Fátima diz sim a Zenaide, mas fecha a porta para Allyson

A fala em Mossoró não foi só uma declaração de apoio a Cadu Xavier. Foi um ato público da linha que Fátima Bezerra está disposta a traçar para 2026.
Fátima diz sim a Zenaide, mas fecha a porta para Allyson
Zenaide Maia e Fátima Bezerra

Fátima Bezerra sabe onde pisa — e onde não quer pisar de jeito nenhum. Durante agenda em Mossoró, a governadora do Rio Grande do Norte tratou de encerrar qualquer especulação sobre uma aliança com o prefeito Allyson Bezerra (União Brasil) nas eleições de 2026. Em vez disso, reafirmou seu compromisso com o nome de Carlos Eduardo Xavier, o “Cadu”, atual secretário da Fazenda, como pré-candidato do PT ao Governo do Estado.

O nosso caminho já está traçado”, cravou a governadora, deixando claro que não há espaço para composições com o prefeito mossoroense, mesmo que isso signifique contrariar aliados nacionais.

A fala teve como alvo direto os rumores de que a senadora Zenaide Maia (PSD) estaria articulando uma costura improvável: uma chapa com Allyson para o governo, Zenaide e Fátima para o Senado. A governadora não apenas negou a possibilidade, como reforçou publicamente que o nome do PT para o Executivo estadual já está escolhido — e é Cadu.

PT e PSD: entre a aliança nacional e os atritos locais

Apesar de rechaçar qualquer acordo com Allyson Bezerra, Fátima não descartou a presença do PSD de Zenaide em sua aliança estadual. Pelo contrário: defendeu a manutenção do bloco com a senadora, desde que ela permaneça no campo progressista, longe do projeto de poder do prefeito de Mossoró.

“O mais natural seria o PSD estar aqui neste campo, o campo progressista, o campo de perfil democrático popular, o campo de uma aliança de centro-esquerda”, afirmou.

O recado é claro: Zenaide é bem-vinda, mas Allyson não entra no palanque governista.

A governadora aproveitou ainda para exaltar Carlos Eduardo Xavier, apontando-o como um nome em ascensão dentro do partido e com legitimidade para encabeçar o projeto estadual:

Ele conhece muito bem o Estado. Está muito vocacionado, muito preparado para fazer esse debate. E eu não tenho nenhuma dúvida que Cadu é muito preparado para assumir uma função tão honrosa quanto essa que é de ser o gestor maior do Estado do Rio Grande do Norte.”

O rompimento silencioso em São Gonçalo

A fala pública de Fátima não acontece no vácuo. Ela é uma resposta direta a um acúmulo de ruídos entre PT e PSD, que ganharam forma e tensão em São Gonçalo do Amarante, nas eleições municipais de 2024.

Aliados históricos desde 2018, Fátima e Zenaide romperam o alinhamento político durante a disputa pela prefeitura da quarta maior cidade do estado. O embate foi entre Eraldo Paiva (PT), apoiado por Fátima, e Jaime Calado (PSD) — esposo de Zenaide e ex-secretário de Desenvolvimento Econômico do próprio governo estadual.

Calado venceu a disputa, mas a campanha foi dura, radicalizada e com consequências políticas ainda mal resolvidas. A aliança foi quebrada ali — e o que restou foi um silêncio constrangedor seguido de reaproximações seletivas. O movimento de Zenaide em direção a Allyson Bezerra é visto dentro do PT como um gesto de afastamento definitivo.

Allyson como divisor de águas

Mais do que uma disputa por nomes, o que está em jogo é a definição dos campos políticos para 2026. Fátima quer manter a hegemonia do campo progressista com um nome da confiança do PT. Já Zenaide, ao se aproximar de Allyson Bezerra — atual adversário direto do governo estadual — sinaliza disposição para um novo arranjo de forças.

O problema, para Fátima, não é Zenaide. É Allyson.

Ao defender a permanência da senadora na aliança e, ao mesmo tempo, impor veto explícito a qualquer projeto que envolva o prefeito de Mossoró, a governadora lança um desafio político à senadora: ou permanece com o PT e Lula, ou se une à direita potiguar em nome de um projeto estadual alternativo.

Não por acaso, Fátima mencionou o alinhamento nacional como justificativa para manter a ponte com o PSD:

Há expectativa no plano nacional que o PSD possa estar junto conosco aqui, já que a senadora Zenaide é vice-líder do governo do presidente Lula.”

A fala em Mossoró não foi só uma declaração de apoio a Cadu Xavier. Foi um ato público da linha que Fátima Bezerra está disposta a traçar para 2026. Zenaide pode até atravessá-la, mas o caminho da governadora — como ela mesma disse — já está definido.

O campo progressista tem pré-candidato. E ele não atende por Allyson.

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