Apesar das taxas e barreiras comerciais aplicadas pela União Europeia, as montadoras chinesas continuam crescendo com força no mercado europeu de carros. Segundo a empresa de pesquisa Dataforce, as vendas de veículos chineses aumentaram 64% em fevereiro, chegando a 38.902 unidades. Isso fez com que a participação dessas marcas no mercado europeu subisse de 2,5% para 4,1% em relação ao mesmo mês do ano passado.
Esse avanço aconteceu mesmo com as tarifas extras aplicadas em outubro, que incluem até 35,3% de taxa sobre carros elétricos vindos da China, além da tarifa padrão de 10%. As montadoras, no entanto, têm adotado várias estratégias para continuar expandindo suas operações na Europa, mesmo com esses obstáculos.

De acordo com uma análise da EconoTimes, mesmo enfrentando dificuldades, as marcas chinesas continuam firmes no objetivo de se tornarem líderes globais, especialmente no setor de carros elétricos.
Os números mostram uma mudança no tipo de veículos que as marcas chinesas estão vendendo. As vendas de carros 100% elétricos da China caíram 3,4% em fevereiro, somando 11.116 unidades, enquanto as montadoras europeias aumentaram suas vendas nesse segmento em 26%, alcançando 164.600 unidades. Por outro lado, os carros híbridos plug-in chineses tiveram um salto de 321% nas exportações, com 4.744 unidades vendidas.
Entre os modelos que mais se destacaram estão o BYD Seal U PHEV, MG HS PHEV e o Chery Jaecoo 7 PHEV. Os carros a combustão também foram bem, principalmente os da marca Chery, com as linhas Jaecoo e Omoda ganhando força.
A BYD é um bom exemplo de como as montadoras chinesas estão se adaptando. Segundo a Bloomberg, a marca teve um crescimento de 551% no Reino Unido, 734% na Espanha e 207% em Portugal em janeiro – superando a Tesla nesses mercados. Charles Lester, da consultoria Rho Motion, comentou que, mesmo com as tarifas, a BYD vem aumentando sua fatia de mercado de forma constante na Europa.
As montadoras chinesas estão apostando na tecnologia como diferencial competitivo. Durante um evento em Munique, a Changan apresentou nove modelos novos com recursos como estacionamento automático controlado por voz e modos específicos para acampamento, impressionando tanto a imprensa quanto os revendedores locais. Um deles chegou a dizer: “Isso mudou completamente minha visão sobre os carros chineses; eles já superaram várias marcas europeias em tecnologia.”
Outras empresas, como a XPeng, também estão ampliando sua presença no continente, anunciando a entrada em países como Polônia, Suíça, República Tcheca e Eslováquia. O CEO da empresa, He Xiaopeng, afirmou que a estratégia da marca é se destacar pela inovação tecnológica, e não apenas por preços mais baixos. A meta é dobrar as vendas internacionais em 2025 e chegar a mais de 300 pontos de venda e assistência no mundo todo.
Para driblar as tarifas, muitas montadoras estão investindo na produção local. A Chery, por exemplo, firmou uma parceria com a EV Motors da Espanha para montar carros na cidade de Barcelona, usando a antiga marca espanhola Ebro – tornando-se a primeira marca chinesa a produzir veículos na Europa.
Já a BYD está construindo fábricas próprias na Hungria e na Turquia. A planta húngara deve começar a operar ainda este ano, com capacidade para produzir 350 mil veículos por ano. A Leapmotor, por sua vez, fez uma parceria com o Grupo Stellantis para montar carros em fábricas já existentes, como o T03 na Polônia e o futuro B10, previsto para ser produzido na Espanha até 2026.
Segundo Ji Xuehong, especialista da Universidade de Tecnologia do Norte da China, a produção local deve se tornar a principal forma de entrada das marcas chinesas na Europa. Ele comparou a estratégia com o que as montadoras japonesas fizeram décadas atrás: produzir localmente ajuda a ganhar apoio dos governos e entender melhor o consumidor europeu.
A imprensa alemã também destacou que, a partir de junho, a fábrica da Magna em Graz, na Áustria, começará a montar veículos das marcas XPeng e GAC usando kits semi-montados (SKD), o que ajuda a reduzir custos e evitar algumas tarifas.
Como a Europa representa cerca de 17% a 18% do mercado global de automóveis e é vista como um mercado exigente e sofisticado, as montadoras chinesas estão determinadas a conquistar seu espaço. Com tecnologias avançadas, uma cadeia de produção eficiente e boas estratégias de marketing, elas continuam a crescer no continente, adaptando suas ações para enfrentar os desafios regulatórios de frente.