Confesso que fui atraído mais pelo nome do diretor do que pela sinopse. Jaume Collet-Serra, que já entregou bons trabalhos em A Órfã e Águas Rasas, agora comanda um terror psicológico que prometia atmosfera densa, metáforas viscerais e atuações intensas. A Mulher no Jardim (The Woman in the Yard) cumpre parte dessa promessa, mas se perde na tentativa de ser mais profundo do que realmente é.
O filme é centrado em Ramona (Danielle Deadwyler), uma mãe enlutada que vive reclusa com seus dois filhos em uma casa suburbana. Tudo muda quando uma figura feminina, vestida de preto da cabeça aos pés, surge em seu quintal. Ela não fala de forma clara, mas murmura frases perturbadoras, sempre olhando diretamente para a casa. No começo, parece apenas uma sem-teto perdida. Mas logo fica claro: há algo sobrenatural (e perigoso) por trás daquela presença.
A atuação de Deadwyler é o que mantém o filme de pé. Carregando a dor de uma perda não detalhada — mas claramente devastadora —, ela entrega uma personagem que transita entre o instinto materno e o colapso iminente. O espectador nunca tem certeza se Ramona está sendo assombrada por algo real ou se sua mente está fragmentando aos poucos. E isso, em boa parte da narrativa, é o que mantém a tensão viva.
A direção de Collet-Serra é eficiente em construir esse ambiente claustrofóbico. A câmera do diretor de fotografia Pawel Pogorzelski (de Midsommar) trabalha bem a profundidade de campo, deixando a tal “mulher no jardim” muitas vezes ao fundo da cena — imóvel, mas opressora. O som também é bem usado: sem trilha exagerada, o filme aposta no silêncio desconfortável e em ruídos sutis.
Mas o problema é que, após 50 minutos de tensão crescente, o roteiro de Samuel Stefanak falha em entregar um desenvolvimento à altura. Quando descobrimos que a figura no jardim é mais do que apenas uma metáfora — que ela tem ligação direta com o passado de Ramona —, a revelação não tem o peso emocional necessário. A explicação é apressada, e o terceiro ato escorrega no ritmo, como se o filme quisesse terminar antes de aprofundar o trauma que tanto insinuou.
O Rotten Tomatoes reflete bem esse equilíbrio instável: 42% de aprovação da crítica, com elogios à atmosfera e à protagonista, mas críticas duras à falta de impacto do roteiro. E é exatamente isso que senti saindo da sala: um filme bem dirigido, mas com pouca coragem narrativa.
Ainda assim, A Mulher no Jardim tem seus méritos. O trabalho de produção da Blumhouse continua competente, e a presença enigmática de Okwui Okpokwasili como a mulher é memorável — ela aparece pouco, mas carrega a tensão como uma figura saída de um pesadelo.
Se você busca sustos fáceis ou reviravoltas grandiosas, talvez este não seja o filme ideal. Mas se gosta de terror psicológico mais contido, onde o inimigo é silencioso e a dor é mais importante que o sangue, vale a sessão. Só não espere sair com todas as respostas. Porque, como Ramona aprende da pior forma, nem todo fantasma vem do lado de fora.
📌 A Mulher no Jardim (The Woman in the Yard) ⏱ Duração: 1h25 📅 Estreia: 8 de maio de 2025 🔞 Classificação indicativa: 14 anos 🎭 Gêneros: Terror, Suspense psicológico 🎬 Direção: Jaume Collet-Serra 🖋 Roteiro: Samuel Stefanak 🎟 Elenco: Danielle Deadwyler, Okwui Okpokwasili, Russell Hornsby 🍅 Rotten Tomatoes: 42% (crítica) — nota mista