Google testa IA no Discover e ameaça ainda mais o tráfego dos portais de notícias

Além dos resumos nos resultados de busca, ferramentas como ChatGPT, Perplexity AI e outros modelos generativos já tiram o público dos veículos de origem.
Google testa IA no Discover e ameaça ainda mais o tráfego dos portais de notícias
Resumos por IA no Google Discover podem agravar crise de audiência nos sites de notícias

O Google começou a implementar testes com resumos automáticos gerados por inteligência artificial dentro do Discover, uma das principais portas de entrada de tráfego para portais de notícias no Brasil e no mundo. A mudança, que ainda não está disponível para todos os usuários, coloca em risco uma das últimas frentes relevantes de cliques para veículos que já sofrem com as novas dinâmicas de busca e inteligência artificial.

O novo formato substitui o tradicional destaque da manchete e exibe no topo do card um conjunto de logotipos de veículos de imprensa citados no resumo gerado pela IA. Abaixo, vem um pequeno parágrafo com a síntese da notícia. A própria plataforma faz o alerta: “Resumo gerado com inteligência artificial, sujeito a erros“.

Google Discover
Crédito: Techcrunch

Apesar de não ter confirmado oficialmente o alcance da novidade, o Google foi flagrado em testes por veículos como o TechCrunch e já havia introduzido, anteriormente, tópicos em bullet points criados automaticamente abaixo de algumas manchetes. O objetivo é entregar ao usuário uma visão mais rápida da notícia, sem necessariamente levá-lo ao clique.

Risco ainda maior para os portais de notícia

O Google Discover vinha sendo uma das últimas fontes consistentes de tráfego em tempos de queda drástica nas buscas orgânicas. Mas com a expansão desses resumos automáticos, a tendência é de ainda mais perda de acessos.

Em meio a esse cenário, as plataformas alegam que estão oferecendo alternativas para monetização. O Offerwall é uma dessas tentativas recentes do Google: permite que os sites ofereçam conteúdos pagos mediante ações do usuário, como assistir anúncios, responder pesquisas ou fazer micropagamentos. No entanto, para muitos veículos, essas soluções chegam tarde e com um retorno bem abaixo do normal.

Um levantamento da Similarweb mostra que o tráfego global gerado por buscas caiu 15% em junho de 2025, comparado ao ano anterior. Desde o lançamento dos AI Overviews em 2024, a quantidade de buscas que não geram cliques em sites saltou de 56% para 69% até maio de 2025. O número de visitas orgânicas, que chegou ao pico de 2,3 bilhões, hoje está abaixo de 1,7 bilhão.

Essa queda foi detalhada também pelo The Economist, que apontou como o impacto da IA está contribuindo para esvaziar a web.

IA ameaça todo o ecossistema, não apenas o Discover

Google Discover
Crédito: Techcrunch

Os testes no Google Discover se somam a outras frentes em que a IA já mudou radicalmente o cenário da internet. Além dos resumos nos resultados de busca, ferramentas como ChatGPT, Perplexity AI e outros modelos generativos já tiram o público dos veículos de origem.

Mesmo portais como Wall Street Journal, Bloomberg, Yahoo e USA Today vêm apostando nos seus próprios resumos automáticos, tentando reverter a tendência internamente. Mas há consenso no mercado: o público que não clica não monetiza.

O futuro é cada vez mais nebuloso

O movimento atual reforça um temor já antigo da imprensa digital: perder relevância para intermediadores que preferem entregar respostas prontas ao leitor em vez de direcioná-lo ao conteúdo completo.

A consequência para muitos é clara: queda de receita, demissões e fechamento de veículos, especialmente no Brasil, onde o Google Discover sempre teve um peso muito maior do que nos EUA ou Europa.

🔗 Confira mais sobre esse tema no Portal N10: O apagão do Google Discover e a ruína silenciosa da mídia brasileira digital

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