Uma reviravolta pode estar a caminho da possível fusão entre as gigantes automotivas japonesas Nissan e Honda. Após notícias de que a Nissan precisaria triplicar seus lucros para que a fusão fosse aprovada, surgiram informações de que a Honda propôs a compra de ações da Nissan, transformando-a em uma de suas subsidiárias.
Fontes não identificadas próximas à negociação indicam que a Honda não está convencida dos planos de recuperação da Nissan e acredita que medidas mais drásticas são necessárias para reverter a situação financeira da empresa. A proposta de aquisição de ações e transformação em subsidiária seria uma forma de a Honda assumir o controle e implementar as mudanças necessárias. No entanto, essa proposta enfrenta forte resistência por parte da Nissan.
Analistas apontam que a Nissan teme que tal movimento possa comprometer sua autonomia no futuro. Além disso, a Nissan resiste a um aumento significativo do envolvimento da Honda na gestão da marca, conforme reportado pela Nippon.
A Nissan apresentou diversas alternativas de reestruturação, como o corte de 9.000 postos de trabalho em todo o mundo e a redução de 20% na capacidade de produção global. A empresa também planeja implementar programas de aposentadoria antecipada em três de suas fábricas nos EUA. A Kyodo News informa que a Honda exige mudanças ainda mais significativas.
Finalizar a fusão tem se mostrado um desafio. O ex-CEO da Nissan e Renault, Carlos Ghosn, sugeriu que a Honda está sendo pressionada a realizar a fusão pelo Ministério da Economia, Comércio e Indústria do Japão, que não deseja que uma de suas empresas mais importantes caia em mãos estrangeiras. A Honda também estabeleceu metas financeiras rigorosas para a Nissan, que precisam ser atingidas para que a fusão avance.
A Nissan precisa gerar aproximadamente 400 bilhões de ienes (US$ 2,6 bilhões) no ano fiscal de 2026. Esse objetivo não será fácil, considerando que seu lucro operacional caiu de 367 bilhões de ienes (US$ 2,3 bilhões) para apenas 2,9 bilhões (US$ 225 milhões). O lucro líquido da Nissan no primeiro semestre do ano fiscal de 2024 também despencou 93,5%, para 19,2 bilhões de ienes (US$ 131 milhões).
A ameaça das tarifas
Além dos desafios internos, a Nissan também enfrenta a ameaça de tarifas. Embora o governo Trump tenha pausado recentemente as tarifas planejadas de 25% para produtos do México e Canadá, a Nissan pode ser duramente atingida caso essas tarifas sejam implementadas. Modelos importantes como o Infiniti QX50, QX55, Sentra, Kicks e Versa são fabricados pela Nissan no México e importados para os Estados Unidos. Dada a delicada situação financeira da empresa, essas tarifas poderiam ser extremamente prejudiciais.
James Hong, chefe de pesquisa de mobilidade da Macquarie, declarou à Reuters: “O problema é a Nissan, que basicamente mal está ganhando dinheiro no setor automotivo. Quanto mais tempo as tarifas permanecerem, maior será a ameaça para a Nissan. E, eventualmente, se a fusão realmente acontecer, isso também pode ser um fardo para a Honda”.
Em um desenvolvimento relacionado, um relatório da JATO Dynamics indica que as tarifas impostas pela administração Trump sobre veículos fabricados na China, Canadá e México poderiam impactar quase 20% das vendas de carros nos EUA. O México e o Canadá foram o segundo e o quinto maiores países de origem de novos veículos vendidos nos EUA em 2024, respectivamente.
Segundo a JATO Dynamics, as vendas de veículos leves novos fabricados no México nos EUA totalizaram 2,19 milhões de unidades em 2024, o que representa 14% do mercado total. As vendas aumentaram 13% em relação ao ano anterior. A Volkswagen Group é a montadora mais exposta à imposição de tarifas sobre produtos mexicanos, com quatro de seus cinco modelos mais vendidos nos EUA fabricados em fábricas mexicanas.
O relatório também destaca o contraste entre a importância do México e a influência decrescente do Canadá. Em 2024, mais carros vendidos nos EUA vieram da União Europeia do que do Canadá.
Felipe Munoz, analista global da JATO Dynamics, conclui: “Embora seja difícil prever o que a administração Trump fará a seguir do ponto de vista comercial, as medidas tomadas até agora no primeiro mês da administração são um sinal do que está por vir. Importar carros para os EUA se tornará mais difícil em todos os setores, e a União Europeia deve estar preparada para futuras restrições ao comércio”.