Pesquisa Quaest revela que 70% dos deputados são contra o fim da escala 6×1

O levantamento ainda mostrou que mais da metade dos deputados também é contra o projeto que limita os supersalários no funcionalismo público.
Pesquisa Quaest revela que 70% dos deputados são contra o fim da escala 6×1
Kayo Magalhães/Câmara dos Deputados

Sete em cada dez deputados federais são contra o fim da escala 6×1, sistema que mantém milhões de trabalhadores brasileiros na rotina de seis dias de trabalho para um de descanso. A rejeição foi revelada pela pesquisa Quaest, divulgada nesta quarta-feira (2), que avaliou a posição dos parlamentares sobre pautas em discussão no Congresso Nacional.

Segundo o levantamento, apenas 22% dos deputados apoiam o fim da escala 6×1. Outros 8% não souberam ou não responderam. O dado expõe como boa parte da Câmara dos Deputados, mais uma vez, vira as costas para as pautas que poderiam aliviar a rotina da classe trabalhadora.

Enquanto o Congresso avança com propostas para aumentar o número de deputados federais de 513 para 531 — como analisado na coluna Panorama — a maioria dos parlamentares fecha as portas para o debate sobre uma jornada menos exaustiva para quem carrega o País nas costas.

Proposta visa jornada de quatro dias

O projeto original, apresentado pela deputada Erika Hilton (PSOL-SP) em fevereiro, propõe a redução da jornada máxima de trabalho para 36 horas semanais, distribuídas em quatro dias por semana. O principal objetivo é eliminar a escala 6×1, que ainda é aplicada em diversas categorias profissionais e que deixa pouco espaço para descanso, lazer e convivência familiar.

A proposta, no entanto, sofre grande resistência dentro do Congresso.

  • 92% dos deputados da oposição são contra o fim da escala 6×1.
  • 74% dos deputados independentes rejeitam a proposta.
  • 55% dos governistas também são contrários.

Entre os deputados que apoiam a medida, 44% são governistas, 23% são independentes e apenas 6% fazem parte da oposição.

A resistência ao fim da escala 6×1 acontece em um momento em que vários países discutem a adoção da semana de quatro dias e a redução das jornadas como avanço civilizatório. O Congresso brasileiro, porém, mostra-se disposto a manter o modelo que pressiona os trabalhadores a seguirem jornadas extensas com pouco tempo para recuperação física e emocional.

Veja os números completos da pesquisa Quaest:

A pesquisa, encomendada pela Genial Investimentos, ouviu 203 deputados federais entre os dias 7 de maio e 30 de junho de 2025, o que representa 40% da composição da Câmara. A margem de erro é de 4,5 pontos percentuais.

Confira os principais temas avaliados e o posicionamento dos deputados:

TemaA Favor (%)Contra (%)Não sabe / Não respondeu (%)
Elevação da faixa de isenção do IR88%5%7%
Exploração do petróleo da Amazônia83%10%7%
Aumento das penas para roubos76%16%8%
Fim da reeleição para o Executivo, com aumento dos mandatos69%20%11%
2ª parte da reforma tributária63%29%8%
Proibição de apostas online por beneficiários de programas sociais55%38%7%
PL alternativo à anistia54%24%22%
Nova política de ensino à distância53%35%12%
Inclusão de verbas indenizatórias no teto constitucional53%35%13%
Elevação da taxa de IR para os super-ricos44%46%10%
PEC da Segurança Pública42%42%16%
PL dos supersalários32%53%15%
Fim da escala 6×122%70%8%
Exclusão das verbas do Judiciário do limite de gastos15%70%15%

Fonte: Quaest

O que está em jogo?

A manutenção da escala 6×1 mantém o trabalhador brasileiro preso a um modelo que desgasta, adoece e limita a vida social. Em um cenário onde jornadas longas estão diretamente associadas ao aumento de doenças físicas e mentais, a rejeição da proposta de redução expõe um Congresso que protege privilégios e posterga avanços sociais.

O levantamento ainda mostrou que mais da metade dos deputados também é contra o projeto que limita os supersalários no funcionalismo público. O governo Lula propôs um teto de R$ 46.366 para os salários, mas 53% dos parlamentares se posicionaram contra a mudança.

Enquanto o discurso político defende responsabilidade fiscal, o Congresso mantém salários acima de cinco dígitos no serviço público e, ao mesmo tempo, nega a possibilidade de jornadas mais humanas para quem sustenta a economia do país.

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