PF apresenta ao STF novas provas de tentativa de golpe liderada por bolsonaristas

PF apresenta ao STF novas provas de tentativa de golpe liderada por bolsonaristas
Antônio Cruz/ Agência Brasil/Arquivo

A Polícia Federal (PF) entregou ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), novas evidências que reforçam a investigação sobre a tentativa de golpe de Estado orquestrada no final do governo de Jair Bolsonaro. As provas foram obtidas a partir da análise do celular do policial federal Wladmir Matos Soares, detido no ano anterior por ordem do próprio ministro Moraes.

Soares é investigado por suspeita de ter atuado como agente infiltrado, com o objetivo de vazar informações confidenciais sobre a segurança do então presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva durante o período de transição governamental. Ele integrava a equipe de segurança externa responsável pela proteção do hotel em Brasília onde Lula estava hospedado.

As mensagens de áudio recuperadas, trocadas entre dezembro de 2022 e janeiro de 2023 – período crucial que engloba a diplomação, a posse de Lula e os atos de 8 de janeiro –, revelam detalhes alarmantes. Segundo a PF, o policial desempenhou um papel como "elemento auxiliar" do plano golpista denominado "Punhal Verde-Amarelo". As investigações apontam que esse plano tinha como objetivo a eliminação física de diversas autoridades, incluindo o presidente Lula e o próprio ministro Alexandre de Moraes.

Inconformismo e Disposição para a Violência

Um dos áudios interceptados revela uma conversa entre Wladmir e um advogado identificado como Luciano, na qual o policial manifesta sua determinação em impedir a posse de Lula. Ele expressa frustração com a suposta decisão das Forças Armadas de não apoiar a proposta golpista. A defesa de Bolsonaro solicita suspensão de audiências sobre trama golpista; Cármen Lúcia alerta sobre prazo para regularização do título eleitoral, um tema que tem gerado debates acalorados.

"Os generais se venderam ao PT no último minuto que a gente ia tomar tudo. Entende, cara? E, Lu, a gente ia com muita vontade. A gente ia empurrar meio mundo de gente, pô. Matar meio mundo de gente. Estava nem aí já", disse o policial na gravação.

Em outra comunicação, Soares afirma fazer parte de uma "equipe de operações especiais" encarregada de defender Bolsonaro, aguardando apenas um sinal para iniciar as ações. Apoiadores de Bolsonaro protestam em Brasília por anistia a condenados por tentativa de golpe, demonstrando a persistência de tensões políticas.

"Nós fazíamos parte de uma equipe de operações especiais que estava pronta para defender o presidente armado, e com poder de fogo elevado pra empurrar quem viesse à frente, entendeu, velho? A gente estava pronto. Só que aí o presidente… esperávamos só o ok do presidente, uma canetada para gente agir", detalhou.

Ameaças Diretas ao Ministro Alexandre de Moraes

Em uma das conversas mais graves, o policial declara que estava preparado para prender o ministro Alexandre de Moraes. Moraes nega suspensão de processo contra Zambelli e determina apreensão de passaporte de Collor, mostrando a atuação do STF em diversas frentes.

"A gente estava preparado pra isso, inclusive. Para ir prender o Alexandre Moraes. Eu ia estar na equipe", afirmou Wladmir.

Ademais, Soares expressou a opinião de que o ministro do STF deveria ter sido "decapitado" por ter obstruído a nomeação de Alexandre Ramagem – também réu na trama golpista – para a direção da Polícia Federal no início do governo Bolsonaro. O STF analisa suspensão de ação penal contra Ramagem por decisão da Câmara, um caso que envolve disputas entre os poderes.

"O Alexandre de Moraes realmente tinha que ter tido a cabeça cortada quando ele impediu o presidente [de] colocar um diretor da Polícia Federal, né? O Ramagem. Tinha que ter cortado a cabeça dele, era ali. Você tá entendendo?".

Decepção com a Ausência de Bolsonaro

As mensagens também revelam o descontentamento do policial com a decisão de Bolsonaro de viajar para os Estados Unidos no final de seu mandato, o que, segundo ele, inviabilizou a execução do golpe. Soares lamenta que, apesar de estar "tudo certo", a situação "deu tudo pra trás". Recentemente, Bolsonaro retorna ao Rio Grande do Norte no mês de junho, indicando sua contínua atividade política.

“E eu estou aqui na m…porque p…do presidente vai dar para trás", desabafou o policial.

STF Decidirá Sobre a Abertura de Ação Penal

Na próxima terça-feira (20), a Primeira Turma do STF vai determinar se Wladmir Matos e outros 11 militares se tornarão réus no processo relacionado à trama golpista. Eles integram o núcleo 3 da denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR). Os denunciados nesse núcleo são acusados de planejar as "ações táticas" para a concretização do plano golpista. A PF avança em investigação sobre fraudes no INSS com mandados em Presidente Prudente, mostrando que a atuação da Polícia Federal não se restringe a casos políticos.

A Agência Brasil tentou contato com a defesa do policial federal, mas ainda aguarda um posicionamento. O espaço permanece aberto para manifestação.

Deixe um comentário

Seu e‑mail não será publicado.

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.