Pesquisas recentes indicam que a expectativa de vida das baleias francas-austrais pode ser significativamente maior do que se pensava anteriormente. Um estudo publicado na revista Science Advances revelou que esses animais podem ultrapassar os 100 anos, com cerca de 10% atingindo mais de 130 anos, e algumas chegando até aos 150 anos. Esta descoberta quase dobra a estimativa convencional de 70 a 80 anos para essa espécie.
No entanto, o cenário é bem diferente para as baleias francas-do-atlântico-norte, uma espécie intimamente relacionada. Embora se esperasse uma longevidade similar, estudos mostram que a média de vida dessa espécie criticamente ameaçada é de apenas 22 anos, raramente ultrapassando os 50 anos. A principal causa dessa diferença drástica é a mortalidade induzida por atividades humanas, como emalhamento em equipamentos de pesca e colisões com embarcações.
Os dados foram obtidos através da identificação fotográfica de baleias fêmeas ao longo de várias décadas. Os pesquisadores acompanharam os indivíduos por meio das fotos, ano após ano, até seu desaparecimento do registro fotográfico, o que indicava a morte do animal. Com base nisso, foi possível desenvolver curvas de sobrevivência para estimar a probabilidade de desaparecimento das baleias com o avanço da idade e, consequentemente, calcular seu tempo máximo de vida.
Há cerca de 25 anos, um estudo com baleias-da-groenlândia, que são da mesma família, revelou que elas poderiam viver até 200 anos ou mais. A evidência incluía a descoberta de pontas de arpões de pedra de meados de 1800 incrustadas na gordura de baleias recentemente abatidas por caçadores tradicionais, além da análise de proteínas dos olhos.
Essa descoberta colocou em xeque a ideia de que o ser humano era o mamífero com maior longevidade. A partir dessa constatação, cientistas se dedicaram a descobrir o que permitia a longevidade incomum das baleias-da-groenlândia. A nova análise da longevidade de outras espécies de baleias revelou que esse traço pode ser mais comum do que se imaginava.
Implicações para a Conservação
A longevidade de uma espécie tem implicações diretas em sua conservação, uma vez que animais com vida longa tendem a se reproduzir lentamente. A idade em que as fêmeas começam a procriar e o intervalo entre as gestações são aspectos influenciados pela expectativa de vida da espécie. Estratégias de conservação e manejo que não consideram esses fatores têm maiores chances de fracassar, especialmente diante das mudanças climáticas.
O que ainda não se sabe?
Muitas outras espécies de baleias, como a azul, a fin, a sei, a jubarte, a cinzenta e o cachalote, também foram dizimadas pela caça industrial. Atualmente, estima-se que elas vivam cerca de 80 a 90 anos, mas essa estimativa pode estar errada, assim como a das baleias francas e da Groenlândia. A caça industrial, que só terminou na década de 1960, removeu os animais mais velhos das populações, e ainda não houve tempo suficiente para que os animais nascidos após esse período atinjam idades avançadas.
Pesquisas Complementares
Outras pesquisas apontam que a perda de indivíduos mais velhos em várias espécies reduz o potencial reprodutivo e representa a perda de cultura e sabedoria, o que impacta na capacidade de sobrevivência diante de condições adversas. Estudos também mostram que a perda de indivíduos mais velhos em populações animais é um fenômeno que ocorre em várias espécies, comprometendo o potencial reprodutivo e a transmissão de cultura e sabedoria essenciais para a adaptação a mudanças ambientais. Entende-se que esse fator degrada a capacidade de adaptação das espécies.
Próximos Passos
Cientistas buscam entender como a caça impactou a quantidade de indivíduos mais velhos nas populações de baleias e prever quando as populações voltarão aos níveis anteriores à exploração. Resultados preliminares indicam que pode levar cerca de 100 anos para que algumas populações de baleias se recuperem completamente. No caso das baleias francas-do-atlântico-norte, a pesquisa evidencia que as medidas de gestão adotadas foram insuficientes para evitar a morte prematura desses animais, mesmo quando a população apresentava crescimento.
Este artigo foi originalmente publicado no The Conversation sob licença Creative Commons.
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