Dois estudos acadêmicos recentes sugerem que a Uber utiliza algoritmos de precificação que favorecem o aumento de seus lucros enquanto reduzem o pagamento aos motoristas. As pesquisas foram conduzidas por instituições de prestígio: a Universidade de Oxford, no Reino Unido, e a Columbia Business School, nos Estados Unidos.
Ambas analisaram milhões de viagens e apontaram efeitos financeiros diretos para trabalhadores da plataforma. O tema foi detalhado em reportagem publicada pelo jornal britânico The Guardian.
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Estudo da Columbia sugere “discriminação algorítmica”
O estudo norte-americano, realizado pela Columbia Business School, concluiu que o Uber aplicou uma “discriminação algorítmica de preços“, mecanismo que, segundo os pesquisadores, elevou as tarifas para passageiros e reduziu sistematicamente os pagamentos aos motoristas.
A análise se baseou em dados de dezenas de milhares de viagens e mais de 2 milhões de solicitações de corridas. O relatório destaca que essa prática teria ocorrido de forma seletiva e opaca, sem que motoristas e passageiros tivessem total clareza sobre o funcionamento dos algoritmos.
Len Sherman, autor do estudo da Columbia, explicou que a empresa aumentou sua taxa de retenção — o percentual da tarifa que permanece com o Uber — de 32% para mais de 42% ao longo de 2024, nos Estados Unidos. Segundo Sherman, o sistema de “preço antecipado” implantado pela plataforma nos EUA em 2022 foi central para essa mudança.
“O Uber aumentou os valores pagos pelos passageiros, reduziu os pagamentos aos motoristas e melhorou significativamente seu fluxo de caixa durante o período analisado,” afirma Sherman. Ele acrescenta que o algoritmo permite que a empresa identifique padrões de comportamento de motoristas e passageiros para ajustar os valores que cada parte está disposta a aceitar.
Estudo da Universidade de Oxford reforça os indícios
O relatório britânico, publicado na semana anterior, examinou 1,5 milhão de viagens realizadas no Reino Unido. Os pesquisadores concluíram que, desde 2023, quando o Uber implementou a precificação dinâmica no país, muitos motoristas passaram a ganhar substancialmente menos por hora.
Os dados apontam que, após a mudança no algoritmo, a taxa de retenção do Uber no Reino Unido subiu de 25% para 29%, alcançando mais de 50% em algumas viagens.
Os pesquisadores de Oxford sugerem que o novo modelo de precificação — que ajusta automaticamente tarifas e pagamentos com base na demanda — aumentou a participação do Uber nas corridas e reduziu proporcionalmente os ganhos dos motoristas.
Uber contesta os estudos
O Uber, em nota enviada ao The Guardian, negou as acusações e defendeu seus sistemas de precificação. A empresa afirmou que o modelo atual foi desenvolvido para oferecer transparência e equilíbrio, permitindo que os passageiros conheçam o valor da corrida antes da viagem e que os motoristas tomem decisões com base em informações completas sobre o pagamento, a distância e o tempo estimado.
De acordo com a empresa, os algoritmos de precificação dinâmica têm o objetivo de equilibrar oferta e demanda em tempo real, buscando garantir confiabilidade na plataforma, especialmente durante períodos de alta procura.
“O preço antecipado dá clareza ao passageiro e permite que o motorista decida com base em informações completas. Os preços não são personalizados — nossos algoritmos não utilizam dados pessoais para definir valores,” afirmou a empresa no comunicado.
O Uber também destacou que não reconhece os dados apresentados no relatório da Universidade de Oxford. A empresa classificou as insinuações de manipulação injusta ou discriminação como infundadas e não apoiadas por evidências.
Debate sobre algoritmos no transporte por aplicativo
Os estudos publicados por Oxford e Columbia se somam ao crescente debate global sobre o uso de algoritmos em plataformas digitais, especialmente no setor de transporte. Especialistas em regulação e economia têm questionado a transparência desses sistemas e os impactos diretos para trabalhadores e consumidores.
Até o momento, não há decisão judicial ou condenação formal contra o Uber relacionada ao conteúdo dos estudos. As conclusões permanecem no campo da pesquisa acadêmica e seguem sendo discutidas por estudiosos, entidades de defesa do consumidor e representantes das plataformas.
As informações completas sobre os estudos podem ser consultadas diretamente no The Guardian.