Ártico sem gelo: primeiro dia sem gelo pode chegar ainda nesta década

Um novo estudo prevê que o primeiro dia sem gelo no Oceano Ártico pode ocorrer já nesta década. Pesquisadores das universidades de Colorado Boulder e Gothenburg utilizaram modelos computacionais para simular a extensão do gelo marinho até 2100, considerando diferentes cenários de emissões de gases de efeito estufa.

A definição de “sem gelo” utilizada no estudo é uma área de gelo marinho de 1 milhão de quilômetros quadrados ou menos. As 366 simulações, utilizando 11 modelos climáticos diferentes, projetaram uma ampla gama de possibilidades: de um evento em apenas três anos a uma ausência total até o fim do século. A maioria das simulações, no entanto, apontou para a ocorrência deste evento crucial entre 7 e 20 anos.

Mesmo com a redução das emissões de gases de efeito estufa – algo em que, segundo os pesquisadores, o progresso tem sido muito limitado – a previsão de um Ártico sem gelo permanece significativa. Nove das simulações previram um dia sem gelo em três a seis anos. Embora improvável, essa possibilidade representa um risco alto, levando os cientistas a investigar as condições que acelerariam tanto este processo.

A principal condição para um rápido derretimento do gelo é uma sequência de outono, inverno e primavera excepcionalmente quentes, preparando o terreno para uma maior perda de gelo no verão seguinte. Se este padrão se mantiver por três anos consecutivos, o primeiro dia sem gelo ocorreria em setembro.

Este evento não seria isolado. O estudo indica que mais dias sem gelo se seguiriam, culminando eventualmente em meses inteiros abaixo do limite estabelecido. Segundo a climatologista Alexandra Jahn da Universidade de Colorado Boulder, “The first ice-free day in the Arctic won’t change things dramatically, But it will show that we’ve fundamentally altered one of the defining characteristics of the natural environment in the Arctic Ocean, which is that it is covered by sea ice and snow year-round, through greenhouse gas emissions.”

A extensão do gelo marinho no Ártico e na Antártica varia naturalmente ao longo do ano. Desde novembro de 1978, o máximo e mínimo de extensão do gelo marinho são monitorados para rastrear os efeitos das mudanças climáticas. Em 2024, a mínima extensão de gelo foi registrada em 11 de setembro, com 4,28 milhões de quilômetros quadrados – a sétima menor área já registrada, demonstrando uma tendência decrescente de 12,4% por década.

Este estudo focou em um marco antes ignorado: quando ocorrerá o primeiro dia sem gelo, um passo significativo rumo a um Ártico sem gelo durante grandes períodos no verão. Nas nove simulações com pior cenário, o gelo marinho apresentou condições propícias durante alguns anos antes do primeiro dia sem gelo. Nestes anos, o resfriamento atmosférico chega mais tarde no outono e há períodos quentes até dezembro. As temperaturas permanecem acima de -20°C por longos períodos, reduzindo a formação de gelo novo. A primavera pode chegar até um mês antes do normal, ou apresentar menos períodos frios, com ondas de calor acima de 0°C se tornando comuns.

Finalmente, o verão com o primeiro dia sem gelo é muito quente, com temperaturas acima de 10°C. Tempestades podem agravar ainda mais a situação do gelo. Estas condições conjuntas podem levar o primeiro dia sem gelo a ocorrer em agosto ou setembro. Após esse primeiro dia, o Ártico permaneceu sem gelo por 11 a 53 dias nessas nove simulações de transição rápida. Os pesquisadores destacam a relação entre os dias sem gelo e o aquecimento global acima de 1,5°C em relação à linha de base pré-industrial – a meta do Acordo de Paris. Se os países cumprirem as diretrizes do acordo, um Ártico sem gelo pode ser adiado. Contudo, 2024 está a caminho de ser o primeiro ano acima de 1,5°C de aquecimento, indicando um possível caminho negativo.

A pesquisa foi publicada na revista Nature Communications.