O corpo do Papa Francisco, falecido nesta segunda-feira (21) aos 88 anos, será levado para a Basílica de São Pedro, em Roma, na manhã de quarta-feira (23), onde os fiéis poderão prestar suas últimas homenagens. A sucessão do Papa Francisco já está sendo planejada pelo Vaticano.
Ao contrário do que é tradicional, o sepultamento ocorrerá na Basílica de Santa Maria Maggiore, também em Roma. A última vez que um papa foi sepultado nesta basílica foi em 1903, com o enterro do Papa Leão XIII.
A morte de Francisco dá início ao período conhecido como “Sé Vacante”, um período de transição para a Igreja Católica. O Cardeal Farrell assume após falecimento do Papa Francisco, nesse período de Sé Vacante.
Com o falecimento, a Igreja entra em um período de governo temporário. Parte dos religiosos da cúpula do Vaticano perde suas funções, e decisões urgentes ficam a cargo do Colégio dos Cardeais.
Durante a Sé Vacante, o camerlengo conduz os trabalhos da Igreja e prepara a transição de governo, organizando o Conclave, que elegerá o novo líder. Atualmente, o cargo é ocupado pelo cardeal irlandês Kevin Joseph Farrell. Sete cardeais brasileiros estão aptos a eleger o sucessor do Papa Francisco no Conclave.
Segundo o Vaticano, as cerimônias fúnebres de Francisco começarão ainda nesta segunda-feira. Os horários (de Brasília) serão:
- 14h: Missa de sufrágio do Papa Francisco na Basílica de São João de Latrão, em Roma, a ser realizada pelo cardeal Baldo Reina.
- 15h: Ritos de constatação da morte e deposição do corpo de Francisco no caixão, na capela privada do papa, na Capela de Santa Marta, presidida pelo camerlengo Farrell.
Após a morte do papa, o funeral é feito seguindo a “Ordem das Exéquias do Sumo Pontífice“, um livro litúrgico que determina como serão as cerimônias fúnebres do pontífice. As normas foram aprovadas por Francisco em abril de 2024 e publicadas em novembro do mesmo ano. Os ritos fúnebres e o processo de eleição do novo Papa seguem normas específicas.
O primeiro rito é a confirmação da morte, realizada pelo camerlengo, que chamará o papa pelo nome três vezes. Se não houver resposta, o óbito será oficialmente declarado. Depois, o camerlengo retira o “Anel do Pescador” da mão do papa e o destrói com um martelo, simbolizando o fim do papado. O quarto do papa também é fechado e selado.
O corpo do pontífice é colocado em um caixão de madeira com revestimento de zinco e levado para a Basílica de São Pedro, onde será velado. Francisco também determinou que o próprio caixão fosse mais simples. Antigamente, o papa era colocado em três caixões, feitos de cipreste, chumbo e carvalho. Agora, a urna terá apenas uma estrutura de madeira revestida por zinco.
Pelas regras da Igreja, o enterro do papa deve ocorrer entre quatro e seis dias após a morte. Francisco pediu para ser sepultado na Basílica de Santa Maria Maggiore, em Roma, em vez da Basílica de São Pedro.
Missas serão celebradas por nove dias consecutivos, seguindo a tradição dos “novendiales“, um período de luto e oração pela alma do papa.
A escolha do novo líder da Igreja Católica começa entre 15 e 20 dias após a morte do papa. Durante esse período, o Vaticano convoca o chamado Colégio dos Cardeais, com religiosos do mundo inteiro. Atualmente, 252 cardeais integram esse grupo, incluindo oito brasileiros. E, desse grupo, 138 cardeais com menos de 80 anos estão aptos a participar da eleição do novo papa, sendo sete brasileiros.
Antes do início da votação para eleger um novo papa, chamada de Conclave, o Colégio dos Cardeais participa de reuniões chamadas “Congregações Gerais”. Nesses encontros, os religiosos votam para decidir questões governamentais da Igreja. As congregações ocorrem diariamente e começam antes mesmo do fim dos novendiales, período de nove dias de missas em memória do papa falecido.
Uma das primeiras decisões tomadas nesses encontros é o estabelecimento do dia, da hora e do modo como o corpo do papa será levado para a Basílica de São Pedro para ser exposto aos fiéis. Os cardeais também organizam os detalhes do Conclave e auxiliam na preparação dos ambientes de votação e dos aposentos para acomodar os religiosos, além de definir a data para o início da eleição. Entenda o processo de escolha do novo Papa após a morte de Francisco.
