Kátia Pires caminha com Nilda ou costura seu próprio projeto político em Parnamirim?

Na política de Parnamirim, onde as peças mudam de lado com velocidade, quem sabe jogar permanece. E Kátia Pires, definitivamente, sabe jogar. O tempo, mais uma vez, dará as respostas.
Kátia Pires caminha com Nilda ou costura seu próprio projeto político em Parnamirim?
Kátia Pires e Nilda Cruz - Reprodução

A relação entre a prefeita Nilda Cruz e sua vice, Kátia Pires, pode parecer tranquila à primeira vista, com aparições públicas pontuais e trocas institucionais de praxe. Mas quem acompanha os bastidores da política de Parnamirim sabe que nem tudo parece tão alinhado quanto o protocolo sugere.

Kátia mantém portas abertas e, em alguns momentos, uma aproximação visível com influenciadores e blogueiros de grande alcance — justamente aqueles que, dia após dia, despejam munição pesada contra a gestão Nilda nas redes sociais. O detalhe é que essa proximidade, ainda que não explicitamente convertida em discurso político, desperta uma pergunta incômoda: estamos diante de um caso velado de fogo amigo?

Não há até aqui um conflito público entre as duas. Pelo contrário, Kátia e Nilda dividem agendas, como no aniversário da prefeita, quando a vice esteve presente e reforçou os gestos institucionais de apoio. Mas também é perceptível que o espaço político de Kátia parece seguir cada vez mais independente — e menos dialogado com a chefia do Executivo.

Se Kátia planeja ou não disputar a Prefeitura em 2028, ainda é cedo para cravar. Mas os movimentos de bastidor, as conexões que ela cultiva e as ausências calculadas em certas pautas de governo alimentam uma narrativa que, cedo ou tarde, deve ganhar corpo na opinião pública: até que ponto Kátia segue como aliada ou já desenha seu próprio projeto?

É legítimo que vice-prefeitos tenham projetos próprios. É da política. O que chama atenção no caso de Parnamirim é o silêncio estratégico. Kátia não sai em defesa de Nilda quando a prefeita vira alvo nas redes — especialmente nos espaços que orbitam os mesmos blogueiros com os quais a vice mantém relação frequente. Isso não é prova de ruptura, mas é, no mínimo, um sinal de distanciamento.

A história recente da política potiguar conhece bem as cicatrizes que um fogo amigo pode deixar. O desafio, agora, é entender se a distância que vai se desenhando entre Nilda e Kátia é apenas tática ou já é estrutural.

Por enquanto, não há rompimento declarado, não há disputa aberta, mas há sinais. E no jogo político, os sinais muitas vezes falam mais alto do que os discursos oficiais.

A trajetória de Kátia em Parnamirim é ainda mais complexa. Ela não apenas integrou a gestão anterior, comandada por Rosano Taveira — a mesma que hoje é criticada duramente por Nilda por seus desmandos. Kátia, à época, foi beneficiada pelo governo que ajudou a eleger e dividiu palanque com Taveira. Quando viu que não teria o apoio necessário para se consolidar como cabeça de chapa naquela estrutura, reavaliou seus passos e, só após o esvaziamento do seu projeto político próprio, aceitou compor com a principal opositora daquele grupo: Nilda Cruz.

O que se desenha, portanto, não é apenas uma questão de harmonia ou distanciamento institucional. É a evidência de que Kátia conhece o jogo político da cidade, sabe como se movimentar e, sobretudo, como se preservar quando necessário. Kátia estava lá. Esteve durante todos os quatro anos do governo anterior. Viveu de dentro o projeto que hoje é combatido.

A vice-prefeita também mantém como um de seus maiores aliados o ex-senador José Agripino Maia, um dos caciques mais tradicionais da política potiguar. Enquanto isso, Nilda tem buscado ampliar seus apoios com a governadora Fátima Bezerra e com lideranças partidárias de diferentes campos ideológicos, focando exclusivamente nas entregas para Parnamirim. Foi assim, por exemplo, com a inclusão da via que leva à Japecanga no projeto de reestruturação das rodovias estaduais e na busca por soluções para o grave problema de alagamento que há anos aflige os moradores do Parque das Árvores, no entorno da Avenida Olavo Lacerda Montenegro.

Nessas agendas estaduais, Kátia se ausenta. Talvez para preservar seus espaços junto à direita conservadora, talvez por estratégia eleitoral. Fato é que Nilda chegou a sofrer ataques após divulgar reuniões com a governadora, mesmo quando as parcerias renderam frutos concretos para a cidade. E mais uma vez, Kátia preferiu o silêncio — nem para criticar, nem para defender.

Esse silêncio — sempre ele —, combinado ao trânsito que Kátia mantém com influenciadores de oposição e às ausências cuidadosamente escolhidas, reforça a dúvida: Kátia Pires segue como uma vice de composição ou já articula seu próprio futuro político à parte da prefeita?

Na política de Parnamirim, onde as peças mudam de lado com velocidade, quem sabe jogar permanece. E Kátia Pires, definitivamente, sabe jogar. O tempo, mais uma vez, dará as respostas.

A coluna Panorama segue atenta.

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