Jair Bolsonaro (PL) está inelegível desde 2023. É réu por tentativa de golpe de Estado. Já sofreu duas condenações no Tribunal Superior Eleitoral e enfrenta um processo criminal no Supremo Tribunal Federal. Mesmo assim, afirma que vai manter sua candidatura à presidência até o “último segundo”.
A fala foi dada na última quarta-feira (14), em entrevista ao UOL, numa tentativa de manter viva a narrativa eleitoral que sustenta sua base, mesmo diante de um cenário jurídico praticamente fechado.
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“Eu vou até o último segundo. Espero que não aconteça uma condenação, porque até pela minha idade, acabou. Mas gostaria que os governadores perguntassem: ‘O Bolsonaro está inelegível por quê?’”
A frase é uma cobrança indireta à direita institucional, que vem se reorganizando sem o ex-presidente no centro da equação. Ao citar Michel Temer como alguém que tenta articular a “unificação” do campo conservador, Bolsonaro reforça o que já se percebe nos bastidores: ele perdeu o controle da estratégia e tenta, agora, forçar protagonismo pelo discurso.
Em 2023, o TSE concluiu que Bolsonaro cometeu abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação ao reunir embaixadores no Palácio da Alvorada, em julho de 2022, para atacar o sistema eleitoral sem provas. Foi a primeira condenação à inelegibilidade por oito anos.
Na sequência, o tribunal o condenou novamente, desta vez pelo uso político do 7 de Setembro de 2022, quando transformou atos oficiais em palanque eleitoral. Com duas sentenças firmadas, Bolsonaro está fora do jogo até 2030 — a menos que consiga uma reviravolta judicial improvável no STF.
Réu por tentativa de golpe
O que agrava ainda mais o cenário é o processo criminal no Supremo. Bolsonaro é réu por tentativa de golpe de Estado. A ação engloba:
- elaboração de minuta golpista,
- mobilização de aliados militares,
- articulação de conselhos paralelos dentro do Planalto,
- e tentativa de invalidar o resultado eleitoral de 2022.
Ao comentar o processo, Bolsonaro diz apenas que é preciso “esperar a condenação”. É a mesma lógica de 2022, quando dizia que só Deus o tiraria do cargo. Agora, quem o tirou foi a Justiça Eleitoral — e a possível sentença penal ainda está por vir.
Tarcísio, reeleição e silêncio
Durante a entrevista, Bolsonaro foi questionado sobre a possibilidade de abrir mão da disputa e apoiar o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Fugiu da resposta.
“O que o Tarcísio tem dito publicamente: ‘Sou candidato à reeleição. Tenho uma dívida com o Bolsonaro’. Eu também tenho uma dívida com ele. Foi um ministro excepcional.”
Na prática, Tarcísio vem mantendo distância estratégica. Reitera que vai disputar a reeleição em São Paulo e evita se comprometer com o cenário nacional. A direita institucional observa.
Ninguém comprou a briga
O que chama atenção é que nenhum governador citado por Bolsonaro comprou publicamente sua causa. Nem Romeu Zema, nem Ronaldo Caiado, nem os bolsonaristas do Nordeste. Mesmo entre aliados históricos, não há mobilização real para reverter a inelegibilidade do ex-presidente. Apenas o senador potiguar Rogério Marinho compra a briga.
Ele segue falando como candidato. Mas, fora das redes sociais, o entorno político já se mexe para reorganizar o campo conservador com outros nomes, inclusive sem a chancela direta de Bolsonaro.
O próprio Michel Temer — citado como fiador de uma “união da direita” — trata o ex-presidente como parte de um passado que precisa ser superado para o campo da direita ganhar viabilidade institucional.
O discurso da resistência
A fala sobre “até o último segundo” é menos uma promessa eleitoral e mais uma forma de manter o discurso vivo entre seus apoiadores. A aposta é repetir a estratégia de 2022: se tornar o centro da narrativa, mesmo que sem respaldo legal para disputar.
Mas o risco é que essa insistência provoque mais isolamento do que adesão. Enquanto Bolsonaro repete que ainda é candidato, a estrutura institucional da direita avança para uma campanha que, na prática, ele não poderá liderar.
O tempo corre. Mas não a seu favor.