Enquanto o Supremo Tribunal Federal (STF) inicia uma das fases mais sensíveis da investigação que apura tentativa de golpe de Estado no fim do governo Bolsonaro, o senador Rogério Marinho (PL-RN) voltou a se posicionar publicamente em defesa do ex-presidente.
Convidado do programa Canal Livre neste domingo (8), Marinho criticou as motivações que levaram à inelegibilidade de Jair Bolsonaro (PL) e classificou a punição como uma tentativa de afastá-lo da vida pública.
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“O [ex]presidente Bolsonaro hoje é declarado inelegível, não é porque teve um sítio em Atibaia dado por um amigo meu, nem um triplex lá no Guarujá, nem porque pagou mensalidade a deputados, nem tampouco porque assaltou a Petrobras. Ele é declarado inelegível porque fez uma reunião com embaixadores no exercício do seu mandato e ousou fazer uma crítica ao sistema eleitoral brasileiro“, afirmou o senador. Segundo ele, o debate sobre o sistema eleitoral estaria “criminalizado” no Brasil.
Durante a entrevista, o senador também pontuou o apelo popular de Bolsonaro e reforçou que, na visão dele e de seus apoiadores, há uma tentativa deliberada de afastá-lo da cena política nacional. “Claramente se quer retirar da vida pública alguém que tem um inegável apelo popular“, disse.
STF dá início aos interrogatórios de Bolsonaro e aliados
O pronunciamento de Marinho ocorreu na véspera de uma etapa importante do processo no Supremo Tribunal Federal. A partir desta segunda-feira (9), o STF inicia as oitivas dos oito réus investigados por suposta participação na trama golpista para subverter a ordem democrática no fim do governo Bolsonaro.
O próprio ex-presidente é um dos alvos centrais da ação penal, considerada estratégica pela Procuradoria-Geral da República (PGR), que classifica o grupo como o “núcleo crucial da organização criminosa”.
Os interrogatórios serão conduzidos pela Primeira Turma do STF, com sessões marcadas até sexta-feira (13). O primeiro depoente é Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência, que firmou acordo de colaboração premiada e já entregou vasto material à Polícia Federal. Os demais réus serão ouvidos por ordem alfabética.
Durante a fase anterior da investigação, o Supremo já coletou depoimentos de testemunhas de acusação e defesa. Agora, encerrada a instrução, o processo avança para a fase de diligências complementares e posterior apresentação das alegações finais.
PGR detalha núcleo de articulação golpista
De acordo com a denúncia oferecida pela PGR, Bolsonaro teria liderado as ações do núcleo político, mobilizando aliados dentro e fora da estrutura estatal para tentar impedir a transição de governo. Entre os elementos apontados estão a divulgação sistemática de desinformação sobre o sistema eleitoral, tentativas de envolver as Forças Armadas na ruptura institucional e até a elaboração de um decreto inconstitucional com o objetivo de anular o resultado das eleições.
Ainda segundo a Procuradoria, Bolsonaro também teria atuado diretamente para interferir no relatório militar sobre as urnas eletrônicas e tinha ciência do chamado Plano Punhal Verde Amarelo, que previa, inclusive, assassinatos de autoridades do Judiciário e do Executivo.
Envolvimento dos principais aliados
O processo envolve ainda figuras próximas ao ex-presidente:
- Alexandre Ramagem, deputado federal e ex-diretor da Abin, é acusado de liderar o núcleo de inteligência responsável pela elaboração de relatórios e conteúdos que sustentavam as alegações de fraude eleitoral. A denúncia aponta a existência de uma “Abin Paralela”, estrutura clandestina que utilizava recursos do Estado para apoiar o plano golpista.
- Almir Garnier Santos, então comandante da Marinha, teria manifestado apoio direto à ruptura, colocando-se à disposição em reuniões decisivas realizadas em dezembro de 2022.
- Anderson Torres, ex-ministro da Justiça, é acusado de oferecer suporte logístico ao plano, incentivando bloqueios de estradas e elaborando uma minuta de decreto de intervenção no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Posteriormente, já como secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, teria sido omisso durante os atos do dia 8 de janeiro de 2023.
- Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional, também figura como articulador central, tendo mantido reuniões de planejamento para o descumprimento de decisões judiciais e incentivado ataques ao sistema eleitoral.
- Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa, teria participado de encontros em que Bolsonaro solicitou a propagação de desconfiança contra o resultado eleitoral e discutido os termos do decreto golpista.
- Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa e da Casa Civil, é apontado como financiador das ações mais extremas do Plano Punhal Verde Amarelo, incluindo o planejamento de assassinatos de autoridades como Lula, Geraldo Alckmin e Alexandre de Moraes. Também teria atuado nos bastidores para estimular manifestações populares e pressionar as Forças Armadas.
- Mauro Cid, além de servir de elo operacional entre Bolsonaro e os demais investigados, guardava em seus dispositivos documentos e minutas ligadas ao plano golpista, inclusive uma minuta de declaração de estado de sítio.
O caso é considerado central dentro do conjunto de ações que buscam elucidar as articulações que antecederam e sucederam o segundo turno das eleições de 2022. A depender do desdobramento das oitivas, o STF poderá avançar para a fase final do processo, com a consolidação das provas e eventual julgamento do grupo.