Com o calendário interno em marcha, o Partido dos Trabalhadores no Rio Grande do Norte caminha para um dos Processos de Eleição Direta (PED) mais polarizados dos últimos tempos. Estão oficialmente no páreo quatro nomes: Isolda Dantas, Samanda Alves e Divaneide Basílio. A eleição está marcada para 6 de julho de 2025, com votação das 9h às 17h em todo o estado — apenas os filiados até 28 de fevereiro deste ano podem votar.
O que está em jogo vai além da presidência formal da sigla. A disputa escancara a reorganização interna do PT potiguar em meio à aproximação das eleições de 2026. A governadora Fátima Bezerra, liderança máxima do partido no estado, deve deixar o cargo em abril para concorrer ao Senado, e o controle político do PT será estratégico para montagem das chapas e alianças que se formarão em torno da sua sucessão. O comando da sigla, portanto, é também o controle da máquina de mobilização que será fundamental nos próximos dois anos.
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Isolda Dantas, deputada estadual e a mulher mais votada da história da Assembleia Legislativa (com 57.046 votos em 2022), tem base consolidada na Democracia Socialista (DS) e já foi presidenta do PT em Mossoró.
Samanda Alves, vice-presidenta do PT Natal e 1ª suplente de deputada federal, é do grupo Avante, liderado politicamente por Fátima e o deputado Francisco do PT. Ambas fazem parte da ala governista do partido, mas a disputa entre elas não é meramente estética — representa uma sutil, porém significativa, divisão sobre os rumos da legenda: institucionalização ou mobilização de base.
A terceira candidatura é a da deputada federal Divaneide Basílio, que representa um agrupamento alinhado com os mandatos de Fernando Mineiro e Natália Bonavides. A entrada de Divaneide explicita a intenção de ampliar a influência da bancada federal sobre a direção partidária estadual, com forte apelo aos setores urbanos, periféricos e de juventude. Seu campo é, portanto, o da renovação ideológica do partido, mas com capital político mais recente e concentrado.
Divisão real, reflexo de 2026
A disputa, que poderia ser apaziguada nos bastidores, acabou se tornando inevitável após o avanço de tensões entre as principais lideranças do partido sobre as alianças para 2026. A matéria publicada aqui no Portal N10, revelando que o PT quer chapa com Zenaide em 2026, mas exige que ela rompa com Allyson Bezerra já havia antecipado que o grupo de Fátima Bezerra tentaria fechar posição em torno da candidatura de Carlos Eduardo Xavier (Cadu) ao Governo do Estado, e isso tem gerado atritos internos.
Zenaide Maia, senadora do PSD, é cobiçada por petistas para compor a chapa ao Senado, mas enfrenta resistências internas por sua aliança com o prefeito de Mossoró, Allyson Bezerra (União Brasil), pré-candidato ao governo pela direita. O grupo de Divaneide e Natália Bonavides defende um alinhamento mais rígido à esquerda, enquanto o grupo de Samanda e Isolda busca manter a governabilidade e o diálogo com o centro.
Nesse contexto, a disputa pela presidência do PT é, na prática, um plebiscito interno sobre o perfil que o partido quer assumir em 2026: ampliação de alianças ou reafirmação de princípios? Conciliação ou mobilização? Disputa de massas ou unidade institucional?
Cenário e prognóstico
O resultado da eleição de julho pode determinar o tom da campanha estadual petista no ano que vem. A vitória de Isolda ou Samanda manterá a sigla sob influência direta do núcleo da governadora Fátima Bezerra. Se Divaneide vencer, haverá uma inflexão à esquerda crítica e talvez um embate mais direto com setores que hoje ocupam cargos no Governo do Estado.
O PT potiguar, após duas vitórias consecutivas no Executivo estadual, chega a esse momento com uma base consolidada, mas dividido internamente. A forma como lidará com essa divisão definirá o fôlego com que chegará a 2026.
