Gripe aviária em felinos: alerta para possível pandemia futura

Gripe aviária em felinos: alerta para possível pandemia futura
Foto de Beton Studio via Adobe Stock

Cientistas alertam que a infecção de gatos pela gripe aviária está sendo subestimada no rastreamento e gerenciamento do vírus, e defendem uma mudança urgente nessa abordagem.

O surgimento do vírus da influenza aviária altamente patogênico (H5N1) nos EUA colocou granjas de aves e laticínios em alerta máximo, resultando em abates que estão devastando as indústrias e gerando temores de que o vírus possa se transformar em uma pandemia humana.

Embora já existam relatos de infecções em gatos, uma nova pesquisa da Universidade de Maryland, nos EUA, sugere que os casos felinos – e o risco de transmissão de gatos para humanos – não estão sendo levados a sério o suficiente.

A gripe aviária é muito mortal para gatos, e precisamos urgentemente descobrir quão disseminado está o vírus em populações de gatos para avaliar melhor o risco de transmissão para humanos“, afirma a pesquisadora de doenças infecciosas transmitidas pelo ar, Kristen Coleman.

Essa preocupação é ainda maior durante as migrações de primavera das aves nos Estados Unidos, que podem potencialmente espalhar o vírus para áreas mais distantes.

À medida que o verão se aproxima, estamos antecipando que os casos em fazendas e na vida selvagem aumentem novamente“, acrescenta Coleman.

Subnotificação de casos em felinos

Coleman e seu coautor, o cientista animal Ian Bemis, analisaram pesquisas revisadas por pares publicadas entre 2004 e 2024, encontrando 607 casos relatados de infecção por gripe aviária em gatos globalmente. Em 18 países e 12 espécies (variando de gatos domésticos a tigres de zoológico), 302 mortes foram associadas ao vírus.

Os pesquisadores acreditam que a falta de monitoramento significa que esses números são uma séria subestimação.

Eles notaram que, em 2023, os relatos de infecções em gatos de estimação aumentaram drasticamente. Em 2023 e 2024, houve um pico no número de gatos de estimação infectados e mortos pela gripe aviária.

A maioria dos casos pode ser atribuída à cepa mais mortal de gripe aviária, H5N1 clade 2.3.4.4b, que teve uma taxa de fatalidade de 90% nos dados analisados. No entanto, essa taxa pode não refletir o risco real de morte para gatos infectados, uma vez que os testes têm sido muito limitados.

Os autores instigam as autoridades, veterinários e proprietários de animais de estimação a aumentar a vigilância de gatos.

Queremos ajudar a proteger tanto as pessoas quanto os animais de estimação“, enfatiza Coleman.

Não há casos confirmados de transmissão de gato para humano para essa cepa específica de gripe aviária, embora em 2016, o surto de uma cepa diferente entre gatos em abrigos de animais na cidade de Nova York tenha resultado em transmissão de gato para humano.

A transmissão de humano para humano ainda não foi registrada, mas pesquisadores estão preocupados que essa capacidade pode estar a apenas algumas mutações genéticas de distância.

Coleman e Bemis observam que proprietários de gatos de fazenda, gatos de rua, veterinários, tratadores de zoológicos e voluntários de abrigos de animais podem ter um risco maior de exposição à gripe aviária por meio de transmissões entre espécies.

A caça é da natureza do gato. Um gato de rua pode matar cerca de 186 animais a cada ano. Além de proteger a vida selvagem e economizar em contas de veterinário, este pode ser outro bom motivo para fazer a transição do seu amado companheiro para um estilo de vida interno.

Os gatos são infectados caçando e comendo aves e mamíferos selvagens infectados ou consumindo alimentos crus para animais de estimação ou leite de vaca cru infectados – incluindo produtos vendidos comercialmente. Eles também podem contrair o vírus de outros mamíferos com os quais vivem, incluindo gatos na vizinhança e, potencialmente, seus proprietários.

Nossa pesquisa futura envolverá estudos para determinar a prevalência de influenza aviária de alta patogenicidade e outros vírus da influenza em populações de gatos de alto risco, como gatos de celeiro de laticínios“, finaliza Bemis.

A pesquisa foi publicada na Open Forum Infectious Diseases.

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