Há um esforço, e ele precisa ser reconhecido. O América-RN tem se movimentado para trazer de volta ao estádio um público que há muito foi afastado: o trabalhador, o torcedor de camisa suada, o cara da feira, da oficina, da marmita no ombro. O torcedor raiz que realmente pula e grita pelo seu time. E a tentativa passa pelo preço.
Para o jogo contra o Santa Cruz de Natal, neste domingo (19), pela Série D do Campeonato Brasileiro, o clube aposta em ingressos a partir de R$ 7,50. Valor que não se via há muito tempo na Arena das Dunas — e que claramente miram na memória afetiva do velho Machadão.
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É isso mesmo: Machadão. O estádio que não tinha teto moderno, show de luzes e nem cadeiras numeradas, mas abrigava multidões com preços populares e o barulho do povo. Era ali, no cimento quente da arquibancada, que o América se confundia com a cidade. E com seus torcedores mais simples.
Desde a transição para a moderna Arena das Dunas, o clube — assim como o futebol potiguar de modo geral — travou uma batalha difícil: como manter o torcedor raiz por perto – aquele que realmente apoia, quando o preço do ingresso interfere diretamente na feira da semana? O projeto “Sócio Gente Americana”, gratuito, e o plano “Sócio Branco”, com mensalidade de R$ 29,90, são tentativas reais de resposta. Ambos dão descontos expressivos no valor dos ingressos, chegando a mais de 75%.
Confira os preços:
- Setor Sul (América): R$ 30 (inteira), R$ 15 (meia), R$ 15 (Sócio Gente Americana) e R$ 7,50 (Sócio Branco)
- Setor Leste (América): R$ 50 (inteira), R$ 25 (meia), R$ 25 (Sócio Gente Americana) e R$ 12,50 (Sócio Branco)
- Setor Premium (América): R$ 100 (inteira), R$ 50 (meia), R$ 50 (Sócio Gente Americana) e R$ 25 (Sócio Branco)
- Setor Noroeste (Santa Cruz): R$ 50 (inteira) e R$ 25 (meia)
Mas o desafio é maior do que reduzir preço. É reconstruir pertencimento. É fazer com que aquele torcedor, que ficou fora por anos, sinta que o clube ainda é dele. Porque não é só futebol — é identidade, é cultura de bairro, é camisa na sexta-feira, é rádio de pilha no ouvido (sim ainda existe ele).
E mesmo com promoções e planos acessíveis, a Arena das Dunas ainda impõe barreiras simbólicas. Ela representa o legado frio da Copa do Mundo: o concreto moderno que custou caro, desalojou raízes e ainda busca preencher seus espaços com emoção genuína.
O América faz sua parte — e precisa fazer ainda mais. Porque enquanto houver lugar vazio onde antes cabia o grito do povão, não será só um estádio que estará incompleto: será o próprio clube.
O jogo deste domingo, com ingressos acessíveis e promessa de casa cheia (não a capacidade máxima, mas ainda cheia), é uma chance de retomar o que nunca deveria ter sido perdido: a relação orgânica entre clube e povo.
Quem quiser ir, pode comprar pelo site oficial, na Mecão Store, na Gol Mania Store ou nas bilheterias da Arena, a partir das 12h30 no dia do jogo. Os acessos seguem divididos por setor, com portões específicos para América e Santa Cruz.
Se o América quer reencontrar o torcedor raiz, não pode ser apenas com promoção. Precisa ser com coerência, frequência e — acima de tudo — respeito à memória de quem carregou o clube no braço antes das catracas digitais.
Porque quem tem alma de arquibancada, nunca se acostuma ao silêncio das cadeiras vazias.