Após a morte do papa, o governo fica confiado ao camerlengo, que é responsável pela administração dos bens e do Tesouro do Vaticano. Entre as funções do camerlengo está a organização da transição durante a Sé Vacante, o período em que a Igreja Católica fica sem um pontífice. Ele também é responsável por atestar a morte do papa e assumirá temporariamente o Palácio Apostólico, residência oficial do papa.
Enquanto o camerlengo mantém a autoridade administrativa, cabe ao Colégio dos Cardeais discutir assuntos comuns ou inadiáveis da Igreja. O Colégio dos Cardeais fica impedido de fazer mudanças profundas na estrutura da Igreja Católica, como a alteração ou correção de leis determinadas pelos papas.
Além disso, quando o papa morre, quase todos os religiosos que ocupam cargos na cúpula do Vaticano deixam suas funções, como o Cardeal Secretário de Estado e os responsáveis pelos departamentos do governo, chamados de Dicastérios da Cúria Romana.
Continuam no cargo, além do camerlengo:
- O Penitenciário-Mor, responsável pelo Supremo Tribunal;
- O Cardeal Vigário-Geral para a Diocese de Roma, responsável por administrar a diocese do papa;
- O Cardeal Arcipreste da Basílica do Vaticano, responsável pelo templo;
- O Vigário-Geral para a Cidade do Vaticano, que supervisiona a assistência pastoral dentro do território vaticano.
- O Esmoleiro Apostólico, que exerce a caridade para os pobres em nome do papa.
A palavra “conclave” vem do latim cum clavis e significa “fechado à chave”. É por meio dele que a Igreja Católica elege o novo papa. Durante os dias de eleição, cardeais do mundo todo ficam fechados dentro do Vaticano, em uma área conhecida como “zona de Conclave”. Eles também fazem um juramento de segredo absoluto sobre o processo.
Atualmente, 138 cardeais com menos de 80 anos estão aptos a participar da eleição, sendo sete brasileiros:
- Leonardo Ulrich Steiner, arcebispo de Manaus, 74 anos.
- João Braz de Aviz, arcebispo emérito de Brasília, 77 anos.
- Paulo Cezar Costa, arcebispo de Brasília, 57 anos.
- Orani Tempesta, arcebispo do Rio de Janeiro, 74 anos.
- Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo, 75 anos.
- Jaime Spengler, presidente da CNBB e arcebispo de Porto Alegre, 64 anos.
- Sérgio da Rocha, Primaz do Brasil e arcebispo de Salvador, 65 anos.
Todos os cardeais que participam da eleição ficam impedidos de utilizar qualquer meio de comunicação com o exterior. As votações acontecem dentro da Capela Sistina. Para ser eleito, um cardeal precisa receber dois terços dos votos, que são secretos e queimados após a contagem.
Até quatro votações podem ser realizadas diariamente, sendo duas pela manhã e duas à tarde. Se, depois do terceiro dia de conclave, a Igreja continuar sem papa, uma pausa de 24 horas é feita para orações. Outra pausa pode ser convocada após mais sete votações sem um eleito. Caso haja 34 votações sem consenso, os dois mais votados da última rodada disputarão uma espécie de “segundo turno”. Ainda assim, será necessário atingir dois terços dos votos para que um deles seja eleito.
Quando um cardeal é eleito, a Igreja questiona se ele aceita o cargo de papa. Se ele concordar, o religioso também precisa escolher um nome. Em seguida, ele é levado para um ambiente conhecido como “Sala das Lágrimas”, onde veste as vestes papais. Por fim, o novo papa é anunciado à multidão que aguarda na Praça de São Pedro. O pontífice é apresentado diretamente da sacada da Basílica, onde é proclamada a famosa frase “Habemus Papam” (“Temos um Papa”).
Uma maneira tradicional de anunciar a escolha de um novo papa é por meio da fumaça que sai da chaminé da Capela Sistina. Se for branca, significa que a Igreja tem um novo pontífice. Por outro lado, se for escura, uma nova votação será realizada.
A fumaça é resultado da queima dos votos dos cardeais reunidos no Conclave. Para garantir a cor correta, substâncias químicas são adicionadas à combustão. Em 2013, o Vaticano esclareceu que a fumaça escura era produzida por uma mistura de clorato de potássio, antraceno e enxofre, enquanto a branca é resultado da queima de clorato de potássio, lactose e colofônio.
A chaminé responsável pela liberação da fumaça funciona por meio de um sistema eletrônico, e os compostos químicos ficam armazenados em cartuchos específicos. Além da fumaça branca, a eleição do novo papa é confirmada pelo toque dos sinos da Basílica de São Pedro.