Alfa Romeo 75: Uma jóia rara com tração traseira e equilíbrio perfeito

Sendo o último modelo lançado antes da aquisição pela Fiat, em 1986, o Alfa 75 é conhecido como Milano na América do Norte
Alfa Romeo 75: Uma jóia rara com tração traseira e equilíbrio perfeito
Crédito da imagem: Reprodução

Antes da ascensão dos crossovers e da banalização do termo ‘esportivo’, a Alfa Romeo produzia veículos singulares. O Alfa 75, conhecido como Milano na América do Norte, ocupa um lugar especial na história da marca, sendo o último modelo lançado antes da aquisição pelo Grupo Fiat em 1986.

Um sedã compacto com tração traseira e distribuição de peso quase perfeita (50:50)? Difícil ignorar. A oportunidade de testar um 75, gentilmente cedido por um entusiasta da marca, foi irrecusável.

Alfa Romeo 75: Uma jóia rara com tração traseira e equilíbrio perfeito
Crédito da imagem: Carscoops

O modelo de 1992 em questão é o quarto Alfa 75 do proprietário, um complemento perfeito ao seu Alfetta de 1976, impecavelmente preservado. Ao contrário do cupê, que permanece na garagem, o sedã de quatro portas está prestes a assumir a função de carro do dia a dia.

A decisão de substituir um Mazda MX-5 NC pelo Alfa despertou ainda mais curiosidade sobre o que torna o sedã italiano tão especial. Curiosamente, ambos os carros possuem tração traseira e uma relação peso/potência similar, ingredientes essenciais para uma experiência de condução divertida. Mas antes de detalhar a experiência ao volante, vamos aos fatos:

Alfa Romeo 75 2.0 Twin Spark (1992) – Ficha Técnica

  • Produção: 1985-1992
  • Dimensões: 4.331 mm (comprimento) x 1.631 mm (largura) x 1.349 mm (altura)
  • Entre-eixos: 2.510 mm
  • Peso: 1.150 kg
  • Layout: Motor dianteiro, tração traseira
  • Motor: 2.0 litros, quatro cilindros, aspiração natural
  • Potência: 146 cv (109 kW)
  • Transmissão: Manual de cinco marchas

Um Ícone italiano peculiar

Lançado em 1985 como sucessor do Giulietta, o 75 permaneceu em produção até 1992, pouco antes da transição da marca para os modelos com tração dianteira, como o 155. A Alfa Romeo só retornaria à tração traseira em 2015, com o lançamento do Giulia, resgatando suas raízes.

Alfa Romeo 75: Uma jóia rara com tração traseira e equilíbrio perfeito
Crédito da imagem: Carscoops

Apesar de mirar em concorrentes como o BMW Série 3 (E30 e E36), o 75 seguiu um caminho visual próprio. Seu design é admirado e considerado estranho, dependendo do ângulo e da perspectiva. A versão reestilizada de 1992, com para-choques na cor da carroceria, para-lamas alargados e as icônicas rodas de 15 polegadas em forma de ‘telefone’, é uma das mais equilibradas.

Os faróis, com seu formato peculiar, ecoam o design das lanternas traseiras e flanqueiam a grade scudetto. Uma faixa preta percorre toda a lateral, disfarçando as portas e janelas reaproveitadas do Giulietta. De certos ângulos, o carro parece robusto e imponente; de outros, um tanto confuso. Mas sua presença é inegável.

Interior: Uma Cápsula do Tempo Cheia de Particularidades

Ao entrar no carro, a ausência da influência da Fiat é notável. A ergonomia é… diferente. Os botões dos vidros estão no painel superior, surpreendendo a maioria dos passageiros, e o freio de mão, que envolve o apoio de braço central, remete a um caça da Guerra Fria.

O painel de instrumentos, com seus mostradores quadrados e blocados, é tipicamente anos 80, complementado por um painel de diagnóstico no console central, considerado tecnologia de ponta há quatro décadas. Os bancos, feitos por uma extinta empresa grega chamada Monaco, são réplicas fiéis dos Recaro da época.

Embora não se compare à qualidade de construção de um BMW ou Mercedes da época, o 75 ainda transmite solidez. A posição de dirigir é bem ajustada, e o banco traseiro oferece espaço suficiente para a maioria dos passageiros. O sedã italiano mede 4.331 mm de comprimento, menor que muitos SUVs compactos atuais.

Dinâmica de condução: Um esportivo disfarçado

O 75 utiliza uma versão aprimorada do chassi do Alfetta. A distribuição de peso 50:50 é alcançada com a montagem da caixa de câmbio manual de cinco marchas e da embreagem dentro do diferencial traseiro, uma configuração transaxle incomum para um sedã convencional.

Para aprimorar ainda mais a dirigibilidade, os engenheiros da Alfa optaram por freios traseiros inboard e um eixo traseiro De Dion. Uma versão da mesma plataforma, com balanço traseiro mais curto e reforços adicionais, serviu de base para o Alfa Romeo SZ by Zagato, um modelo muito mais caro, dando aos proprietários do 75 um motivo para se orgulhar.

O modelo avaliado é equipado com o motor 2.0 Twin Spark de quatro cilindros, que entrega 146 cv (109 kW) e 186 Nm de torque. Um avanço em relação ao 1.6 básico, oferecendo mais potência e um som mais encorpado, além de ser mais leve e eficiente que o V6 3.0 Busso.

Ao volante

Apesar dos 150.000 km rodados, o motor soa e funciona bem, justificando a escolha do 2.0 Twin Spark para quem busca um Alfa clássico para o dia a dia. O som da partida e a resposta do acelerador criam um charme analógico que gera entusiasmo instantâneo.

Desde as primeiras curvas, fica claro que o Alfa tem um acerto equilibrado e neutro. O chassi é mais rígido do que o esperado, e a suspensão lida com as imperfeições do asfalto com compostura. Uma das poucas modificações feitas no carro é um conjunto de molas Koni ajustáveis, que proporcionam uma sensação mais moderna do que se esperaria de um sedã de 40 anos.

Outra modificação bem-vinda são os pneus Toyo Proxes R1R semi-slick montados nas rodas de 15 polegadas. Eles conferem ao 75 uma atitude mais divertida e ‘escapista’ em estradas sinuosas, exatamente o que se espera de um carro para os finais de semana. O 75 é um carro que pode ser apreciado em qualquer velocidade, proporcionando sorrisos sem a intensidade dos modelos modernos de alta potência.

Com exceção de uma peculiaridade na direção hidráulica, que ocasionalmente fica mais pesada do que deveria, o Alfa clássico se mostra um carro genuinamente agradável. O motor 2.0 aspirado tem potência suficiente para viagens relaxantes, e o som do motor e do escapamento central adicionam personalidade, independentemente da velocidade.

Dirigindo por estradas sinuosas com o sol se pondo e iluminando o capô, fica fácil entender o apreço pelo Alfa Romeo 75: é o tipo de carro que te convida a continuar dirigindo. Talvez não tenha a direção precisa do 156 ou as curvas esculturais do Brera, mas o 75 possui um charme único.

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