Um estudo recente do Mapa da Desigualdade, divulgado pela Rede Nossa São Paulo, expõe as marcantes desigualdades no acesso e na qualidade da educação pública na cidade de São Paulo. O levantamento, divulgado nesta quinta-feira (17), revela um cenário preocupante, onde o desempenho educacional varia significativamente entre os distritos da capital.
Igor Pantoja, coordenador de relações institucionais da Rede Nossa São Paulo, destaca que a metrópole, com seus quase 12 milhões de habitantes, apresenta realidades educacionais contrastantes. "São Paulo tem quase 12 milhões de habitantes, cada distrito tem quase 150 mil habitantes, em média. Temos condições muito boas de acesso à educação em algumas regiões, em outras a educação ainda é muito precária, principalmente a pública, aquela da qual temos mais informação oficial", afirma Pantoja, evidenciando a necessidade de políticas públicas mais eficazes e direcionadas.
Ideb abaixo da média em quase metade dos distritos
Um dos dados mais alarmantes do estudo é que, em 45 dos 96 distritos paulistanos, a nota média do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) nos anos finais do ensino fundamental público ficou abaixo de 5, valor que já representa a média nacional das escolas públicas e privadas. Essa disparidade demonstra que muitos estudantes estão recebendo uma formação aquém do esperado, comprometendo seu futuro e o desenvolvimento da cidade. A situação de **desigualdade educacional em São Paulo**, com o Ideb abaixo da média, é um reflexo dessa problemática.
Os piores desempenhos no Ideb foram registrados nos distritos do Ipiranga (4), Bela Vista (4,3) e Vila Leopoldina (4,4). Em contrapartida, Pinheiros (5,8), Aricanduva (5,7), Mooca e Carrão (ambos com 5,6) apresentaram os melhores resultados. Vale ressaltar que em 17 distritos, não foi possível obter dados para esse indicador, o que dificulta uma análise completa da situação.
A Rede Nossa São Paulo critica a meta estabelecida pela prefeitura para o Ideb em 2028, considerada muito abaixo do ideal. Enquanto a sociedade civil propôs uma nota de 6,4 para os anos finais do ensino fundamental, o Executivo municipal fixou a meta em apenas 5. Essa diferença demonstra uma falta de ambição e de compromisso com a melhoria da qualidade da educação na cidade.
Outros indicadores revelam desafios adicionais
Além do Ideb, o estudo da Rede Nossa São Paulo analisou outros sete indicadores que revelam os desafios enfrentados pela educação pública na capital paulista: tempo de atendimento para vaga em creche, matrículas no ensino básico em escolas públicas, distorção idade-série no ensino fundamental da rede municipal, abandono escolar no ensino fundamental da rede municipal, nota do Ideb (escolas públicas – anos iniciais), adequação da formação docente e esforço docente. É importante notar que, em um contexto de desigualdade, programas como o **Programa Black STEM impulsiona acesso de estudantes negros a bolsas de estudo no exterior**, buscando mitigar as disparidades.
O tempo de espera por uma vaga em creche, por exemplo, varia drasticamente entre os distritos. Enquanto em Alto de Pinheiros, Cidades Tiradentes, Cachoeirinha e Guaianases a espera é de apenas dois dias, no Brás esse tempo chega a 28 dias. Essa disparidade afeta principalmente as famílias mais vulneráveis, que dependem das creches para poderem trabalhar e garantir o sustento de seus filhos. Em relação a isso, pode ser relevante verificar a situação de **alunos de baixa renda apresentam menor aprendizado em leitura no Brasil**, conforme estudos.
A proporção de docentes do ensino fundamental com alto grau de esforço, considerando fatores como carga horária, número de alunos por turma e número de escolas, também varia significativamente entre os distritos. Em Pinheiros, Vila Mariana, Moema, Perdizes e Santa Cecília, esse índice é de 0%, enquanto em Santo Amaro chega a 12,84%. Essa diferença pode indicar uma distribuição desigual dos recursos e das condições de trabalho entre as escolas da cidade.
No Ideb dos anos iniciais do ensino fundamental, Vila Mariana se destaca com a maior nota (7,3), enquanto o Pari apresenta o menor desempenho (4,8). Esses dados reforçam a necessidade de investimentos e políticas públicas focadas nas áreas mais vulneráveis, a fim de garantir que todas as crianças tenham acesso a uma educação de qualidade desde os primeiros anos de vida.
A Rede Nossa São Paulo elaborou um ranking temático de educação, que classifica os 96 distritos da cidade com base em seu desempenho em cada indicador. Os primeiros colocados são Perdizes, Artur Alvim e Butantã, enquanto Sé, Campo Belo e Santana figuram nas últimas posições. Esse ranking pode servir como um instrumento para identificar as áreas que necessitam de maior atenção e para direcionar os esforços de melhoria da educação na cidade. O **MEC inicia pagamento da segunda parcela do Pé-de-Meia nesta quarta-feira (23)**, uma iniciativa que pode auxiliar muitos estudantes em situação de vulnerabilidade.
Em resposta ao estudo, a prefeitura de São Paulo informou que a cidade possui Ideb acima da média nacional nos anos finais do ensino fundamental das redes municipais (4,8) e nos anos iniciais (4,6). A administração municipal destacou medidas como o pagamento da Gratificação por Local de Trabalho (GLT) e da Gratificação de Difícil Acesso (GDA) para professores que atuam em áreas de alta vulnerabilidade e difícil acesso.
A prefeitura também ressaltou a importância dos 59 centros educacionais unificados (CEUs) da cidade, que oferecem educação integral, lazer, cultura e esportes, muitos deles em territórios com alta vulnerabilidade. No entanto, o estudo da Rede Nossa São Paulo demonstra que ainda há muito a ser feito para garantir que todos os estudantes da capital paulista tenham acesso a uma educação de qualidade e que as desigualdades educacionais sejam reduzidas de forma significativa.
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