O jornalista e escritor Ullisses Campbell, vencedor do Prêmio Esso e conhecido por suas biografias sobre figuras controversas como Suzane von Richthofen, Elize Matsunaga, Flordelis e o Maníaco do Parque, foi o entrevistado do podcast Bagaceira Chique, apresentado por Luciana Gimenez, nesta quinta-feira (27/03). Durante a conversa, Campbell abordou crimes reais que inspiraram a série Tremembé, da Prime Video, na qual ele atua como roteirista. Além disso, o jornalista não hesitou em expor suas opiniões sobre o sistema penal brasileiro e a forma como criminosos são tratados pela sociedade.
Entre os temas discutidos, Campbell destacou a polêmica mudança de nome de condenados por crimes de grande repercussão e criticou a cultura de celebridade que se forma em torno dessas figuras. O jornalista também opinou sobre as saídas temporárias de detentos e refletiu sobre a reintegração de criminosos à sociedade, trazendo à tona o caso do Maníaco do Parque, que deverá ser solto em 2028 após cumprir 30 anos de prisão.
Mudança de nome e o estigma do crime
Um dos pontos mais incisivos da entrevista foi a crítica de Campbell à mudança de nome de criminosos conhecidos, como Daniel (ex-Cravinhos), Suzane (ex-von Richthofen) e Ana Carolina (ex-Jatobá). Para o jornalista, a alteração na documentação oficial não apaga o passado de uma pessoa condenada por crimes graves.
“Eu acho que podem trocar de nome, mas o estigma fica, porque o emblema do crime é uma tatuagem que está na pele, não está na certidão de nascimento”, declarou Campbell. Segundo ele, a sociedade não esquece a história desses indivíduos, e a tentativa de reconstrução de uma nova identidade não impede que o julgamento público continue.
Criminosos como figuras populares na internet
Outro tema abordado foi o crescimento da popularidade de ex-detentos nas redes sociais. Campbell mencionou que, no Brasil, há uma crescente cultura de idolatria por criminosos, um fenômeno que se assemelha ao que ocorre nos Estados Unidos.
“Estamos importando a cultura norte-americana. A Suzane, por exemplo, tem um Instagram com 30 mil seguidores e o Daniel também”, afirmou. Para o jornalista, essa visibilidade pode gerar um perigoso processo de glamourização do crime, transformando assassinos condenados em figuras de interesse midiático.
Polêmica das saídas temporárias de detentos
A entrevista também tratou das polêmicas saídas temporárias concedidas a presos. Campbell relembrou o caso de Suzane von Richthofen, que, em 2019, saiu da prisão para o Dia das Mães, fato que gerou grande indignação pública.
“Eu preferiria que ela continuasse saindo no Dia das Mães. Sabe por quê? Porque escandaliza mais. Você fica escandalizado. Agora, eles só mudaram a data”, argumentou o jornalista. Segundo ele, o sistema penal deveria reavaliar esses benefícios e suas implicações na percepção da sociedade sobre a punição dos crimes.
O caso do Maníaco do Parque e a ressocialização de criminosos
Campbell também abordou a futura soltura de Francisco de Assis Pereira, conhecido como Maníaco do Parque, que deverá deixar a prisão em 2028, após cumprir 30 anos de pena. O jornalista se mostrou preocupado com a reinserção desse criminoso na sociedade e questionou se a ressocialização seria de fato possível em casos tão extremos.
“Simplesmente a porta da penitenciária vai abrir e ele vai sair pela primeira vez nesses 30 anos. Eles vão colocar um monstro para fora da cadeia. Não deveria nem sair”, afirmou Campbell.
Por outro lado, ele ponderou que o modelo de saídas graduais pode permitir um monitoramento mais eficiente de detentos que eventualmente voltarão ao convívio social. “A cadeia não pode ser só um depósito de assassinos. Essas pessoas estão sendo castigadas porque estão sendo privadas de liberdade, mas têm que ser reabilitadas”, concluiu.
Reflexões sobre o sistema penal brasileiro
A entrevista foi marcada por críticas contundentes ao sistema judiciário brasileiro e à forma como criminosos de grande repercussão são tratados após cumprirem suas penas. Campbell levantou questões sobre a eficiência da ressocialização e como a sociedade encara indivíduos que cometeram crimes hediondos.
A participação do jornalista no Bagaceira Chique gerou debates sobre temas sensíveis, reforçando a importância de uma discussão ampla sobre o sistema penal e as consequências da exposição midiática de condenados.
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