiros no Centro Espacial Kennedy, com recordes de lançamentos e avanços em diversas missões. O ano começou com o primeiro lançamento da iniciativa CLPS, com a missão Peregrine One, que estudou a exosfera lunar. Em seguida, a Axiom Mission 3 levou mais quatro astronautas para a Estação Espacial Internacional, realizando experimentos em microgravidade. A Northrop Grumman, por sua vez, enviou mais de 3 toneladas de suprimentos para a estação na missão de reabastecimento NG-20, lançada pelo foguete Falcon 9, da SpaceX.

A missão PACE, da NASA, lançada em fevereiro, passou a estudar os oceanos e os efeitos das mudanças climáticas, observando o fitoplâncton em novas formas. Em seguida, a missão IM-1 da Intuitive Machines pousou no polo sul da Lua, enquanto a equipe da missão Artemis II simulava o resgate dos tripulantes no oceano. Em março, mais uma tripulação foi enviada para a ISS, na missão Crew-8, e a SpaceX realizou seu 30º envio de suprimentos para o laboratório orbital. Em abril, o Centro Espacial Kennedy acompanhou e compartilhou com o público o eclipse solar total que cruzou a América do Norte, mostrando o fenômeno em todas as cidades onde a totalidade do eclipse aconteceu.

Ainda, a espaçonave Dream Chaser da Sierra Space chegou ao Centro Kennedy para as preparações finais para sua primeira missão, prevista para 2025, enquanto autoridades do centro homenageavam a localização da sua antiga sede, com uma placa histórica. Em junho, a NASA lançou a Crew Flight Test da Boeing, levando pela primeira vez astronautas para a ISS em uma espaçonave Starliner, no mesmo mês que a NOAA lançou o satélite GOES-U, o último da série GOES-R. Em julho, o estágio principal do foguete SLS da missão Artemis II chegou a Kennedy para as preparações finais da missão, e, em agosto, a Northrop Grumman enviou mais suprimentos para a ISS. Em setembro, a cápsula Starliner da Boeing pousou com segurança no Novo México após completar sua missão, e, em seguida, mais dois astronautas foram enviados para a ISS na missão Crew-9.

Em outubro, o lançador móvel da NASA foi levado de volta para o Edifício de Montagem de Veículos e a sonda Europa Clipper foi lançada para explorar a lua de Júpiter, enquanto a tripulação da missão Crew-8 retornava para a Terra após sua jornada. Em novembro, mais de 2,7 toneladas de carga foram enviadas para a ISS e os engenheiros começaram a montagem dos propulsores da missão Artemis II. O ano de 2024 terminou com um recorde de mais de 80 lançamentos do Centro Espacial Kennedy, indicando que o ano de 2025 também terá muitas novidades. Leia mais sobre este ano recorde em lançamentos espaciais na nossa matéria: NASA Kennedy: 2024, um ano recorde em lançamentos espaciais.

Foguete Falcon Heavy da SpaceX lançando a sonda Europa Clipper.
Foguete Falcon Heavy da SpaceX lançando a sonda Europa Clipper para Júpiter. (SpaceX)

Perseverance da NASA Chega ao Topo da Cratera Jezero em Marte

O rover Perseverance da NASA alcançou o topo da borda da Cratera Jezero em Marte, após uma escalada de três meses e meio. O veículo está agora em uma região nunca antes explorada, onde realizará sua quinta campanha científica. Durante a escalada, que incluiu trechos com até 20% de inclinação, a equipe desenvolveu novas estratégias de direção e manobras que levaram o rover ao topo da região chamada “Lookout Hill”. Após superar esse desafio, a próxima parada do Perseverance é “Witch Hazel Hill”, onde as rochas oferecem um olhar sobre o passado do planeta. Saiba mais sobre a jornada do Perseverance em nossa matéria: Perseverance alcança o topo da cratera Jezero em Marte.

“A campanha Northern Rim nos traz uma nova riqueza científica, à medida que o Perseverance se aventura em uma geologia completamente nova”, disse Ken Farley, cientista do projeto. “Ela marca nossa transição de rochas que preencheram parcialmente a Cratera Jezero quando foi formada por um impacto há cerca de 3,9 bilhões de anos, para rochas de baixo do interior de Marte que foram lançadas para cima para formar a borda da cratera após o impacto”. Os cientistas acreditam que essas rochas mais antigas podem revelar informações sobre a formação de Marte, e até mesmo do nosso planeta, oferecendo informações sobre as condições ambientais do início do Sistema Solar. O rover irá coletar amostras das rochas da região, que serão analisadas futuramente na Terra.

Visão do rover Perseverance a partir do topo da Cratera Jezero
Visão do rover Perseverance a partir do topo da Cratera Jezero. (NASA/JPL-Caltech)

Relatório Técnico da NESC de 2024

O Centro de Engenharia e Segurança da NASA (NESC) divulgou seu Relatório Técnico de 2024, detalhando os trabalhos técnicos, avanços em engenharia e esforços de captura de conhecimento realizados no ano fiscal de 2024. O relatório destaca testes, análises e avaliações independentes conduzidos em projetos de alto risco da NASA, visando garantir a segurança e o sucesso das missões. O documento resume avaliações técnicas solicitadas por partes interessadas, bem como boletins e técnicas inovadoras resultantes desses trabalhos. Inclui também resumos das realizações de vários membros da NASA em suas respectivas áreas, bem como a experiência de várias unidades da agência. Para mais informações sobre o Relatório Técnico da NESC, acesse: NASA divulga relatório anual do Centro de Engenharia e Segurança.

Este relatório anual oferece uma visão das atividades do NESC em diversas áreas de engenharia e segurança, destacando a diversidade e a expertise da equipe multidisciplinar, multigeneracional e multicultural envolvida nos projetos da NASA.

Capa do Relatório Técnico da NESC de 2024
Capa do Relatório Técnico da NESC de 2024

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Romário Nicácio

Administrador de redes, estudante de Ciências e Tecnologia (C&T) e Jornalismo, que também atua como redator de sites desde 2009. Co-fundador do Portal N10 e do N10 Entretenimento, com um amplo conhecimento em diversas áreas. Com uma vasta experiência em redação, já contribuí para diversos sites de temas variados, incluindo o Notícias da TV Brasileira (NTB) e o Blog Psafe. Sua paixão por tecnologia, ciência e jornalismo o levou a buscar conhecimentos nas áreas, com o objetivo de se tornar um profissional cada vez mais completo. Como co-fundador do Portal N10 e do N10 Entretenimento, tenho a oportunidade de explorar ainda mais minhas habilidades e se destacar no mercado, como um profissional dedicado e comprometido com a entrega de conteúdo de qualidade aos seus leitores. Para entrar em contato comigo, envie um e-mail para [email protected].

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