Sete em cada dez deputados federais são contra o fim da escala 6×1, sistema que mantém milhões de trabalhadores brasileiros na rotina de seis dias de trabalho para um de descanso. A rejeição foi revelada pela pesquisa Quaest, divulgada nesta quarta-feira (2), que avaliou a posição dos parlamentares sobre pautas em discussão no Congresso Nacional.
Segundo o levantamento, apenas 22% dos deputados apoiam o fim da escala 6×1. Outros 8% não souberam ou não responderam. O dado expõe como boa parte da Câmara dos Deputados, mais uma vez, vira as costas para as pautas que poderiam aliviar a rotina da classe trabalhadora.
Não perca nada!
Faça parte da nossa comunidade:
Enquanto o Congresso avança com propostas para aumentar o número de deputados federais de 513 para 531 — como analisado na coluna Panorama — a maioria dos parlamentares fecha as portas para o debate sobre uma jornada menos exaustiva para quem carrega o País nas costas.
Proposta visa jornada de quatro dias
O projeto original, apresentado pela deputada Erika Hilton (PSOL-SP) em fevereiro, propõe a redução da jornada máxima de trabalho para 36 horas semanais, distribuídas em quatro dias por semana. O principal objetivo é eliminar a escala 6×1, que ainda é aplicada em diversas categorias profissionais e que deixa pouco espaço para descanso, lazer e convivência familiar.
A proposta, no entanto, sofre grande resistência dentro do Congresso.
- 92% dos deputados da oposição são contra o fim da escala 6×1.
- 74% dos deputados independentes rejeitam a proposta.
- 55% dos governistas também são contrários.
Entre os deputados que apoiam a medida, 44% são governistas, 23% são independentes e apenas 6% fazem parte da oposição.
A resistência ao fim da escala 6×1 acontece em um momento em que vários países discutem a adoção da semana de quatro dias e a redução das jornadas como avanço civilizatório. O Congresso brasileiro, porém, mostra-se disposto a manter o modelo que pressiona os trabalhadores a seguirem jornadas extensas com pouco tempo para recuperação física e emocional.
Veja os números completos da pesquisa Quaest:
A pesquisa, encomendada pela Genial Investimentos, ouviu 203 deputados federais entre os dias 7 de maio e 30 de junho de 2025, o que representa 40% da composição da Câmara. A margem de erro é de 4,5 pontos percentuais.
Confira os principais temas avaliados e o posicionamento dos deputados:
Tema | A Favor (%) | Contra (%) | Não sabe / Não respondeu (%) |
---|---|---|---|
Elevação da faixa de isenção do IR | 88% | 5% | 7% |
Exploração do petróleo da Amazônia | 83% | 10% | 7% |
Aumento das penas para roubos | 76% | 16% | 8% |
Fim da reeleição para o Executivo, com aumento dos mandatos | 69% | 20% | 11% |
2ª parte da reforma tributária | 63% | 29% | 8% |
Proibição de apostas online por beneficiários de programas sociais | 55% | 38% | 7% |
PL alternativo à anistia | 54% | 24% | 22% |
Nova política de ensino à distância | 53% | 35% | 12% |
Inclusão de verbas indenizatórias no teto constitucional | 53% | 35% | 13% |
Elevação da taxa de IR para os super-ricos | 44% | 46% | 10% |
PEC da Segurança Pública | 42% | 42% | 16% |
PL dos supersalários | 32% | 53% | 15% |
Fim da escala 6×1 | 22% | 70% | 8% |
Exclusão das verbas do Judiciário do limite de gastos | 15% | 70% | 15% |
Fonte: Quaest
O que está em jogo?
A manutenção da escala 6×1 mantém o trabalhador brasileiro preso a um modelo que desgasta, adoece e limita a vida social. Em um cenário onde jornadas longas estão diretamente associadas ao aumento de doenças físicas e mentais, a rejeição da proposta de redução expõe um Congresso que protege privilégios e posterga avanços sociais.
O levantamento ainda mostrou que mais da metade dos deputados também é contra o projeto que limita os supersalários no funcionalismo público. O governo Lula propôs um teto de R$ 46.366 para os salários, mas 53% dos parlamentares se posicionaram contra a mudança.
Enquanto o discurso político defende responsabilidade fiscal, o Congresso mantém salários acima de cinco dígitos no serviço público e, ao mesmo tempo, nega a possibilidade de jornadas mais humanas para quem sustenta a economia do país.