O prefeito de Natal, Paulinho Freire, não faz questão de disfarçar: seu palanque já está montado e tem nome, sobrenome e partido. Rogério Marinho, senador pelo PL, é o escolhido — e ninguém no União Brasil parece ter força suficiente para fazê-lo mudar de rota.
Paulinho não joga nas entrelinhas. Enquanto parte da oposição, liderada pelo ex-senador José Agripino Maia, tenta construir um discurso de unidade em torno da pré-candidatura de Allyson Bezerra, o prefeito da capital segue na contramão. Paulinho não apenas reforça seu compromisso com Rogério, como trabalha ativamente para ampliar o espaço do senador bolsonarista no Estado.
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Essa aliança não começou agora. Foi Rogério quem, em 2024, aportou estrutura, presença e todo o lastro do bolsonarismo no palanque de Paulinho na disputa pela Prefeitura de Natal. Rogério não apenas apoiou: vestiu a camisa, caminhou com o prefeito e ajudou a consolidar a vitória. O que se vê agora é Paulinho retribuindo — e honrando — o pacto.
E tem dito, abertamente: não abre mão de caminhar com Rogério Marinho, independentemente dos apelos pela unidade partidária. O recado é claro: Paulinho não aceita imposição, nem mesmo se vier da ala de José Agripino.
Agripino, por sua vez, tenta unir o que já parece fragmentado. O ex-senador defende abertamente o nome de Allyson Bezerra como o projeto viável da oposição para 2026. Chegou a declarar que a vitória depende de união — uma mensagem que soou como um gesto para pressionar Paulinho a rever seu alinhamento. Mas Paulinho nem sequer sinalizou recuo. Pelo contrário: intensificou os gestos.
Inclusive, em meio às articulações da oposição para definição dos candidatos majoritários em 2026, Rogério Marinho, Styvenson Valentim (PSDB) e Paulinho Freire se reuniram em Brasília nesta semana. Oficialmente, as assessorias dos políticos divulgaram que o encontro teve como pauta a liberação de emendas parlamentares para Natal. Mas no jogo político, encontros assim nunca são apenas sobre recursos. O tom da reunião ganhou ainda mais peso quando Styvenson publicou a foto e cravou: “Juntos e alinhados.”
A mensagem veio no momento em que a oposição se divide entre apoiar Rogério Marinho, nome defendido por Paulinho e Styvenson, e apostar no projeto de Allyson Bezerra, impulsionado pela ala de Agripino. Correndo por fora, aparece Álvaro Dias, que tenta construir um caminho no Republicanos.
O desconforto com a divisão apareceu de imediato. O deputado estadual Nelter Queiroz (PSDB), que apoia Allyson, comentou a publicação de Styvenson com um desabafo: “O alinhamento tem que ter a participação do povo, (que precisa) aceitar o candidato a governador. Eu vejo com tristeza essa provável divisão, que poderá acontecer com o grupo. (…) (Com) a divisão não vamos a lugar nenhum!”.
Enquanto isso, Allyson segue montando o seu tabuleiro. Recentemente, fortaleceu sua aliança com o deputado federal João Maia, presidente estadual do Progressistas — partido que vai federar com o União Brasil. Allyson nomeou Shirley Targino, esposa de João Maia e liderança do Progressistas Mulher no RN, para a Secretaria de Assistência Social de Mossoró. A nomeação foi tratada como avanço estratégico e sinal de que Allyson sabe ocupar espaços no jogo.
Paulinho, Rogério e Styvenson reagiram rápido: a foto publicada foi um recado público de que a aliança entre eles segue sólida. Não há mais espaço para dúvida. A fissura na oposição está escancarada. O discurso de unidade que Agripino tenta salvar parece cada vez mais um apelo solitário.
A verdade é que os caminhos já estão traçados. Allyson avança. Paulinho já escolheu seu lado. Rogério mantém o controle de sua ala. E Styvenson, que se equilibra como voz independente, já deixou claro para onde aponta a sua bússola.
O discurso de união segue nas entrevistas. Mas o jogo real já foi lançado no tabuleiro. E o preço da divisão pode custar caro.
A coluna Panorama segue atenta.