O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, autorizou em março de 2023 um plano estratégico nuclear altamente secreto que, pela primeira vez, direciona a estratégia de dissuasão de Washington para enfrentar o rápido crescimento do arsenal nuclear da China. A informação foi revelada nesta terça-feira (21) pelo jornal The New York Times.
De acordo com a publicação, o plano, conhecido como “Nuclear Employment Guidance” (Orientação para Emprego Nuclear), também visa preparar os Estados Unidos para possíveis desafios nucleares coordenados por China, Rússia e Coreia do Norte. A decisão marca uma mudança significativa na postura de defesa dos EUA, que tradicionalmente se concentrava na contenção da Rússia como principal rival nuclear.
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Mudança de foco para a China
Segundo estimativas do Pentágono, a China deverá aumentar seu arsenal nuclear para cerca de 1.000 ogivas até 2030 e 1.500 até 2035, alcançando números próximos aos das forças nucleares atualmente disponíveis pelos Estados Unidos. Essa projeção, junto com a crescente parceria estratégica entre Pequim e Moscou, e o apoio militar que a Coreia do Norte e o Irã estariam oferecendo à Rússia no conflito com a Ucrânia, foram fatores que influenciaram essa revisão da estratégia nuclear americana.
O plano estratégico nuclear, que é revisado a cada quatro anos, permanece altamente classificado, com apenas um pequeno número de cópias impressas distribuídas entre altos funcionários do Pentágono. No entanto, espera-se que uma notificação desclassificada seja enviada ao Congresso antes do fim do mandato de Biden, previsto para janeiro de 2025.
Resposta das autoridades e especialistas
Apesar da relevância do novo plano, a resposta oficial da Casa Branca foi cautelosa. O porta-voz Sean Savett afirmou que a orientação para o emprego de armas nucleares, embora classificada, não é um segredo, e que “não responde a nenhuma entidade, país ou ameaça específica“. Ele destacou ainda que a estratégia nuclear dos EUA, conforme descrita na Revisão da Postura Nuclear de 2022, permanece essencialmente a mesma.
Especialistas em controle de armas também se pronunciaram. Daryl Kimball, diretor executivo da Associação de Controle de Armas, observou que, embora o foco na China esteja crescendo, a Rússia continua a ser o principal fator impulsionador da estratégia nuclear dos EUA, dado seu vasto arsenal, estimado em cerca de 4.000 ogivas nucleares.
O Departamento de Defesa dos EUA, em seu relatório anual, destacou que o crescimento militar da China deve continuar até 2035, e que a parceria “sem limites” com a Rússia é vista como fundamental para a ascensão de Pequim como uma potência global.
A aprovação deste plano estratégico por Biden sublinha a crescente preocupação de Washington com a expansão nuclear da China e as implicações dessa mudança no equilíbrio global de poder, indicando uma nova fase na corrida armamentista nuclear.