HBO tem chance de corrigir o maior erro dos filmes de Harry Potter sobre Voldemort

Retratar Voldemort como um homem e não apenas como uma sombra pode transformar a compreensão do público sobre toda a saga. Entender a origem do mal não é justificá-lo, mas contextualizá-lo.
HBO tem chance de corrigir o maior erro dos filmes de Harry Potter sobre Voldemort
HBO pode corrigir um erro de 24 anos dos filmes de Harry Potter sobre Voldemort

Resumo da Notícia

A série da HBO inspirada em Harry Potter promete revisitar o universo bruxo com mais fidelidade aos livros, reacendendo debates entre fãs que se dividem entre o entusiasmo e a descrença. Enquanto alguns questionam a necessidade de recontar uma história já consagrada, outros enxergam a produção como uma chance de corrigir erros e aprofundar personagens que o cinema deixou de lado.

Entre esses acertos esperados está uma oportunidade rara: consertar o roteiro de vida de Lord Voldemort, cuja complexidade emocional foi drasticamente simplificada nas adaptações cinematográficas.

Nos filmes, Voldemort ganhou forma através da impressionante atuação de Ralph Fiennes, mas o roteiro o reduziu a uma figura quase caricatural — o vilão supremo, de riso perturbador e mal absoluto. Essa abordagem, embora eficaz em criar tensão, deixou de explorar o que os livros construíram com sutileza: a tragédia de um homem incapaz de amar.

A HBO, ao prometer fidelidade total ao texto de J.K. Rowling, pode finalmente mostrar o que o cinema ignorou por 24 anos — o caminho que transformou o jovem Tom Riddle em um dos maiores monstros do mundo mágico.

As origens de um coração vazio

Voldemort não era responsável por sua incapacidade de sentir amor
Voldemort não era responsável por sua incapacidade de sentir amor

A história de Voldemort começa muito antes de seu nascimento. Merope Gaunt, sua mãe, descendente direta de Salazar Slytherin, vivia sob abuso físico e psicológico do pai, Marvolo, e do irmão Morfin. Subjugada e humilhada, Merope encontrou refúgio na obsessão por um homem comum — Tom Riddle Sr., um trouxa que morava nas proximidades. Sem coragem para conquistá-lo por meios naturais, ela recorreu à magia. Acredita-se que tenha usado uma poção do amor, aprisionando Riddle em um relacionamento ilusório.

O encantamento, porém, não durou. Grávida, Merope decidiu libertar o homem que amava, talvez acreditando que o sentimento se tornaria verdadeiro. Ele, no entanto, a abandonou imediatamente. Sozinha, sem recursos e emocionalmente destruída, Merope deu à luz em um orfanato em 31 de dezembro de 1926 e morreu logo após o parto. Seu filho recebeu o nome de Tom Marvolo Riddle — e nasceu sob um feitiço de amor, sem conhecer o significado real do sentimento.

J.K. Rowling explicou que Voldemort foi fruto de uma “união sem amor”, e que sua incapacidade de sentir afeto foi consequência direta desse nascimento forçado. Se Merope tivesse sobrevivido e criado o filho, ele talvez tivesse aprendido a amar. Em vez disso, cresceu com um vazio impossível de preencher.

A infância marcada pela rejeição

Voldemort nunca teve o mesmo sistema de apoio que Harry
Voldemort nunca teve o mesmo sistema de apoio que Harry

Tom Riddle cresceu acreditando que a mãe o abandonara deliberadamente. Esse trauma moldou sua visão de mundo. No orfanato, o garoto já demonstrava poderes mágicos incomuns — fazia objetos se moverem, controlava animais e amedrontava colegas. Sem amor, descobriu no medo o seu instrumento mais poderoso. Quando Dumbledore o visitou para convidá-lo a estudar em Hogwarts, já era tarde: a desconfiança e o orgulho haviam se tornado parte de sua identidade.

Na escola, Riddle mostrou carisma e inteligência acima da média, conquistando professores e colegas — exceto Dumbledore, que percebia nele algo sombrio. Durante os verões, o jovem era obrigado a retornar ao orfanato, reforçando o sentimento de abandono que o perseguia. Diferente de Harry, que encontrou em Ron e Hermione uma família substituta, Tom Riddle jamais teve um vínculo que o resgatasse da solidão.

Ao longo dos anos em Hogwarts, ele reuniu seguidores que viam nele um líder destinado à grandeza. Mas sua liderança não era construída em confiança ou respeito: era sustentada por medo e fascínio. A diferença entre as amizades do trio protagonista e os laços de Voldemort com seus “amigos” era abissal — um símbolo claro de como o amor transforma e a ausência dele destrói.

Um destino traçado pela falta de amor

Ao retornar ao mundo trouxa e descobrir sua herança, Riddle assassinou o pai e os avós — os mesmos que haviam renegado sua mãe. Era o início de uma jornada sem retorno. Incapaz de compreender a compaixão, transformou-se em um homem obcecado pela imortalidade e pelo poder absoluto. Cada Horcrux criada representava mais uma perda de humanidade, consolidando o mito de um ser incapaz de amar, mas plenamente consciente de seu próprio vazio.

Os filmes mostraram apenas a superfície dessa história, tratando Voldemort como símbolo do mal, e não como produto da dor. A série da HBO pode corrigir isso. Ao incluir flashbacks da juventude de Tom Riddle e de sua mãe Merope, a narrativa ganha peso psicológico e emocional, mostrando como o medo da morte e a busca por controle nasceram da mesma fonte: o amor que ele nunca recebeu.

Humanizar Voldemort não o torna menos desprezível
Humanizar Voldemort não o torna menos desprezível

Retratar Voldemort como um homem e não apenas como uma sombra pode transformar a compreensão do público sobre toda a saga. Entender a origem do mal não é justificá-lo, mas contextualizá-lo. Mesmo sendo o responsável por assassinatos e torturas, sua trajetória evidencia como a ausência de afeto pode distorcer o espírito humano até o limite. Essa leitura não o torna menos vil, mas o torna mais real — um espelho trágico daquilo que Harry poderia ter se tornado sem o amor de seus pais, de Sirius, de Dumbledore e dos amigos.

A nova adaptação também pode revelar nuances que ficaram implícitas na versão cinematográfica. Mostrar o contraste entre Voldemort e Harry em paralelo — ambos órfãos, mas com destinos opostos — é essencial para o impacto moral da história. Um teve amor suficiente para superar a dor; o outro, apenas ódio para alimentá-la.

A chance da HBO de reescrever o legado

Com a promessa de que cada temporada corresponderá a um livro, o projeto da HBO tem tempo para aprofundar personagens, explorar diálogos omitidos e reconstruir tramas inteiras. Isso inclui desenvolver a linhagem Gaunt, o colar de Slytherin e a simbologia da herança do mal. O sucesso da série dependerá da coragem de mostrar Voldemort não como um monstro mitológico, mas como o resultado humano de um mundo que falhou em oferecer amor.

Ao fazer isso, a adaptação televisiva não apenas corrigirá um equívoco de décadas, mas também reforçará a mensagem central de Harry Potter: o amor é a força mais poderosa que existe — e a ausência dele é o que verdadeiramente cria os monstros.

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